Verde IV

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TOLERÂNCIA

Voltar a nossa cidade natal após um longo período fora é uma experiência fantástica. Os ares daquele local tão familiar aos olhos e ao coração nos preenchem por inteiro com as lembranças de um tempo que já se foi, mas que ainda permanece vivo na memória e que se intensifica a cada retorno. Passear pelas ruas, pelas praças... Ver rostos conhecidos, outros novos... Ver o progresso e ter o pé na nostalgia. Uma experiência quase tão boa quanto o próprio ato de viajar. Ian, ao chegar à rodoviária de Porto Alegre, capital do RS, sentiu-se exatamente assim: Aprendera muito em sua estadia em Nova Petrópolis, ainda sim continuava a ser ele mesmo no fim das contas.

Descera do ônibus após oito pessoas, vendo Clara, sua mãe, feliz da vida a aguardá-lo ao lado dos primos Micael, Levi, Luan e Andreas, com expressão de felicidade nítida em seus rostos.

— FILHOTEEEEE! – Exclamou a mulher – Até que enfim veio pra cá! Achava que a Isa e o meu irmão tinham te sequestrado pra sempre!

— Que isso, mãe! – O rapaz riu, dando um beijo na bochecha da mãe – Eu tô lá estudando. Quando dá, eu venho aqui. Sempre fiz isso.

— É... Mas pro coração de uma mãe, um filho sair de casa representa muito. Acaba com a gente.

— Só mais um tempo, dona Clara. Só mais um tempo.

— E a gente não ganha abraço não ?! – Contestou Mica.

O outro riu, desfazendo-se do abraço materno e indo em direção aos primos. Todos se abraçaram em circulo, com Ian ao meio. Sentia-se tão amado, gostava dessa sensação boa de ter quem tanto queria bem ao seu lado. Era uma pena não estarem todos juntos... Havia alguém que não estava ali...

— Estávamos sentindo tua falta, velho – Mica tornou a falar, tirando o outro das nuvens.

— E tem como não sentir? Sou f*da demais gente – Gabou-se, arrancando risos dos presentes – Brincadeira gurizada. Também tava com o coração apertado de saudades.

— O importante é que tu tá aqui agora – Drê, o mais velho dos primos, comentou sorrindo – Pro resto, o dilúvio.

— Alguém me explica o que é essa expressão "O dilúvio"? Nunca ouvi isso na vida – Luan solicitou.

— É a mesma coisa que "F*da-se" só que mais poético.

— Valeu aí! Tava meio perdido ultimamente quando tu falava isso.

Todos riram.

— Vamos logo, galerinha! Eu deixei tudo no fogo lá em casa! – Chamou Clara – Se depender do meu querido marido, o arroz vira uma crosta da Terra.

— Tadinho do tio Sérgio, tia! – Mica ria do comentário.

— Só estou ressaltando os fatos – Mostrou a língua – Ele é péssimo cozinheiro. Sabiam que teve uma vez, quando estávamos na praia...

Clara continuou seu relato enquanto todos iam em direção ao carro, estacionado há alguns metros da rodoviária. Depois de entrarem no veículo e darem partida, demoraram alguns minutos para chegarem ao prédio onde moravam quase todos os primos, com exceção de Levi, Luan e Daniel... Esse último, aliás, não saíra da memória de Ian por nada no mundo. Só queria estar com ele ali, naquele momento, anunciando aos demais que o coração do rapaz era seu por completo. Era utópico pensar naquilo, todavia o beijo não saciou basicamente nada de seu desejo pelo primo, e através disso, acreditava que as teorias de que não era amor verdadeiro o que sentia pelo mais novo e sim um fogo ardente, caíam por terra.

Chegaram em casa eram 11h44min. De fato, como afirmado por sua mulher, Sérgio havia esquecido do arroz. A sorte de todos é que o mesmo não havia torrado, podendo assim ter uma refeição animada. Clara e o marido não escondiam a felicidade em ver a maioria dos primos de seu filho ali, reunidos e felizes, mostrando o laço forte que os unia. Isso os fazia felizes, e se os pais de todos ali estivessem, certamente concordariam. Almoçaram cantando, contando anedotas, trocando algumas farpas, aprontando... Uma verdadeira refeição em família.

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