Laranja II

2 0 0
                                    

INTOLERÂNCIA

Quantas vezes na vida você já teve de encarar situações embaraçosas? Bom, espero que não muitas já que isso é deveras... Embaraçoso. Pois é, nem em seu pior pesadelo, Daniel imaginava que ia passar um vexame tão grande quanto naquela quinta feira.

Assim que deixou Ian na cozinha, foi para seu quarto. O local estava um verdadeiro pandemônio. Suspirou e admitiu que era hora de começar a organizar tudo para parecer pelo menos que era um local onde dormia alguém civilizado. Começou a organização, achou coisas que há muito não se lembrava da existência.

Achou por exemplo seu boletim da oitava série, a cueca da sorte que um cachorro que tivera destroçou e ele "guardou", um livro da biblioteca que leu no primeiro ano mas mentiu ter perdido para ficar com o livro, e até uma foto. De todos as coisas que ele encontrou essa certamente fora o que mais mexeu consigo. Era uma foto de quando Dan estava no último ano do ensino fundamental e jogava no time de futsal da escola. Naquele ano seu time havia sido campeão graças a um gol dele, e na foto Ian estava junto dele e o resto do time com a taça na mão. Lembrou-se que foi o primo quem lhe motivou a jogar naquele dia.

— Nunca gostei de futsal. Só joguei porque era a nota do terceiro trimestre — Comentou ele na véspera do jogo. Estava entretido lendo uma HQ de uma marca famosa.

Naquela época Ian não morava com eles, estava ali como visita junto de seus pais. Conseguiram folga para prestigiar o sobrinho na final.

— É essa tua desculpa pra arregar? — Ian perguntou debochado.

— F*da-se o que vão pensar. Não quero jogar.

— Cara, a vida não é só feita de coisas que a gente curte. Vai ter muita m*rda que tu vai ter que fazer e ficar quieto. As coisas são assim.

— Mas algumas coisas são evitáveis. Como esse jogo por exemplo.

— Afinal tu tá com medo do que?

— Quem disse que to com medo?!

— Tu tá com medo. Olha tua cara!

— Vai pra p*rra Ian.

— Velho, tudo bem se tu tá te sentindo inseguro. É normal.

— Eu não to me sentindo inseguro c*r*lho!

Alguns minutos de silêncio e Ian se manifestou.

— Tá tão óbvio quanto à luz do dia que tu tá inseguro.

Dan suspirou.

— Que seja. Odeio esportes.

O mais velho sentou ao seu lado e puxou pra perto.

— Tu vai fazer o gol da vitória – Disse firme.

— Fumou maconha?— Dan riu.

— É sério. Eu sei que tu vai fazer o gol da vitória.

— Não sabia que tu era vidente.

Ian olhou bem fundo nos olhos do mais novo, fazendo-o sentir calafrios.

— Não é que eu seja vidente. É que eu confio em ti. Tu consegue.

Dan sentiu a força daquelas palavras que ecoavam em sua mente.

— Valeu a força cara. De verdade.

— Sempre estamos ai primo.

Dito e feito. Na noite seguinte lá estavam os dois comemorando a vitória. O garoto sorriu ao lembrar daquilo. Estaria ele sendo intolerante demais? Já tinha aceitado a namorada trans (Em partes), podia deixar passar esse deslize do primo não? Afinal, Ian é família. E família está sempre junto.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora