Coral II

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FORÇA DE VIVER

Conforme o tempo vai passando e as experiências surpreendem ao trazer a monótona rotina um ar de novidade intragável, muito vamos aprendendo. Criamos força para perdoar, comemorar, chorar, amar e todo o leque de possibilidades sentimentais que se abrem a cada ousadia. De início, recuamos, tentamos ir por onde a neblina da vida não atrapalha. Só que, no fim, acabamos sempre cedendo à curiosidade. E se tinha uma característica que definia Sabine bem era essa.

Desde quando sua mente era capaz de lembrar o novo era um imã pessoal. Queria sempre ir atrás de coisas das quais não entendia nada, tanto que, lembrava-se de quando encontrou um ossinho de um coelho que tivera e faleceu enterrado no quintal de sua antiga casa e associado a unha de um Tiranossauro Rex. Passou dias acreditando na farsa até que, após tanto insistir, a mãe lhe confessou a verdade. Ficou chateada, claro, mas não durou meia hora. Logo o mistério da meia que sumiu da máquina a atraiu.

Assistindo aquilo de fora enquanto divagava, parecia tão simples a maneira de se ver a vida. Até mesmo a forma como tudo se resolvia era mais fácil. De repente, tudo cresceu, e nada mais se tornou um divertimento. Sentimentos foram tomando lugar da inocência infantil, vontades fizeram as bonecas se aposentarem e a lupa companheira começou a fuxicar onde não devia. A brincadeira perdeu todas as cores. Como proceder diante disso?

Dançando com Jeff, perdeu-se em tudo o que vinha construindo até então. Viu apenas uma luz, o próprio rapaz com quem estava começando a estreitar os laços. Ademais, um breu tão estranho que ao mesmo tempo a assustava e provocava um ponto de interrogação enorme dentro de si sobre onde foi que havia perdido a curva da vida e seguiu reto pelo desconhecido. Seria natural caso este desconhecido fosse um terreno infértil, sem nada a oferecer, cuja insistência em semear algo só fazia a terra ter mais asco do que vontade de fazer aquela semente germinar. A semente era o amor de Al e Dan; já a terra, todo o lamaçal criado por ela e seu senso de justiça.

No instante em que se deu conta disso, parou a dança. O parceiro a encarou com certa surpresa, afinal nada havia dado errado. Questionou-a se passava bem, e, de forma sincera, respondeu a verdade: Não. As dúvidas começaram a brotar como água vertendo do solo, tanto internas quanto as feitas pelo rapaz. Sem ter condições de respondê-las, pediu que ele se calasse e a ajudasse a encontrar Alisson e Daniel pois precisava conversar com eles. Era inevitável que brotasse em Jeff uma aflição de vê-la mudar de humor tão rápido, e só aceitou para não criar caso.

Encontraram os rapazes um ao lado do outro. Enquanto Dan estava deitado sobre a mesa, Alisson tentava encontrar uma pose decente para fazer uma foto do não mais só amigo a fim de postar nas redes sociais. Ao chamar por eles, o olhar de ambos se voltou a sua pessoa e a de Jeff, parado a seu lado. Engoliu seco antes de começar a falar, uma vez que não se sentia confortável naquela posição vulnerável, ainda que nenhum dos presentes soubesse ou entendesse a situação. O jeito foi comer pelas beiradas para não acabar se queimando a troco de nada.

— Bom, guris, na verdade eu só queria saber se tá tudo bem entre a gente...

Al e Dan se entreolharam antes de voltar o olhar para ela de novo.

— Não entendi — Dan confessou.

— Para surpresa geral da nação, nem eu — Al complementou — Teria algum motivo para não estar tudo bem?

— Ah, vocês sabem... Os últimos tempos têm sido estranhos para todos nós. A gente às vezes se excede, fala alguma coisa da qual não tem muita certeza... Enfim, problemas que só acontecem quando a gente não pensa direito o que tá fazendo.

— Desculpa, Bine, mas não tô entendendo qual é a desse teu papo — Dan voltou a falar — Tu tá falando do quê? Daquele dia no trote da troca de roupas é isso?

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora