Rosa Claro II

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DELICADO

Medo é um sentimento natural do ser humano. Ao nascermos, o primeiro sentimento com o qual nos deparamos é este. Os mistérios do mundo, conhecer um ambiente desconhecido e sem a certeza do que nos aguarda nos traz uma inquietude que perdura até que tudo se torne natural, a rotina vá sendo construída. Este fato, porém, não o torna algo previsível. A vida, neste sentido, tem um papel fundamental: o de desacomodar, trazer situações novas capazes de exorcizar a zona de conforto e trazer alguma reflexão por trás. De todas as formas que Alisson gostaria que a dita cuja tivesse feito, aquela nem de longe era a ideal.

Com ambos nús agarrados no chuveiro e a porta do banheiro aberta, a voz de Marisa ecoar pela casa não podia representar boa coisa. Encararam-se em choque, tentando pensar em qual decisão poderiam tomar. Dan, mais agitado, quase falou em alto e bom som um 'f*deu!', mas foi impedido. Marisa chegou a questionar se estava tudo bem, e Al concordou sem muita convicção. O mais velho tentava pôr seus neurônios para compor uma solução rápida e simples ao problema pesado e complicado. A única que veio à cabeça, num lapso de questão de segundos, foi o de fechar a porta e, a partir daí tentar achar uma solução.

Deixou Dan parado embaixo da água corrente e ordenou que mantivesse sua boca bem fechada enquanto fazia o que deveria ser feito. O menor concordou, ainda sem reação. Nem nos piores pesadelos imaginava uma cena daquelas, onde se agarrava com um garoto no banho e poderia ser flagrado a qualquer momento. Não teve dúvidas de que o fetiche de ser pego no ato só podia ser agradável nas telinhas, pois na vida real, cada músculo de seu corpo se contraia de pânico. Viu o maior sair do box em direção a saída foi um suspiro de esperança do episódio passar em brancas nuvens.

Para o imenso desgosto, porém, não foi o que se deu. Quando Al pôs a mão na porta, Edu, seu padrasto, passou pela porta e deu dois passos para trás ao se dar conta do que seus olhos viam. Os meninos perderam a cor, sequer sabiam o que fazer diante de algo tão improvável. O namorado de Marisa, além de piscar inúmeras vezes, engolia seco cada vez que tinha mais certeza. Temendo que a mãe também lhe visse, ordenou que o homem mantivesse segredo até poderem se explicar com mais calma. Sem outras opções, o outro apenas balançou a cabeça em sinal positivo e aguardou a porta se fechar por completo, mesmo que sua mente tivesse explodido neurônio por neurônio.

Marisa apareceu quase de forma simultânea na subida da escada, e, ao ver Edu estagnado em frente a porta do banheiro, não dormiu com a dúvida.

— Precisava usar o banheiro? Mas tem o do quarto — disse enquanto se aproximava.

— Não, não! Só tava lembrando que esqueci a carteira no carro — inventou uma desculpa qualquer apenas para sair pela tangente, já tomando rumo e indo em direção ao andar de baixo para tomar um gole d'água.

Ainda que estranhasse a expressão de quem presenciou um assassinato em seu rosto, a mulher deixou que fosse. Pensou que fosse apenas algum mal estar, afinal de contas o namorado estava bem minutos antes.

Ao passar pelo banheiro, e notando o chuveiro ligado, aproveitou para dar um alerta ao filho.

— Que bom que tu notou a necessidade de um banho, porque a coisa tá feia, hein?! Outra coisa, tu trata de limpar esse teu quarto ou senão o caminhão de lixo amanhã vai se entreter com as tuas coisas, tá ouvindo?!

Tanto Al quanto Dan não resistiram à risada. Fizeram-lhe baixo, afinal o mínimo ruído poderia pôr tudo a perder. Ao afirmar à mãe que daria um jeito assim que terminasse o banho, tranquilizando o coração materno. O outro, claro, não segurou a ironia, reafirmando a razão que tinha ao mandá-lo tomar banho. A única reação de Alisson no momento, além de rir, foi mandá-lo de novo fechar o bico enquanto retornava ao box.

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