Amarelo VI

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FELICIDADE

Nem sempre conseguimos nos livrar da encrenca vindo em nossa direção, entranhada na brisa suave da vinda, sempre em atividade. Algumas ainda com acréscimo de fazer repensar todas as escolhas feitas até ali. Eram os casos de Alisson e Daniel, atrelados a suas mães por conta da entrega de boletins.

A questão nem passava tanto pelo fato das notas serem um desastre, pois, felizmente, a maior encrenca sempre foi com Elis, e, mesmo assim, na maior parte do tempo por razões comportamentais. Desconheciam ganhar conceito máximo de qualitativo, ou seja, atribuição de nota por sua postura enquanto estudante. O problema era, em razão disso, darem aos demais professores as armas perfeitas para usarem na primeira oportunidade. Aquela, sem dúvida, era uma delas.

Paralelo a isso, Marisa e Isabel faziam questão de se fazerem presentes, ainda que Alisson, sendo maior de idade, pudesse fazê-lo sozinho. A justificativa era simples: o menino ainda morava sob seu teto e por isso tinha de estar sempre em dia com suas tarefas. Dan, ainda menor de idade, não tinha direito a escolher. Precisava de um responsável e sua mãe sempre tinha disponibilidade.

Ambas ficaram uma atrás da outra na fila, conversando com os filhos para saber como ia a vida nova, se ainda estavam tendo problemas de convivência com os demais... Alisson, sabendo ter a orelha arrancada se aprontasse alguma, guardou a sete chaves o episódio da provocação a Arthur, ao passo que Daniel fazia o mesmo, percebendo a jogada do ficante.

Tudo ia fluindo bem, até que, para a surpresa dos presentes, o pai de Arthur e o próprio pararam atrás delas. O homem, com seu óculos escuros e rosto de quem acompanha um velório, nada disse. Tampouco o filho, cabisbaixo na tentativa desesperada de não ter contato visual com os rapazes. Sabia que eles não teriam pudores em fazer comentários só para tirá-lo do sério.

Na realidade, os meninos sequer abriram a boca. Suas mães trataram de puxar assunto antes mesmo que eles tivessem a chance. O trabalho foi iniciado por Marisa.

— Impressionante como essa escola tem moscas varejeiras, né? Credo! Um lugar feito para as crianças estudarem deixar isso acontecer é, no mínimo, um desrespeito!

Entendendo o recado, e vendo que as mulheres queriam puxar discussão uma segunda vez, respirou fundo, dirigindo a palavra a elas tentando manter o máximo de cordialidade a qual sua paciência permitia. Tarefa complexa, uma vez que seus brios estremeciam quando percebiam a pose a qual julgava um exagero delas por seus filhos desajustados.

— Vim para buscar o boletim do meu filho, não para fazer escândalos e barracos — limitou-se a dizer.

— Se não quisesse isso , resolvia a malcriação do teu filho em casa, não levando nossos filhos aos tribunais — Isabel se intrometeu.

— Deus, essa história de novo — revirou os olhos — Já que estão tão preocupadas, vou dar um motivo para respirar aliviadas. Tendo o Arthur provocado tudo e aquilo ter sido só uma reação, como ele mesmo me contou, não vou mais levar nada à justiça. Seu rico salário vai poder respirar de novo.

— Quer um balão? — debochou a mãe de Al.

— Só repito que deveriam fazer o mesmo com seus filhos estão indo no caminho certo para serem dois marginais, membro dessa geração 'mimimi' que acha que pode tudo.

O quarteto não conseguia acreditar naquelas palavras tão sem sentido saindo da boca de um homem o qual, consideravam, tinha modos finos, tentava a todo custo manter a boa pose de empresário, mas cujas frases não tinha coesão alguma com suas ações. Pareciam mais um amontoado de palavras unidos por ocasião do destino, sem propósito de passarem uma informação decente.

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