Roxo VII

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VIOLÊNCIA

Não era de total espanto que um contratempo daqueles pudesse acontecer depois de tanto tempo sob suspeitas de Alisson e Daniel terem um relacionamento amoroso. Na realidade, contavam com isso, principalmente o mais velho, sempre visto com belas moças a seu lado, e agora dava a chance a um rapaz com gênio tão difícil quanto Dan. O problema se dava justamente em não aceitar aquilo por nada no mundo.

De certo modo, entendia ser um recado da vida por todas as vezes nas quais apontou o dedo a Gil, pelo constrangimento feito a ele e Ian no flagra, e tantas outras as quais sequer lembrava (e nem queria!). Porém, não tinha vocação para mocinho indefeso e submisso. O sangue percorria suas veias de forma voraz, pulsando cada centímetro de seu corpo semi atlético. Tinha humildade, sim, em reconhecer seus erros e tentar consertá-los da melhor forma. Isso não significava que aguentaria uma provocação daquelas por complexo de culpa.

Dan não encarava de forma tão diferente. Sabia que seus atos quanto a sexualidade alheia jamais foram os melhores, principalmente com relação a Ian, até mesmo com Alisson antes de si mesmo aceitar que o amava. Distinguiam, entretanto, na forma como digeriam. Não era fácil virar a chacota da escola por conta de algo o qual sequer entendia como aconteceu. Ver sua intimidade na boca de colegas e não se achar nem no direito de revidar foi pior do que se lhe dessem um soco aleatório no meio da rua. Nada falava, apenas escutando como os envolvidos na briga seriam punidos.

Rebecca chamou-lhes tão logo conseguiu organizar alguns assuntos da escola que necessitavam urgência. Questionados por qual razão estava ali, Al e Dan justificaram terem o direito de ouvir da boca do encrenqueiro o que tinham dito pelas suas costas. A moça, no primeiro momento, nada entendeu, até que Adrian explicou sobre ter ido beber água e ouviu o menino sentado ao lado debochando e fazendo troça de seus amigos, tentando resolver tudo na boa, com diálogo e explicações. Porém, o tal sujeitinho, nas palavras dele, quis dar uma de espertalhão e acabou começando a briga.

— Acho que não preciso dizer o quão infantil essa atitude foi, não é mesmo? Mas, se quiserem, posso até desenhar se ficar mais fácil. É inadmissível alunos dos terceiros anos do médio agirem pior do que os que estão no primeiro ano do fundamental! Nem nossas crianças fazem esse tipo de coisa e vocês, meninos bonitos e sadios, começam a fazer arruaça dentro da escola!

— Quem manda esses dois boiolinhas ficaram todos cheios de frufrus pra cá e pra lá?! — o incitante da briga tentava argumentar — A escola inteira percebeu os dois pombinhos dançando juntos nos trotes do terceirão. Não inventei nada!

— Ah, seu— Al fez menção em ir para cima, porém foi impedido por Mandy e Dan, além de uma exclamação de Rebecca.

— E por causa disso tu se achou no direito de aumentar um ponto, como bom fofoqueiro?

— Não sou fofoqueiro! — de novo, o agressor se alterou.

— E como chama alguém que fala da vida alheia? — revidou a supervisora.

— Mas—

— Ouçam aqui, todos vocês — interrompeu o menino enquanto ia tentar de novo se defender — Ainda vivemos em uma sociedade civilizada e organizada. Não há um só assunto no mundo que não possa ser discutido de forma saudável, através de conversas e explanações. Portanto, atitudes assim não podem nem devem ser toleradas, mas, considerando o bom histórico do jovem Adrian, jogador do time da escola e aluno impecável, vou considerar isto como um... digamos... erro de cálculo. Até para não te prejudicar justamente na reta final dos torneios da escola. Mas não se enganem! A próxima suspendo sem dó nem piedade!

— E eu?! — o menino não entendia.

— Não quero mais ouvir um só comentário vindo do senhor relativo a qualquer pessoa desta escola. Estamos entendidos? Podem voltar para suas salas, exceto Alisson e Daniel. Vocês fiquem. Precisamos conversar.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora