Lilás V

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INFLUÊNCIAS DE HUMOR

Poucas pessoas no mundo são capazes de compreender a razão das coisas tomarem um curso oposto ao planejado ao longo da vida. Destino, acaso, escolhas... as opções são as mais variadas. O jeito de lidar com isso, no entanto, limitam-se a dois: aceitar ou surtar.

Fazer essa escolha passa longe de ser fácil. Existe um preparo físico e emocional a ser levado em conta antes de dar um passo adiante. Toda trajetória de vida, bem como as lições que cada um leva dentro do peito, são expoentes primordiais. Marisa sabia bem disso ao decidir fazer o anúncio naquela manhã de quinta feira, um dezessete de agosto de nuvens cobrindo o céu como um possível prelúdio.

Caminhou tanto de um lado para o outro da cozinha a ponto de torcer para o piso de cerâmica não ceder e aguentar mais vinte minutos. Deixou a mesa do café posta, arrumando tudo nos mínimos detalhes, enquanto o filho não dava as caras. Até panquecas americanas se esmerou em fazer, preparando a calda caseira com bastante amor para abrandar o impacto.

Ficou chocada quando, meses antes, seu filho trouxera do limbo a promessa de jamais trazer um homem para a vida deles de novo que não fosse seu pai. Desde então, dias e dias dormindo tarde tentando pensar que era uma moça sozinha, sem ninguém, em uma cidade que não sabia chegar na esquina sem se perder; com um bebê a tiracolo! Tinha esperanças daquilo tudo não ter passado de um equívoco e ser comprovada a inocência do sujeito... mas nada.

Diante disso, por que enterrar sua vida?

Anos dedicados a criar o rapaz que aprendia naquele momento a se tornar homem, um melhor do que aquele com quem compartilhava metade de seu DNA. O tempo foi passando, as feridas cicatrizando (ao menos para ela) e a vontade de ter alguém ao lado crescendo. Se Alisson realmente queria o bem da mãe, fizesse então um esforço para tal! Tinha isso como mantra. A grande questão era convencer seu psicológico a respeito...

O coração da mulher quase saltou para fora do peito ao ver seu menino descendo a escada com uma cara de poucos amigos. Seria uma hora ruim para atormentá-lo? Não queria dar a ele um fardo o qual nem de longe precisava carregar. Estava prestes a estranhar a indiferença total e absoluta até ouvir o questionamento de onde queria chegar com aquilo.

— Não posso mais alimentar meu filho? É sério?! — tentou disfarçar, só que não colou.

— A última vez que a senhora fez panquecas americanas foi pra me contar que tava saindo com aquele cara lá — referindo-se indiretamente a Edu — Trocou? Dessa vez é um médico, né? Bem rico e velho pra—

— Quer parar de palhaçada? O assunto é sério! — começou a se alterar, mais por conta do nervosismo que irritação propriamente dita.

— Conta aí — pediu, sem levar muita fé. Conhecia a mãe e seus trejeitos exagerados. Provavelmente diria que terminou mesmo e precisava do carinho dele.

Era difícil explicar o quão vulnerável se sentia ao decidir tomar um passo daqueles mesmo sem saber direito como tudo iria proceder. Claro, já conversaram a respeito, chegaram num consenso, mas a teoria nem sempre casava com a prática. Al reagia de formas imprevisíveis quando algo lhe atingia com força, tal qual no dia do tapa na cara. Jamais pensou ir às vias de fato, só foi pega de surpresa, como bem podia acontecer ali.

O olhar do menor já ficava apreensivo e sem paciência para aguardar. Tinha um dia cheio a enfrentar, assuntos a tratar com Dan após o episódio no "Wunder Bar" enquanto a mãe dedilhava as palavras. Faltou pouco para dizer a ela para ser curta e grossa de vez. Sua sorte é que não foi necessária: Marisa acabou confessando sobre a ida definitiva de Edu para a casa deles.

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