SÓBRIO
Quando certas notícias caem no colo da gente sem um preparo, a sensação de seu potencial de destruição se iguala à de uma bomba nuclear. Não temos estrutura emocional (por vezes, nem física) de comportar a complexidade de uma revelação. Sabine ficou imobilizada diante daquele fato tão curioso e cheio de coisas mal explicadas.
Deixou até para trás a vontade de ir ao toilete. Algo grave havia sido descoberto. O mistério por trás de Vanessa tinha vindo à tona e pontos tentavam ser ligados. Nunca lhe passou pela cabeça ver Daniel pegando alguém que, em algum momento da vida, teve as feições de um homem. O garoto era uma mula, como ela própria definiu em sua cabeça, quando se tratava de sexualidade e comunidade LGBT num panorama geral. Como podia ter se envolvido com uma menina daquelas? Teria ele noção da verdade ou foi enganado também? O término foi por isso? Cada pensamento, uma nova pergunta. Vários arcos sem seus desfechos.
Não podia aguentar aquilo sozinha. O peso de uma informação daquelas era para duas pessoas carregarem. Tratou de levantar rápido dali, deixar tudo como estava e sair com calma para passar despercebida. Precisava ser discreta, afinal, entendia e respeitava a dor da garota. Todavia, havia uma grande mentira a ser resolvida e precisava da verdade o mais depressa possível.
Tentaria falar com Daniel, já que, apesar de um bom começo de amizade, Sabine e Vanessa se encontraram pouco depois daquilo, ficando difícil arrancar qualquer confidência dela. E também, seu estado lhe apiedou. A loira estava realmente no fundo do poço. Seria covardia demais usar das circunstâncias apenas para saciar seu ego investigativo. Já Daniel não escaparia. Seria bem direta, por conhecer a sinuosa pessoa e a revolta ambulante quando algo lhe desagradava.
Chegando no quarto, Vitória passava suas mãos pela cabeça da filha enquanto esta encarava o vazio com um rosto fechado. O pai seguia aflito e chateado — via-se em seus olhos — Jeferson parado observando a cena sem saber direito como agir ou se portar. Parecia constrangido diante dos pais da garota, talvez até da própria, afinal cruzou com ela poucas vezes na vida, e de repente se via dentro de sua casa ajudando sabe lá por qual motivo.
Sabine foi até perto da menina e segurou sua mão. Pela primeira vez desde sua ausência, a garota parou para prestar atenção em alguém.
— Nós vamos indo. Qualquer coisa, é só descer ali em casa, ok? — disse a menina.
— Obrigada — deu um sorriso fraco — por tudo.
— Que isso. Só fizemos nossa obrigação. Vamos, Jeff?
— 'Bora — respondeu o garoto — Melhoras, Vanessa.
— Obrigada — repetiu o gesto.
Ambos então foram para fora do apartamento, deixando os três sozinhos de novo. Jeferson, por mais apiedado que estivesse, não entendeu a saída repentina da amiga.
— Tudo bem, Bine? — perguntou, intrigado.
— Sim — mentiu — Por que não estaria?
— Achei que ficaríamos mais pra dar apoio.
— Tenho um assunto urgente pra resolver e preciso pensar em como fazê-lo.
— O que seria?
— Outra hora eu te conto — garantiu — Vamos pra casa. Amanhã será um longo dia...
O garoto ficou mais confuso do que antes. Não compreendia o raciocínio da amiga, tampouco suas conclusões e razões — mesmo tendo suas habilidades puxadas para a área de exatas. Seu cérebro buscava deduzir qual situação tão importante essa, pois, até segundos antes, estava tranquila apenas atendendo à Vanessa. Algo estranho permeava o ar e sentia um aroma estranho de desconfiança, ciúme ou até mesmo amor. Daniel era ex da moça e isso podia ter criado uma certa alegria talvez... Teria Sabine saído apenas para falar com Dan?
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...