MEDO
Certas coisas acontecem na vida da gente para provarmos de que somos feitos. Os instintos que nos colocam lado a lado dos seres selvagens vêm a tona com toda força capazes de concentrar, encarando qualquer perigo iminente sem temer perder a batalha. Quantas mães leoas passam por nós todos os dias, de mãos entrelaçadas com suas crias, dispostas a tudo por seu zelo e bem estar; ou até mesmo pessoas de nossa estima que defendem com unhas e dentes aqueles que amam.
Alisson era um desses sem sombra de dúvida. Nunca permitiu que qualquer ser vivo fizesse troça de si ou algum morador de seu coração. Naquele momento, sentia ter contas a acertar com quem ousou desafiá-lo e, mais ainda, provocar aquele cuja presença abalava as estruturas de seu coração. Passou o restante da aula preocupado com o estado ferrado da cabeça dele, que já não era o símbolo da clareza. Quanto mais pensava, maiores eram seus temores, afinal de contas o menino estava perdido em meio a tanta coisa acontecendo ao seu redor.
Adrian e Jeferson também foram alvos de alguns questionamentos os quais se permitia fazer. Via em suas expressões de cães em feira de adoção a culpa lhes consumir. Pouco mediram as consequências antes de tomar qualquer atitude. Colocou em cheque até onde podia confiar neles, uma vez que ambos deveriam conhecer Daniel a ponto de imaginar um terremoto vindo dele em circunstâncias assim. Oras, se nem seus sentimentos foram levados em conta, quem dirá sua saúde emocional! Tinha claro em sua mente a pisada de bola que eles tinham dado e ainda arrumaria tempo para tirar a limpo tudo nos mínimos detalhes. Coisas mais urgentes apareciam primeiro na pauta de problemas.
O pior de tudo era o engraçadinho provocador ter continuado na aula como se tudo estivesse na maior plenitude espiritual com a qual uma pessoa é capaz de conviver. Como, apesar da tiradinha de péssimo gosto, não havia sido quem partiu para ignorância, foi advertido e teria de vir no turno inverso realizar alguns trabalhos voluntários. Pena pífia, ridícula, na opinião do amigo de Dan. Por muito menos ele próprio já teria sido "convidado a se retirar" da escola, então por que deixar um garoto metidinho de ego inflado, virando o centro das atenções e cuidados por parte das meninas da turma?
Via suas lamúrias falsas, raiva cínica e camada rasa de choramingos, tendo vontade de vomitar em cada um deles. O sangue parecia cozinhar dentro de suas veias, praticamente turvando boa parte de seus sentidos. Não todos, apenas aqueles capazes de controlar o leão feroz residentes dentro do seu peito, o que não melhorava em nada, ao contrário, agravava ainda mais sua sede de fazê-lo engolir as palavras esdrúxulas proferidas por aquela boca imunda. Foi inevitável — tanto sua mente quanto seu coração clamavam incessantes por uma dose cavalar de justiça. Soube direitinho o que fazer.
Esperou se aproximar da hora de saída e pediu a professora para tomar água. A mulher contestou, dizendo faltar tão pouco para a aula acabar e solicitando que aguardasse um pouco mais. Depois de meio minuto de birra, ela acabou por deixar, pedindo que já levasse então sua mochila para não precisar voltar. Foi como música para os ouvidos de Al. Caminhou sorrateiramente até o portão, estando a poucos metros quando o sino anunciou o fim das aulas daquela manhã.
Saiu e aguardou poucos metros depois da escola, justamente pelo caminho onde via o tal moleque passar todos os dias, sempre com um ou dois amigos a tiracolo. Quando ele lhe viu, ficou tão branco quanto o muro do terreno onde Al estava escorado, ao passo que seus amigos se posicionaram de maneira tão absurda que simulava seguranças protegendo um astro do rock. Não pôde deixar de rir e ironizar.
— Não consegue mais sair sozinha na rua, Paris Hilton? — seus lábios formavam um sorriso largo e debochado.
— Tô sem tempo pra ouvir declarações de amor, Alisson, principalmente vinda de macho — ele revidou, no mesmo tom — Saiam da frente, c*r*lho! Sei me defender!
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...