Rosa V

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BRINCALHÃO

Quarta feira, 12 de Julho. O dia iniciara melhor do que os dois que o antecederam: O sol voltava a raiar. Feixes de luz solar invadiam timidamente o quarto de Dan, tirando um pouco do breu que se encontrava o lugar. Não era como se o ato fosse fazer o rapaz despertar, já que pela primeira vez em algum tempo acordou sem o auxílio do despertador do celular. Estava deitado em sua cama, com as mãos atrás da cabeça escorando-a. A única coisa que lhe cobria era o short de dormir, o que lhe dava uma bela visão de seu tronco ainda semi definido.

Encarava o teto em silêncio, vagando por seus pensamentos tão perturbados. No fim, mesmo sem querer, Ian havia mesmo lhe beijado. Por mais que não tivesse sido propriamente um beijo ardente, sabia que indiretamente tinha desejo e um amor por parte do mais velho. Ian queria aquilo. Ian desejava aquilo. Desejou tanto que se cumpriu, em termos pelo menos. Ou assim ele acreditava.

Nunca, nem em seu pior pesadelo, tivera vontade de experimentar algo com qualquer um de seus primos. Considerava-os irmãos, afinal eram sangue do mesmo sangue. Inúmeras vezes (E hoje entendia melhor o porquê) fora questionado se queria ver o outro lado da moeda: Como seria receber amor e carícias de um homem? E se fosse seu primo? Negou todas as vezes que teve oportunidade de descobrir. Agora, diante daquela situação, sentia que tudo aquilo tinha ido por água abaixo. No fim, acabou acontecendo de qualquer jeito.

Pensava em como iria se portar diante do mais velho. Não podia recriminá-lo afinal aconteceu sem qualquer pretensão. Se perguntava como ele estaria após o acontecido. Chegara a conclusão de que, na pior das hipóteses, tivera uma noite bem agitada com a lembrança. Revirou os olhos com certo nojo só de pensar. Como seu primo conseguia pensar coisas tão obcenas a seu respeito? O pensamento lhe foi trazendo mais lembranças, que não ajudaram muito aliás: Os banhos de piscina ou na lagoa do sítio; todas as vezes que, no auge do verão em Porto Alegre quando ia visitá-lo, não ficara só de cueca no quarto para ver se o calor amenizava; Os abraços; Os toques... Isso e muito mais parecia lhe dar as respostas. E o que lhe causou espanto, foi sorrir ao lembrar de tudo isso. Foi lembrar de como Ian lhe fazia feliz. Estaria na hora de ceder?

Saiu da posição de deitado e sentou-se na cama assustado com o pensamento. Como podia ter levado aquilo em consideração? Chacoalhou a cabeça para dispersar e levantou. De maneira impensada, encarou seu trevo. Ficou observando-o por algum tempo.

— Como tu não morreu ainda?

Pegou-a com cuidado do vasinho de planta e levou até o banheiro para colocar um pouco de água, retornando para o quarto em seguida. Separou suas roupas e foi para o banheiro novamente. Fez sua higiene matinal sem pressa – Se atrasasse um pouco, dava de ombros. Não estava com humor nem para ser pontual. Que ligassem para até para o Papa se quisessem dizer que estava chegando atrasado, não iria mudar nada.

Vestiu-se, arrumou-se com toda calma do planeta. Calma essa aliás que raramente possuía. Tênis Oxto Los Angeles preto e branco, Calça Jeans Slim Stone azul forte, uma camiseta xadrez manga cumprida vermelha com listras pretas compuseram seu look. Colocou seu perfume, pegou sua mochila e desceu até a cozinha a passos lentos e temerosos. Não notou se Ian estava em seu quarto, queria evitá-lo ao máximo para não criar um possível clima.

Em vão. Lá estava o garoto de olhos azuis tão profundos quanto o próprio mar a comer seu café da manhã. Como se fizesse parte de seu ser habitual, sorria. Dan não tinha certeza se o fato ocorrido contribuía ou não, porém decidiu seguir como se nada tivesse acontecido. Era o melhor a se fazer.

— Bom dia – Tentou soar convincente, contudo sua voz saiu falha e temerosa.

— Bom dia, primo – O outro respondera em seu tom comum – Quer torradas?

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