Branco VIII

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CONFUSÃO

A vida é um vendaval misterioso, de interesses próprios e aparições repentinas. Por vezes, é sublime, quase não se nota suas ações minuciosas. Em outras, vem com tanta energia e força de vontade que nos carrega junto quando vai embora, levando um certo tempo até que saibamos o caminho de volta. Quando Vanessa terminou com Dan, a estrutura inteira que ainda lhe restava era o percurso de vida construído até então. O amor e as dificuldades todas pareciam ter ficado por debaixo dos escombros, sendo resgatadas pouco a pouco, conforme a necessidade.

A loira acordou naquele domingo com os pensamentos longe. Lembrava-se da conversa com o ex na sexta à noite e o jeito no qual parecia perdido. Não sabia mais qual rumo tomar, uma vez que não estava nem consigo tampouco com quem seu coração estava latente a querer. Pensava em todos os momentos vividos juntos e se nem mesmo o resultado do empenho deles o fazia refletir um pouco e tomar uma decisão. Preocupava-se por querê-lo bem. Preocupava-se por conhecê-lo bem. Preocupava-se por querer vê-lo bem.

Daniel nunca fora o símbolo da estabilidade nem quando viviam seus melhores dias. Desculpas, problemas, discussões... o terreno no qual haviam feito morada outrora era seco e custava a dar frutos. Com muito trabalho e empenho tiveram, por exemplo, sua primeira transa. O inusitado é ter ocorrido anos depois de estabelecerem a união. Ora, se aquilo tudo não tivesse ao menos feito de Dan alguém mais aberto, então nada valia a pena. O namoro deles não seria em vão apenas pelas poucas memórias. E só. Nada mais a declarar.

Olhou algumas vezes ao celular na ânsia de querer mandar alguma mensagem perguntando. Estava ligeiramente mudado, sabia disso, mas nunca nada era tão calmo quanto parecia. Principalmente no que tangia ao filho de Isabel. Escreveu a mensagem em sua conversa tantas vezes que até o corretor do celular já decorara a ordem das palavras, sem tirar nem pôr. Apagava sempre, temendo tocar de novo em uma ferida que, até onde tinha conhecimento, custava a cicatrizar.

Só pôs fim ao ciclo vicioso quando, cerca de cinquenta minutos de tentativas frustradas, viu uma mensagem chegar. Não era o ex, e sim Mia. Tratou de ver logo, uma vez que, com o combinado de ambas, pensou que poderia se tratar da surpresa para Ana. Enganou-se, todavia era um convite um tanto quanto inesperado: O casal lhe convidava para tomarem café fora, sem ser no 'Wunder Bar' por já estarem saturados da velha rotina. Concordou na hora, sugerindo irem a outro café colonial, sugerindo o recém aberto e com boas recomendações. Negaram-se por se tratar da mesma coisa em um ambiente diferente. Falaram em tomar café em alguma padaria ou algo do gênero, ideia a qual concordou. Quando o casal foi em busca de algum lugar e voltou com um link, quase desfaleceu: entre tantas opções, a 'Padaria dos Anjos', pertencente à família de Daniel.

Não era nenhuma boba a ponto de querer evitar apenas por uma questão tão ridícula quanto aquela. O problema era de que maneira ele encararia isso. Já tinha ido ao aniversário do amigo dele sem ser, de fato, sequer conhecida dele. Aparecer em seu local de trabalho poderia soar um disparate. A fim de ganhar tempo, respondeu ser uma boa alternativa, mas que havia se recordado de um compromisso, levantando a possibilidade de, quem sabe, irem à tarde. Por sorte, apesar de terem pensado no café da manhã, aceitaram se assim ficava melhor. Na realidade, não melhorava, apenas adiava um pouco qualquer problema possível.

Acabou passando o dia pensando no tal encontro. Não parava de procurar soluções rápidas, treinar frases como se estivesse fazendo testes para algum papel, formulando e reformulando diálogos. Para piorar, Ágata estava envolvida com o primo de Ian, o que a fazia ficar ainda mais ansiosa por não ter alguém que lhe puxasse para a terra. Era uma psicóloga, afinal, sabia que atitudes assim passavam longe de ser o mais racional. Entretanto, antes dos estudos da mente humana, era humana, tanto quanto qualquer futuro paciente. Sofria, chorava, se abalava, tinha angústias. Perdoava-se por isso.

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