TOLERÂNCIA
Muitas vezes precisamos ser 'ajudantes' das artimanhas do destino, agindo como mediadores para algo maior, uma ponte entre o possível e o concreto. E Ian não se importava de se classificar assim, afinal, se havia algo na Terra capaz de lhe trazer alegria era proporcionar alegria. Dar esse presente a Micael de rever Ágata, de certo modo, cumpria esse papel.
Com a sobra de elementos no apartamento, despediu-se de ambos e seguiu pelas ruas de Nova Petrópolis a procurar o endereço de Diógenes ao mesmo tempo em que pensava nas voltas dadas pelo mundo até chegarem ali. Não havia dúvidas quanto a capacidade da realidade em ser conduzida de maneira inesperada para rumos completamente opostos aos que gostaria. E mesmo sendo conhecedor da arte de viver, sempre se surpreendia com ela. Aceitava o título de aprendiz com humildade e alegria em sempre descobrir algo novo.
Nem toda vez, porém, era possível. Os planos que tivera em relação a Dan e sua descoberta ficariam para uma outra existência. Mesmo com seu coração batendo forte pelo primo e o desejo ardente de vê-lo a mercê da redenção ao aceitar o chamado que a natureza estava a lhe dar, não podia deixar de imaginar como seria se fosse ele o alvo daquele amor e em todas as formas possíveis e impossíveis que lutaria para fazê-lo dar certo. Na falta disso, cabia a si torcer para Alisson cumprir seu papel e, tinha certeza, cumpriria.
Andreas, Gil e, por último, mas não menos importante, Ágata, tinham também sua parcela de acontecimentos que não floresceram. Com exceção de Gil, que vivera um romance tempos antes, os demais tinham em seu coração um jardim regado a sonhos, momentos belos, e até mesmo amor de certa forma, já que nem só romances constroem a base de uma relação amiga e sincera. Andreas havia errado ao lhe mentir e teria de explicar bem a razão disso, entretanto, não anulava todo o carinho e cumplicidade que sempre teve dele. Já Ágata tornou-se ficante para acabar como melhor amiga. Via nela o toque singelo de um olhar fraterno, alguém que zela e se deixa ser zelado. Os três, juntos, eram rosas às quais preferiu manter plantadas a tornar um buquê.
Não tardou muito para chegar na rua onde Diógenes morava, pois, perdido em seus devaneios, sequer via o tempo passar. No prédio, identificou-se e foi liberado a subir ao apartamento. O próprio rapaz lhe atendeu, vestindo um short cinza e uma camiseta de banda. Em seu rosto, o reflexo semelhante a da ira de um Deus ferido, esperando a primeira deixa para liberá-la sobre a primeira alma que cruzasse seu caminho. Ian, sempre atento, soube na hora o fato de ser a vítima da revolta e começava a se preparar para enfrentá-la como podia.
De início, preferiu se abster de maiores questionamentos. Tocar em uma ferida como aquela, dada a recepção pouco convidativa, era pedir para um homicídio acontecer e talvez nem por sua culpa, como julgava ser o caso. Sentou no sofá, deu-lhe 'bom dia' e foi questionando alguns pontos onde Dio achava que estava fraco demais ou que não havia compreendido. Dadas as respostas, secas e objetivas, o menino de olhos claros partiu às explicações teóricas para, cerca de uma hora e meia depois, arriscarem às práticas.
Mesmo não sendo seu aluno no instituto, sempre chegou aos seus ouvidos o quão aplicado Dio se fazia tanto fora quanto dentro de cena. Foi estranho notar, logo nos primeiros acordes, a desatenção do rapaz. Precisou corrigir cada movimento por quase dez minutos, não saindo sequer da primeira estrofe da música escolhida. Já sentindo a chama em seu peito querendo se transformar em incêndio, o aprendiz jogou a partitura sobre a mesa e levantou-se esfregando suas mãos no rosto. Diante tal cenário, seria imprudência não questionar ao menos se estava bem. Como havia indícios fortes de que o dito cujo não estava, Ian optou por outra.
— Se tu quiser dar uma pausa, ou praticar outro dia, beleza por mim. Só avisa que marcamos outra hora.
— Não, não. A hora tá ótima. Hoje, aliás, tá perfeito. É que na verdade eu acho que me enganei — usava um tom debochado na fala — Não devia ter te pedido aulas de música. Devia ter pedido pra me ensinar sobre talaricagem. Afinal tu tem um verdadeiro diploma universitário no assunto.
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...