SURPREENDENTE
O amor é um dos mais fortes sentimentos residentes em nossa mente. Com ele, podemos voar tão alto a ponto de tocar estrelas, pássaros e todos os clichês sentimentais possíveis citados nos versos românticos à exaustão. Infelizmente, ser forte não é necessariamente ser bom. Quer dizer impactante, profundo, mas não um mar de rosas. Ele sabe machucar, ferir, mesmo de forma implícita. Pior ainda quando a dor reside no outro - o receptor do amor. Isso, para Ian, era mais doído do que qualquer coisa: ver Daniel sofrendo e nada poder fazer.
Ao chegar da faculdade - seu primeiro dia cursando algo realmente desejado por si, no caso, música - o que encontrou os soluços baixos ecoando de dentro do quarto dele. Sequer pediu licença, foi invadindo. Sua sorte era a porta só estar encostada e não trancada. A cena fez seu coração doer e lacrimejar por dentro: Dan estava sentado em sua cama, já com roupas adequadas para dormir, engolindo o choro o máximo possível. Fechou a porta, delicadamente para não o deixar mais nervoso, e foi até ele. Colocou a mão direita em seu braço para perceber que não estava sozinho. O menino sorriu com gesto, tal qual fizera tantas vezes ao se machucar na infância e Ian estar lá para lhe ajudar. Queria, inclusive, a dor daquela época. Seria mais fácil de curar e cicatrizar.
Com cautela, o mais velho levou suas mãos para afagar os cabelos de Daniel, a fim de lhe tranquilizar e, quem sabe, contar o que de tão grave poderia ter acontecido. Torcia para não ter sido decretado o fim do relacionamento. Não sabia se ele aguentaria algo desse impacto.
— Quer contar? — perguntou de leve, com a voz saindo falha de sua garganta.
— Foi horrível — confessava, limpando lágrimas não caídas de seus olhos — Tudo que eu mais queria era passar uma borracha nesse ano maldito. Só veio pra acabar comigo e com a minha vida.
— Não fala assim, Dan — ponderou — A vida nem sempre nos dá tudo de mão beijada. Temos que passar por alguns testes primeiro para provar a nós mesmos o quão merecedores somos, seja lá qual for o prêmio.
— Mas eu já tinha a Van pra mim! Por que eu não consigo ficar com ela? — a voz voltava a ficar chorosa — Dois anos namorando e nunca tivemos brigas impossíveis de reconciliação, pois esse ano foi um bombardeio em cima da gente.
— Isso põe à prova nossos sentimentos. Mostra o quão forte é o laço entre vocês. Se, seja lá o que ocorreu, fez vocês estremecerem, é hora de sentar e conversar.
Não podia mais esconder aquilo dentro de si. Era inútil, por mais grandioso e resistente que fosse, manter as razões dos problemas escondidas embaixo do tapete. Precisava do apoio de alguém, e tinha certeza que Ian assim o faria, só não queria magoá-lo ou que tivesse impressões erradas. Mas quais seriam as certas? Como justificar as barbáries acontecidas? Sua mente estava um verdadeiro novelo de lã enroscado, e precisava desatá-lo antes de ter um surto de loucura. Fossem quais fossem os resultados, a verdade seria dita.
— Ian... — engoliu de novo, desta vez seco, e limpando outra lágrima teimosa — O que aconteceu.... foi que... Eu beijei outras pessoas...
— Tá falando de mim? — não compreendia — Ué, se for o caso, eu chamo a Vanessa pra gente levar um papo e explico que—
— Não. Foram outros guris — mantinha a cabeça baixa.
Pela primeira vez na história de sua vida, Ian sentiu o peso de um meteoro cair sob seus ombros. Somada com a sensação de embriaguez, deixava tudo ainda mais inconsistente. Seu cérebro pareceu não assimilar bem a fala do primo, tentando reordená-la de forma lógica. Quaisquer hipóteses formuladas faziam mais sentido, para si, do que aquilo saído da boca de Daniel.
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...