Verde Amarelado I

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SURPREENDENTE

Quem somos nós para julgarmos o sentimento alheio? Ninguém consegue medir o quanto de alegrias, tristezas, aflições ou o que quer que seja relacionado ao "eu". Somos "Eu líricos" de nossas próprias poesias, e nela fazemos e sentimos o que nos couber e enquanto for possível.

O fato de Sabine estar por vezes mais irritadiça, outrora com o olhar vago e triste estava deixando seus amigos e colegas no mínimo curiosos. Era conhecida por sua postura firme e sua presença natural nos ambientes pelos quais passeava ou frequentava. Não compreendiam uma mudança tão radical e pareciam querer alguma explicação que justificasse tais atitudes. Porém, como dito no início, somos "eu líricos" de nossas próprias poesias, somos protagonistas de nossas próprias vidas. Ela não se achava a vontade de contar, de expressar o que quer que estivesse sentindo. Principalmente na frente de Daniel – Deste então quanto mais longe ficava, mais perto queria estar. Tinha sã consciência de que seu ciúme estava tornando-se notório, contudo não podia evitar senti-lo. Quando conheceu a famosa Vanessa então tudo piorou. Seu coração sangrava sem que ela pudesse ter uma chance de escolha entre o sofrimento e a liberdade. Não queria mal a garota, mas saber que era com uma moça tão bonita que estava competindo lhe causou medo. Suplicava toda noite para que esse sentimento se esvaísse, junto com as lágrimas que derramava. Em vão. Toda manhã acordava sentindo, mesmo que quisesse não sentir.

Naquela noite de quarta feira, jantou com os pais em silêncio. As poucas palavras que dissera eram respostas monossilábicas para responder aos questionamentos dos pais, do contrário teria ficado quieta com o semblante triste o jantar todo. Recolheu-se cedo. Por muitas noites como aquela passara acordada na internet, ora vendo vídeos, ora filmes, ora fazendo chamadas de vídeo com Daniel... Não. Negativo. Preferia não pensar naquilo. Queria que sua cabeça parasse de sentir e de pensar sobre. Apertou sua cabeça contra o travesseiro na tentativa de livrar-se daqueles pensamentos.

— Filha? – Alicia bateu três vezes à porta com a voz questinadora.

— Oi – Respondeu a filha sem ânimo.

— Posso entrar?

— Pode. Espera que vou abrir.

A garota então se livrou dos cobertores de sua cama quentinha deixando aquele ar gelado tocar-lhe a pele lhe arrepiando por inteira. Vestia apenas uma blusa fina de dormir branca com estampa de urso amarelo segurando um coração e bordas rosadas, acompanhada é claro de suas roupas íntimas. Abrir a porta ainda no escuro. A mãe entrou com certa estranheza ao quarto da filha e sentou na sua cadeira giratória ali presente, enquanto a mesma sentou-se de pernas cruzadas em cima da cama.

— Anda trancando muito essa porta né? – Questionou a mulher, séria.

— Não queria ninguém me incomodando só isso – Respondeu Sabine em voz baixa.

— Hum, então seus pais estão te incomodando?

— Claro que não mãe. É só que – A garota suspirou – Eu quero um pouquinho só de privacidade. Não é nada demais.

— E alguém nessa casa já entrou aqui sem bater por acaso?

— Não.

— Sem pedir licença pra ti?

— Não mãe.

— Então eu não estou entendo minha filha.

Outro suspiro. Dessa vez, a menina passou as mãos por seu rosto.

— Mãe, olha só: Eu ando um pouco estressada e preciso de um pouquinho só de paz compreende? Não é nada com vocês. É comigo o problema.

— Eu sei que tu anda estressada. Mal fala com a gente, come de cara emburrada – Lembrava Alicia – Eu e teu pai temos contas pra pagar, impostos pra deixar em dia, casa pra manter e outras mil coisas e não estamos assim.

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