Malva II

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PENSATIVO

Fugir do que é inevitável, geralmente, passa longe de ser uma decisão inteligente. Por maiores que sejam os obstáculos, a cada passo dado para longe deles, eles ficam parecendo maiores, tornando-se um elefante preso por uma corda em uma cadeira. Daniel, ao querer simplesmente ignorar tudo o que lhe aconteceu, foi fazendo com que uma montanha de medos e temores fossem se formando e, pior, deixando-os a vista de quem quisesse ver.

A pergunta de Sabine deixou-o sem chão, sem saber o que fazer para desviar do olhar incisivo com o qual ela lhe encarava. Havia mais certeza do que dúvidas em sua fala, ficando clara sua descaração quanto às atitudes tomadas quando estava com Al. O "amigo" era, naquele momento, seu telhado de vidro, onde a mínima pedra jogada em cima transformava tudo em estilhaços pontiagudos. Sua mente tentava, em vão, ser ágil e prática na formulação de uma resposta, e cada segundo a mais na demora a responder tornava tudo ainda mais evidente.

— E então? Não vai nem tentar se defender?! — a loira pressionou, seguindo firme.

— Não tenho que me defender de uma idiotice que tu tirou da cabeça — revidou o mais confiante possível, ainda que, por dentro, o benefício da dúvida lhe incomodasse.

— Ah, claro. Tirei do éter mesmo os olhares e comportamentos bipolares de vocês dois — ironizou — Até ontem vocês nem se conheciam, agora não se desgrudam. Ontem estavam com sangue nos olhos um pro outro, hoje todo amiguinhos. Preciso dizer mais?

Dan não sabia a quais argumentos recorrer. As mãos, a testa e cada dobra restante de seu corpo a água escorria enquanto as palavras tentavam encurralá-lo dentro de sua mente, fazendo-lhe ter peso em sua culpa. Depois do que aconteceu com Ian logo cedo, aquele tipo de pressão era tudo o que não precisava.

Foi então que seu olhar desesperado pairou sobre a figura de Jeferson, alguns metros atrás da amiga olho de águia, dançando frenético ao som de uma música qualquer que não soube identificar. Lembrou-se das confidências dele, das atitudes que tomou e dos rumos pelos quais tudo parecia se encaminhar. Foi o timing perfeito para sair pela tangente.

— Engraçado como as coisas funcionam, né? — cruzou os braços e revidou o olhar soberano e vitorioso com qual era encarado — Quer falar de tempo de convivência, de atitude comigo, ao mesmo tempo em que o Jeff chutou a namorada, aí tu e ele viajam sei lá pra onde, depois de sempre se alfinetarem, aí também estão agora os legítimos c* e bunda — a loira trocou de cor com a réplica — Preciso dizer mais alguma coisa? — revidou a pergunta, deixando-a sem ação.

Al, de olho no sumiço de Dan, acabou por notar a estranheza de suas feições enquanto conversava com Sabine. Sem maiores cerimônias, aproximou-se mesmo sem ser convidado. Pouco se importava com reações exageradas, fosse por parte do amigo ou da loira. Algo dentro de si fazia-o acreditar na formação de uma intriga e, no meio da alegria do momento, achava desnecessário.

— Tudo tranquilo por aqui? — quando chegou perto, lançou a pergunta no ar, sendo respondido por Sabine.

— Estávamos só... conversando sobre o término do Daniel com a Vanessa e de como isso acabou com ela. Só isso — ao lançar a resposta irônica, a menina virou as costas e voltou para perto de Jeff, sendo seguida pelo olhar furioso de Dan.

Alisson não captou bem a mensagem das entrelinhas, todavia, pôde ver no olhar arisco do menor o quão sensível a ferida ainda se mostrava. Era impossível julgá-lo ou condená-lo, afinal de contas, até onde sabia, ambos foram muito felizes juntos. O coração levaria mesmo algum tempo até que o sangue parasse de escorrer e as lágrimas da alma parassem de cair. O único porém era o porquê do assunto ser trazido em pauta justamente naquele momento.

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