Ruivo V

2 0 0
                                    

PICANTE

Grandes fatos históricos, quando presenciados e registrados por um grande número de pessoas, não só se tornam a comprovação de aquilo ter existido, como também dá margem aos futuros analistas sobre o tamanho de sua importância e impacto social. Sabine, Jeferson, Adrian e Amanda tinham a impressão de que, num futuro distante, os livros sobre a história contemporânea de Nova Petrópolis registrariam os nomes de Alisson e Daniel sem sombra de dúvida, como prova do impossível ser, comprovadamente, uma questão de opinião.

O beijo deles se tornou o assunto principal de cada rodinha de prosa das salas de aula, principalmente do 3B onde estudavam. O senso comum culminava em um único fato: eles tinham transformado o conceito de amar entre seus colegas. Alisson, de longe, era quem mais surpreendia. Tantos anos visto trocando amassos com meninas pelas redondezas da escola, levando algumas para conhecer seu 'ninho de amor', e ter em suas mãos agora um corpo com estilo semelhante ao seu, respondendo a estímulos de igual forma, causava nas moças testemunhas do desempenho do filho de Marisa uma sensação de propaganda enganosa, quase como se tivessem sido ludibriadas e caído em um conto de começo tão belo e final tão trágico.

No meio disso tudo, Elis, desesperada para conseguir um minuto de atenção da turma em algo o qual realmente iria cair em alguma coisa concreta: os exames finais. A docente bem tentou, ameaçou, berrou, e a única reação extraída deles era cada vez mais desapego. Percebendo ser batalha perdida, terminou de passar a teoria no quadro e passou para as coordenadas de exercícios e primeiro trabalho avaliativo a ser aplicado nas próximas aulas. O grupo de amigos do novo casal sensação tinha certeza de que, se a professora de Matemática já tinha motivos antes para torcer o nariz a eles, agora ganhara mais alguns para fechar a conta.

Vendo o caos se instaurando e as línguas a falar como por compulsão, Sabine se questionava sobre tudo vivido até ali desde as primeiras desconfianças de haver um tempero a mais recheando a relação dos rapazes. Enfrentaram poucas e boas pelo que já era de seu conhecimento, ficando a imaginar o que mais havia por debaixo dos panos, seus desejos e vontades completamente desnorteados, mais do que aqueles que se espantaram com o ato de amor deles frente a tanta gente. Neste sentido, Dan é quem mais preocupava. O menino não era exatamente a calmaria em pessoa. Melhorou um pouco após encarar seus medos, o que não anulavam as chances de entrar em curto circuito quando pressionado demais. Sendo testemunha da lógica usada por Rebecca, tinha motivos de sobra para acreditar na chance nada remota de um estrondo acontecer na escola caso forçasse a barra.

— Só espero que o Dan não quebre aquela diretoria inteira por conta disso — comentou a moça.

Adrian não se aguentou, caindo no riso.

— A gente estaria ouvindo os gritos daqui — brincou o rapaz — Falando sério, não duvido nada da Rebecca estar descascando os dois. Se com a gurizada pegando as gurias já é um tormento, imagina os via— nem terminou, Amanda já deu um leve tapa em seu ombro — Ei! Foi mal!

Amanda sorriu, satisfeita com a ação.

— De tudo que passou pela minha cabeça, nada se comparou a esse acontecimento. Juro pra vocês — confessava a menina — Foi tão de repente, sem pensar. O que será que motivou o Dan a fazer aquilo, gente? Um guri que até ontem morria de medo de tudo?!

Tão logo ouviu a pergunta, Sabine teve um insight. A conversa com o rapaz no sábado anterior e a entrega do livro. Deduziu serem os responsáveis por uma mudança radical de atitude, afinal, até aquela data nada no mundo havia conseguido arrancar uma reação mínima que fosse dele. Dan redescobriu a luz através de seus pensamentos, fazendo-a se orgulhar. No fim, tudo se encaixou.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora