Rosa VIII

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ESTIMULANTE

O grande problema dos segredos é a capacidade de, quando descobertos, caírem na boca de todos em questão de segundos. Nossa vida é exposta ao mundo repentinamente e nos vemos na obrigação de buscar uma reação, alguma desculpa, justificativa ou até mesmo fingir demência. Qualquer uma delas era excelente para Alisson naquele momento.

A pergunta de Sabine saiu como uma flecha, sentindo toda a sua casa de feno, preparada para conduzir as coisas do jeito que dava, desmoronar. Não caía na tentação de acreditar esconder por muito mais tempo, uma vez que, tendo agredido os rapazes para defender Dan, a intensidade de boatos aumentaria. No entanto, queria o Alisson do futuro resolvendo o pepino, não o do presente.

Seus dedos começavam a dedilhar em cima da mesa quando sentiu o toque de Gil em seu ombro pedindo desculpas por interromper, mas precisava da presença do menor. O ex de Ian teve de dar uma leve chacoalhada para o outro voltar a terra e lhe seguir. Foram parar perto da janela americana, pois, por pura ironia, realmente iria entregar as coisas de outra mesa.

Aproveitando o pedido de alguns de torta de morango e nata, Al viu a chance de explicar a Gil e, quem saber, receber uma luz em seus confusos pensamentos. Contou a ele enquanto tiravam a torta e fatiavam os quatro pedaços pedidos. Como imaginava, quase caiu para trás, mas não foi pretexto para abrir mão de sua ironia comunal.

— Eu pagava pra ver tu negar isso na maior cara de pau sabia?

— Se não vai ajudar, cala boca — sussurrou — É sério, não sei o que fazer! Aquela loira espinhosa vai às últimas querendo descobrir a verdade! — referia-se a Sabine.

— Então qual o dilema? Conta e pronto — deu de ombros — Olha, Al, se tu tá mesmo disposto a levar algum tipo de relação mais íntima com a potranca, que mal tem em assumir isso?

— Pros outros?!

— Aprende uma coisa: amigo de verdade é aquele que tá contigo na boa e na ruim. Caso contrário, vai que os outros já foram como diz minha mãe.

O frio na espinha de Alisson não lhe deixava em paz. Gil estava certo, porém, seria a primeira vez na qual confessaria com todas as letras aquilo que seu coração já tinha descoberto, mas que o de Dan, bem sabia, relutava em acreditar. Contara ao próprio Gil sobre a possibilidade de se envolverem, era incontestável, mas nunca falou em... amor.

Pegaram os pratos de torta e levaram aos respectivos clientes antes de retomar o assunto voltando para perto da cozinha. O mais velho escorou-se na parede e fixou seu olhar dentro dos seus aguardando uma decisão. Sentiu-se um coelho perante um tigre feroz e quis se jogar de uma ponte por isso. Tinha ojeriza de ser presa e não predador.

— E se a notícia chegar nele? — questionou, fugindo com os olhos — Com que cara eu vou olhar pra ele depois?

— É bem capaz daquela ameba acéfala fazer os dois neurônios funcionarem uma vez na vida e encarar essa situação — sorriu — Daniel pode ser tudo, menos tapado de já não ter sentido algo diferente quando estão juntos. Tá, ele pode ter um ou dois minutos de chilique, mas, sabe — riu com o pecado nos lábios — existe remédio para crianças muito birrentas como ele. E tu vai saber fazê-lo virar homem.

Al não segurou o riso, com compostura a fim de chamar o mínimo de atenção de seus amigos.

— Safado — foi sua última palavra antes da decisão de ir até a mesa onde o quarteto estava.

Caminhando até lá, lembrou da primeira vez em que se encontraram para decidirem qual seria a procedência de cola com Elis; as primeiras implicâncias; a descoberta chocante de Ian e Gil na sala de estar da casa dele; e, em especial, o beijo, tão descompromissado, cercado mais da pura maldade de ver Dan entrando em curto circuito à encanto de sereia.

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