Rosa VI

1 0 0
                                    

IMATURIDADE

Nada melhor do que laços de amizades nas horas de necessidade. Poder contar com um ombro amigo, alguém para dividir as tristezas e multiplicar a felicidade, é algo que passamos a vida buscando. Com um pouco de sorte, conseguimos completar uma mão com pessoas nas quais realmente confiamos - em casos comuns, duas ou três pessoas no máximo. O restante se resumem a conhecidos ou aliados de pouco papo. As lembranças que vivemos ao lado dessas pessoas são as que carregamos conosco não só na memória, mas como no coração.

Ágata e Van se conheciam desde que a última ainda era um garotinho loiro, lindo e chamativo. Cresceram, os corpos foram mudando, Adam (Nome antigo de Van) foi se tornando um pré adolescente inseguro, cheio de medos e temores, rejeitando por completo se olhar no espelho e ver que aquele rapaz não era quem queria ser. Como boa amiga leal, a morena permaneceu a seu lado durante todas as suas crises de ansiedade, choros, ameaças de suicídio, bem como as outras crises durante o tratamento, algumas alterações de humor e situações que só quem conviveu a vida inteira com o peso de ser "homem másculo" irá entender. Aguentou tudo ao lado do amigo e, meses depois, da amiga, sempre com calma e compreensão. Não seria diferente naquela madrugada: Lá estavam em sua casa alisando os cabelos da loira para acalmá-la durante mais de duas crises de choro. O motivo tinha nome e sobrenome: Daniel dos Anjos, namorado de Vanessa, talvez o mais complicado da categoria (em sua opinião). Podia considerar o fato de ter sido só mais um desentendimento entre ambos, mesmo que as circunstâncias indicassem algo mais grave.

Eram 4h30min da manhã. Estava escutando a loira chorar e soluçar fazia um bom tempo, suas pupilas mal se aguentavam em pé. Sua boca pronunciava, vez que outra, "calma, tá tudo bem", trazendo a impressão de ser uma vitrola quebrada. Por sorte, a amiga não se conta - o choro ocupava seu tempo. Quando finalmente deu uma pausa para descansar, Ágata aproveitou a deixa para ajudá-la a se deitar e a ela própria se ajeitar em sua cama. A morena tinha uma cama de casal em seu quarto, bastante útil em situações como aquela.

— Deixa ver se eu entendi — Não aguentou o bocejo — Tu brigou com o Daniel porque ele te traiu?

— Não — A voz chorosa permanecia, junto da ânsia de retomar o gesto de impulso — Não houve uma briga. Eu saí correndo e deixei ele lá.

— Mas foi por causa de traição ou não? Tu falou quando chegou, só que entre o choro, daí entender ficou difícil...

— Daniel beijou outro guri. Foi isso.

— O QUÊ?! — Como em um filme, Ágata eu um pulo da cama, surpresa com a revelação — Tu disse o quê, Van?!

— Eu sei. É surreal, mas verídico — Limpou seu rosto após mais uma lágrima que caía — Nunca na vida que eu ia esperar isso dele, miga.

— Amada, nem tu nem ninguém. Esperar isso do Daniel, até agora pouco, era como esperar por neve no Saara.

— É... Mas assim como já nevou no Saara, Dan já beijou um guri...

Van parecia estar tão abatida que observá-la remetia a velório, a viúva debruçada sobre o caixão do finado marido aos prantos, pedindo mais uma vez aos céus que seja uma brincadeira de péssimo gosto. Longe de ser a sua situação, mas talvez tão dolorosa quanto. O coração de um jovem apaixonado, quando ferido, fica despedaçado, inquieto, pois a vida parece tão curta para novos amores surgirem, que há necessidade do imediato lhe oferecer tudo. A loira já não tinha mais lágrimas para chorar, sendo a última tendo caído segundos antes. A dor permanecia, o peso da infidelidade por parte daquele que tanto amava... Pensou ter exagerado, mas se perguntava qual a necessidade dele ter feito aquilo. O que teria movido o coração de Dan a beijar um semelhante?

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora