Azul V

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IMPRESSIONANTE

(Protagonista: Marisa)

Aquela segunda-feira, 17 de setembro, chegou com um ar de final de semana. Um momento de se libertar um pouco das terríveis amarras do cotidiano corrido e se darem ao luxo de viver, dar um 'olá' para a vida durante um dia da semana ao menos. Ideia de Edu, a quem, com muita insistência, conseguiu convencer Marisa de ser o melhor a se fazer. Não havia como sair perdendo, sendo ele um dos sócios, além de que por mais de uma vez ela cedeu seu horário de descanso em prol de alguma pendência da agência que necessitava ser agilizada. Deu-lhe esse desconto.

Dormiram até às nove da manhã, sequer ouvindo Alisson levantar e partir rumo à escola. Aproveitaram do direito que se deram, conseguindo assim descansar um pouco da árdua rotina. De certa forma, Marisa estava com a alma lavada. Com tão pouco tempo para se dedicar a sua vida mesmo, sem pensar nos problemas domésticos ou do filho, era quase como uma terapia poder respirar sem medo de preconceitos ou mal juízos. Seria si mesma por algumas horas.

Desceu primeiro para fazer o café da manhã. Não tão caprichado quanto do dia da visita às escondidas de Edu e Alisson a família deles, mas enchia os olhos. Pão de mel comprado, um bolo de banana e pães fresquinhos elaboravam o cardápio, junto aos frios e misturas para o pão, além de leite e café. Edu levantou da cama logo depois, chegando ainda com rosto amassado do travesseiro, com seu dorso definido nú, e as pernas cobertas por uma calça moletom cinza. Deu 'Bom Dia' à namorada, dando-lhe um beijo por trás, na nuca, arrepiando-a inteira. Só para atazanar, brincou que estava com leite fervendo ali e podia acontecer um acidente se ficasse se molestando. O homem riu, saindo e sentando à mesa.

Marisa o fez alguns minutos depois, mais precisamente quando o leite ferveu. Colocou-lhe sobre um descansa panela e começou a servir. Seu coração, por dois segundos, perguntou-se se Al havia se alimentado bem, comido qualquer coisinha para não ficar de estômago vazio a manhã inteira... preocupações maternas, enfim. Só conseguiu desviar o pensamento quando tentou enfiar na cabeça que já era um homem feito, com barba na cara, não mais um garotinho arteiro o qual batia os punhos na mesa incansavelmente quando estava com uma fome absurda. Podia bem se virar sem a mãe, ou, ao menos, assim gostava de pensar para não enlouquecer de remorso.

Enquanto pensava nas questões de mãe e filho, Edu aproveitava para refletir um jeito de entrar no assunto a visita à casa àquela manhã sem dar muita bandeira. Gostaria muito de vê-la emocionada reencontrando a família após dezoito anos, e perder isso só por não saber inventar argumentos soava, no mínimo, patético e sem graça. Uma coisa tinha como certo: Marisa tinha um raciocínio longe, sabia quando era enrolada ou estava para ser. Se tentasse criar falsos argumentos além do necessário, seria pego no pulo. O jeito, então, foi introduzir o assunto através da atitude anterior.

— Ainda tô surpreso com a atitude positiva do Alisson em relação a nossa saída, sabe? Acho que ele compreendeu bem que cheguei para somar e multiplicar, não dividir e diminuir.

— Oi? — um pouco aérea, Marisa demorou uns segundos a processar o que o amado havia dito — Ah, sim. Verdade. Ele é assim mesmo, uma grande incógnita.

— Eu disse que o tempo ia tratar de abrir a brecha necessária entre a gente, não disse? — rebateu, sorrindo malicioso.

— Abrir brecha o caramba! Tu que jogou a isca e ele caiu! Só isso! — foi a réplica.

— Ah, é mesmo?! Quer dizer que tu acha que, se tivesse feito isso logo nas primeiras vezes que o vi, teria dado certo?

— Claro que não. Conheço meu eleitorado...

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