TRISTEZA
Conversar com Andreas e poder gargalhar, mesmo sendo por poucos minutos, já trazia a Ian um certo aconchego, um ar de quem ainda tem esperança de ser salvo em meio a maré ávida vinda em sua direção. Os temores e a sensação incômoda de ter, de novo, sua vida chacoalhando como morangos em um liquidificador ainda pinicava sua alma doce, lembrando-o de encarar a verdade, mesmo esta sendo espinhosa demais para seu tato à base de cristal.
Levou a turma com ensaios de rotina, buscando um ou outro elemento capaz de justificar o tempo em aula, tendo ciência de não poder oferecer muito mais do que aquilo enquanto faltasse coragem de enfrentar os fatos e seguir em frente, tal qual sempre aconselhou. Tarefa árdua. Pela primeira vez, experimentava o gosto amargo da vida seguindo o curso sem encaixá-lo no contexto. Era uma peça não mais necessária para o quebra cabeça ser concluído, tampouco elemento principal para auxílio na resolução deste.
Quando a aula terminou, despediu-se dos alunos e colegas e correu para casa a passos de lebre. Seu desejo era afundar a cabeça no travesseiro e desligar-se do mundo, até porque Daniel não estaria em casa naquele horário, podendo assim se dar esse luxo sem deixar o primo com o coração na mão. Todavia, havia Diógenes e seus ensaios. Pensou e repensou ao longo do percurso possíveis desculpas, ou até mesmo dizer a verdade. O contra era o tal convite para tocar em Gramado com sua turma. Seria como receber marteladas na cabeça ouvi-lo reclamar, ou, numa hipótese melhor, querendo saber a razão. Chegou em casa convicto a ir e pronto, mesmo com sua mente pedindo outra coisa.
Esquentou a comida feita pela tia na noite anterior e foi comendo enquanto se dava conta de como seria bom poder contar com Ágata. Os dias passados em sua casa foram um verdadeiro chá de tranquilidade. A moça havia prontamente aceitado seu pedido, logo após dele se deparar com as fotos de Dan e Al, sem questionar um minuto sequer, aguardando sua própria vontade de querer partilhar o sentimento.
Quando assim o fez, sentiu um caminhão deixar suas costas, mas, em seu lugar, um buraco escuro e profundo, o qual parecia fechar sem pressa. A menina aconselhou a tentar sair uns dias, mudar a rotina, sugerindo até uma volta para casa. Negou, afinal além do emprego tinha a faculdade tão batalhada por si para conseguir. Achava imaturo largar tudo na primeira dificuldade não resolvida com fórmulas prontas. Ali viu que se esconder de Daniel e seu novo relacionamento seria pouco eficaz. Dois dias depois retornara para sua casa, para alegria de Dan, mas para tristeza de seu coração.
Seus sentimentos cessaram ao ouvir o relógio apitando, indicando que o horário se aproximava. Terminou o resto da comida às pressas, tomou um rápido banho, vestiu uma roupa para não se abalar com a temperatura baixa do exterior e caminhou até a casa de Diógenes. Via no rapaz um reflexo seu, quase uma sombra perdida em outro lar, nome e família.
Poucas características os diferenciavam aquela altura, sendo a principal delas sua insistência em tentar segurar o máximo a bomba em suas mãos, negando-se a explodí-la. Pela primeira vez em muito tempo se questionou se não seria melhor pôr para fora frente a Al e Dan como se sentia para, quem sabe, ver a escuridão se extinguir de sua vida e conseguir enxergar tudo à sua volta outra vez. Tinha certeza que, não só Diógenes, como Andreas e Daniel ficariam se não orgulhosos, surpresos com tal gesto vindo de si.
Na casa do também ex-ficante de Ágata, o próprio lhe atendeu encarando-lhe dos pés à cabeça. Via seu olhar azul perdido por entre o nevoeiro de emoções densas e fortes, só aumentando sua curiosidade e certeza de ter alguma coisa errada e muito grave acontecendo. Quando o encontrou mais cedo, tinha lhe garantido que conversariam a respeito a hora do ensaio. O jeito foi, num primeiro momento, esperar. Sabia que seu grau de relação passava longe de serem confidentes, então, deduzia, qualquer pergunta soaria invasiva e desnecessária.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...