Ametista I

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PAZ DE ESPÍRITO

Desde berço aprendemos muito sobre as grandes conquistas feitas pela humanidade. Para muitos foi a luz, outros a internet, alguns atribuem até mesmo ao streaming o título do melhor ponto onde conseguimos chegar. Se por um lado esses bens ajudaram a construir uma sociedade melhor desenvolvida, por outros acabam da mesma forma como começam: do nada. O mundo gira rápido demais no que tange a matéria. Já os momentos particulares, um café no fim de tarde com quem se ama, uma conversa com quem não se via há anos ou aquele beijo tão almejado são coisas que perduram as vezes por eras, perpetuando assim a convicção inviolável de que somos mais feitos de sentimentos do que de matéria.

A notícia do beijo de Alisson e Daniel chegou aos ouvidos de Amanda e ecoou longe em sua mente. Remeteu a junho quando aquele mesmo rapaz, tão segurou e engajado na luta por sua felicidade ao ter tido a concessão almejada, via-se em desespero por Jeff ter-lhe cobrado uma oral amiga, e surtado com a possibilidade de Gil ter sido seu primeiro contato sexual com alguém do mesmo gênero. Momentos de um passado que aparentava estar tão longe, mas cujos ventos trouxeram consigo as folhas mal escritas, as brisas inconfundíveis da serenidade de ter conquistado o mundo. Diante disso, como não transbordar de amor também? Como não querer compartilhar da emoção pura e simples de estar feliz?

Seu primeiro impulso foi abraçá-lo o mais forte que seus braços puderam. Não conseguia se imaginar na mesma situação que ele, encarando tudo da forma como demonstrou levar seus sentimentos, por isso limitou-se a acreditar que deu o melhor que pôde. Torcia para ver aquele sorriso perdurar por anos a fio para, na velhice, com o coração ardente de amor tal qual ali estava, e com memórias a dar e vender. Alisson aceitou o gesto, retribuindo contente por ter alguém como ela para confiar algo tão especial. Sentia-se acolhido pela gentileza, num ato de reciprocidade a qual ambos sempre tiveram, mas que naquele momento se tornava um símbolo de força de uma verdadeira amizade.

— Gente, nem sei o que te dizer. Sinceramente — a garota desabafou, contente.

— 'Meus parabéns', 'Felicidades'... coisas assim. Que tal? — brincou o mais velho — Também tô bem perdidão, mas acho que tudo vai ficar bem mais fácil agora.

— Se tu desconsiderar a parte que tua mãe vai precisar saber disso, os pais dele também... — lembrou a garota — Não tô querendo ser chata, mas acredito que será o próximo passo né?

— Ainda não. Fazer isso sem antes ter certeza de que vai dar certo é um tiro no pé. Além do mais, isso pode abrir feridas doloridas pra c*r*lho. Temos que tá com tudo encaminhando quando chegar esse dia.

Mesmo que os sentimentos internos já tivessem tomando os rumos previamente vistos por eles, seria loucura atiçar a matilha antes do tempo. Alisson não tinha nem hipóteses formuladas para tentar chegar ao pensamento mais próximo do que sua mãe teria, então deduzia que Dan não estivesse avançado nesse quesito mais do que si. O jeito, então, era tratar de suas intenções primeiro e pensar naquilo depois.

— É... tu tem razão — a moça coçou a nuca. Não tinha contra argumentos — E o pessoal?

— Eles também.

— Mas, Al—

— Mandy, escuta — pediu — Pra começar, o fato da gente ter se beijado ou estar perto de assumir um compromisso não é motivo de exibição de circo. Somos pessoas, não filmes ou fanfics. Segundo, pensa em como a cabeça do Dan deve estar agora. Aí ter que encarar o pessoal perguntando, querendo saber tudo... Isso vai f*der o psicológico dele que já não é dos melhores.

Amanda não via modos de argumentar diferente, afinal de contas o difícil gênio do filho de Isabel custava a entrar nos eixos. Qualquer precipitação poderia, de fato, botar todo o processo a perder. Suspirou, um tanto quanto chateada, procurando mais dar razão aos fatos do que a vontade de saciar a curiosidade dos amigos. Não era hora para aquilo.

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