Verde Folha III

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HARMONIA

Os grandes mistérios por trás de amar alguém seguem sendo estudados e amparados por grandes ciências, tal como Psicologia, a fim de explicar milimetricamente todas as razões pelas quais as pessoas sentem uma atração tão forte. Além do estudo da mente, a Biologia também dá sua contribuição, remetendo as nossas raízes primitivas, as características inquestionáveis do porquê somos seres selvagens por baixo da derme que nos cobre. Já pelo viés da Filosofia, amor é um filtro para se ver a vida com outras cores, sob novas perspectivas... Essas e tantas outras áreas de conhecimento, juntas, buscam nos contemplar. E mesmo assim, Alisson não colocava em palavras seus sentimentos ao sentir os lábios de Daniel colados aos seus.

Ainda que já tivesse acontecido algumas vezes, continuava descobrindo coisas inéditas a cada oportunidade. O toque gerava uma corrente elétrica capaz de percorrer seu corpo em uma fração de segundos, jogando ao céu qualquer possível problema, tristeza ou lástima. Provar daqueles lábios era como assistir a um mesmo filme várias vezes, sempre analisando um ponto diferente, capaz de lhe fascinar ainda mais por fazê-lo. Revivia sua alma, fazendo florescer a certeza de dias melhores, todos vividos ao lado de quem amava cada vez mais.

Com Daniel não era muito diferente. O menor sentia sumir de seu peito cada minuto passado nos dias anteriores, a apatia e falta de vontade de reassumir suas obrigações junto com ela. Nem horas, dias e até semanas foram suficientes para quebrar o elo forte criado entre ele e o mais velho, algo tão único quanto um floco de neve, com detalhes decorativos só deles e que observavam com brilho no olhar. A vida voltava a pulsar em suas veias, devolvendo com ela o prazer e a graça de estar nos braços daquele cujo coração estava em suas mãos.

Em torno de suas figuras, testemunhas aos montes. Não só os olhos delas não conseguiam desgrudar uma pálpebra da cena, como também seus celulares tratavam de eternizá-las. Pareciam não crer no que acontecia, soando estarem presenciando a queda de um meteoro bem perto de suas cabeças. Alunos, alguns pais e vários professores tentavam decodificar o óbvio, pensando quais circunstâncias levaram aquilo. Passava longe de ser problema para os meninos. Estavam presos dentro de sua própria redoma, onde o exterior não mandava nem desmandava, sequer existia. A força viva ali eram eles e nada mais.

— Posso saber a razão? — questionou Al ao pé do ouvido do menor.

— Digamos que sou eu metendo o p*u nos problemas — respondeu de mesmo modo, arrancando risos dele.

— 'Bora meter mais então que tá gostoso — maliciou, pegando-o pela cintura e selando seus lábios uma segunda vez.

Os olhares e suspiros estarrecidos fizeram a trilha sonora da ação, fosse por emoção, surpresa ou desprezo. As motivações variavam muito, podendo contar a quantidade das que iam de encontro com o amor dos rapazes. Uma das contrárias, por exemplo, era Elis, quem parecia ter sido teletransportada para uma dimensão paralela, mas cujo corpo seguia sólido feito rocha no chão. Quando terminaram o beijo e se deram conta da cara da professora de Matemática estar no chão, não aguentaram lançar dardos envenenados.

— Da Vince pintaria a senhora nessa posição, professora — começou Al, rindo.

— Meus olhos vêem, mas não consigo acreditar — confessou a mulher, ainda com o olhar de gato escaldado.

— Olha, sugiro então que a senhora dê jeito nisso, viu? Porque a partir de agora 'tamo juntos pra valer — Dan complementou, sorrindo malicioso.

O comentário foi o estopim para a mulher revirar os olhos e sair, se recusando a acreditar naquela absurda nova realidade, onde seus alunos mais problemáticos resolveram se unir de todas as formas possíveis e imagináveis. Os rapazes riram, imaginando cada um de seus neurônios explodindo com o choque.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora