Verde Amarelado IV

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ARTÍSTICO

Os dias passaram, a vida deu mais alguns de seus giros e a semana preparava-se para findar outra vez. Isabel pouco entendeu na conversa com a supervisora da escola do filho sobre o ocorrido, saindo de lá com mais dúvidas do que certezas. Por sinal, Dan retornara ao trabalho, arcando com vários puxões de orelha e longas horas de discursos sobre boas maneiras. Se havia prestado atenção em cinco minutos tinha sido muito.

Acordou naquela quinta feira ouvindo apenas o som dos pingos d'água caindo no chão. Perguntava-se qual o motivo que levava seu relógio biológico a seguir despertando tão cedo se estava encarando ainda a suspensão. Claro, Jeff lhe mandava todos os dias as tarefas de aula, mas isso não significava que seus cadernos havia saído da mochila em algum momento. Podia então se dar ao luxo de sonhar por mais uma hora que fosse. Como não foi possível, espreguiçou-se, colocou os chinelos e desceu a espera de alguma viva alma ter deixado café pronto.

Para sua sorte, apesar de ainda estar no preparo, Ian terminava de passar. Estranhou vê-lo tão bem arrumado aquele horário e naquele tempo onde a cama clamava para não ser abandonada. Deu 'bom dia', já questionando se os dates já ficaram tão exigentes. O mais velho riu-se, dando um giro rápido para que o primo analisar com maior propriedade antes de responder. Vestia uma jaqueta de couro preta, uma calça azul escura tão apertada que Dan chegou pensava que os testículos do primo viraram omeletes, além de seu all star. De detalhes, só o gel no cabelo castanho rebelde.

— Preciso estar bem pra minha apresentação, né mangolão?! — exclamou, distribuindo seu sorriso quase parte de seu rosto fino e bem desenhado — Vai assistir?

— Por chamada de vídeo vale? — arriscou, levando um tapa no ombro.

— Dá um jeito. Se não tiver lá, não fala comigo até a Rainha Elizabeth bater as botas!

— Como que—

— Dá um jeito — impôs, ainda que sua voz soasse com uma plenitude espiritual invejável, já tirando o recipiente do café do lugar e despejando um pouco do líquido sobre sua xícara posta a mesa — Quem mandou fazer c*g*da?

— Pode deixar que meu clone espiritual vai tá lá — revirou os olhos.

— Tá bem avisado, cabeção — disse, enquanto colocava a primeira e última colher de açúcar no café em mistura com leite.

Dan foi até o armário, tirando de lá uma xícara e colocando sob a mesa. Queria muito poder prestigiar o árduo trabalho realizado durante horas a fio com seus alunos para, enfim, o grande dia brilhar. Rebecca, entretanto, fora específica ao dizer que preferencialmente mantivesse distância da escola nos dias afastado. Destruiria seu coração caso assim não fizesse, tinha certeza.

Seu primeiro impulso subir até o quarto, pegar o celular e avisar os demais amigos a boa nova. Ao menos isso ainda conseguia fazer, amenizando um pouco o sentimento pesado que carregava dentro do peito. Alegrou-se um pouco recebendo retornos de visualização dados por eles, correndo para contar ao mais velho a respeito. Ian agradeceu, afirmando que o evento ocorreria ao longo do intervalo, ainda ressalvando a importância de sua presença lá não importava em quais circunstâncias. Dan revirou os olhos.

— Não tenho déficit cognitivo pra falar quinze vezes a mesma coisa e só aí eu entender — reclamou.

— Ué, pra tanta coisa tu banca avestruz que já acostumei a parecer vitrola quebrada — ironizou o maior.

Tinha horror dos dias nos quais o primo resolvia bancar o palhaço, jogando na cara suas limitações quanto a aceitação de certos instintos. Achava um absurdo ser recriminado por a vida inteira ter vivido com uma face da moeda e, por estar adentrando (mesmo a passos de lesma) neste novo mundo, haver uma força maior querendo tudo sendo resolvido a toque de caixa.

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