Bronze I

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ÁSPERO

Ter amigos é ter com quem contar nas horas de dificuldade. E, por mais estranha que fosse a amizade deles, Gil tinha estima por Alisson e se preocupava com o menino. Talvez fosse um pouco de mea culpa devido ao episódio vergonhoso do beijo entre eles, mas, ainda sim, o carinho era genuíno.

Aproveitando do fraco movimento da manhã de sábado, Gil pediu para Seu Antero um breve intervalo de meia hora a fim de resolver pendências particulares - não as suas, diga-se de passagem, mas o senhorzinho não precisava ter conhecimento disso. Iria a casa de Daniel falar com Ian, afinal sabia o descrédito com o primo do ex. Seria inútil conversar diretamente com ele - além de sua paciência em relação aos mimos dele ser quase inexistente para manter uma conversa civilizada por mais de dois minutos.

Chegou em frente da casa e chamou pelo nome do ex. Este prontamente atendeu, carregando um sorriso sincero e contagiante. Parecia feliz com a "surpresa". Abraçaram-se e, por instinto (e vontade reprimida), Gil acabou por roubar um selinho seu ali no portão mesmo. Ian apenas riu da pequena travessura, dando passagem para o outro entrar.

Isabel e Bruno estavam na sala assistindo a uma série quando eles entraram. Cortez, o convidado comprimentou o casal, sendo respondido com igual cordialidade. A mulher já o conhecia, claro - incontáveis vezes encobriu sua vinda a pedido de Ian, devido ao seu temor quanto à reação de Daniel. Bruno lembrava vagamente da figura, todavia sua memória não fora lá uma grande aliada na busca pela resposta.

Agradáveis, os pais do pequeno rabugento convidaram os meninos a acompanhá-los para assistir ao filme passado na tv, porém negaram. Gil acabou por dizer que não tinha muito tempo e só veio com o intuito de resolver pendências. Para ter mais privacidade, despediram-se dos mais velhos e subiram até seu quarto.

Gil não conseguiu evitar balançar a cabeça e rir do cenário: se a guerra de Tróia tivesse acontecido ali estaria melhor organizado em comparação ao caos existente no cômodo. O maior defeito de Ian, de longe, era esse: ser bagunceiro. Quantas vezes lembrava de ter de limpar o quarto porque o ex passara o fim de semana? Os anos passaram e as manias seguiam as mesmas. Ouviu também um som sendo emitido baixinho do notebook dele. Em primeiro instante, com o pensamento recheado de maldade, achou serem gemidos, todavia viu depois: tratava-se de música mesmo. Porém, não seria incomum se aquilo de fato fossem gemidos...

Para dar lugar ao amigo, Ian tirou o Everest de roupas de cima da cadeira e as colocou no chão, bem a frente do guarda roupas. Gil se sentou, ainda analisando tamanha desordem. O outro bem reparou e sorriu, matreiro como uma criança aprontando e sendo pega no ato.

— Vou organizar, ok? — começou falando.

— Eu espero que sim — falou, de certa forma intimando — Como não tem baratas aqui ainda é um mistério.

Outra risada.

— Bom te ver por aqui — disse, depois de se recompôr — Tá se mantendo sóbrio?

— Não sou um alcoólatra — retrucou, cruzando os braços — Tô sóbrio desde uma festa lá em casa.

— Fico feliz. De verdade. E eu sei que não é, mas, se tu der brecha... Sabe que o teu organismo é sensível quanto à isso.

— Obrigado pela preocupação — agradeceu, mesmo desconfortável com o assunto. Tratou de mudar os rumos logo, até para não se atrasar — Mas vim aqui falar sobre o teu primo.

— Dan?

— A mosca varejeira do Andreas que não seria, né? — ironizou, arrancando um riso debochado do ex — Se o Daniel teve coragem de te falar, tu já deve saber sobre o beijo dele com outro guri.

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