Verde Folha II

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RESTAURAÇÃO

(Protagonista Secundária: Vanessa)

Por mais lindo que céu estivesse; que as árvores balançando ao vento criassem a mais perfeita paz interior; ou até mesmo que a cidade estivesse com as veias de sua selva de pedra fervendo no início daquela semana, o coração de Vanessa, inquieto dentro de si, só se aflingia ainda mais com o adiamento da resolução do problema com seu namoro.

Segunda feira, sete de agosto. Um dia deveras lindo. O sol, radiante como ele só, o céu tão claro e azul que emergia a cidade com sua imensidão... Natureza em sua mais completa harmonia. Ainda sim, os gélidos ventos que rondavam a universidade deixavam seu recado bem claro: o inverno ainda dava suas caras. Não que os formandos do curso de Psicologia se importassem com aquilo. A preocupação maior eram suas togas de formatura, tão próxima de se realizar. O frio podia ficar para depois.

Os vinte formandos faziam tantas poses e fotos quanto sua imaginação (e a do fotógrafo) puderam aguentar. Anos trancafiados em seus quartos, estudando com propriedade como funciona o cérebro humano, suas fraquezas, debilitações, pontos fortes e etc, finalmente, valeriam a pena. Van tentava se unir aquela onda tão intensa de positividade, mas, no íntimo, sabia como realmente estava. Uma de suas colegas mais próximas tentava ajudar, incentivando-a a participar dos últimos momentos como estudantes, e até obteve um certo êxito.

Quando chegou a vez da loira de ser fotografada durante as fotos individuais de cada aluno em estúdio, a timidez e o constrangimento a fazia perder seu charme tão característico. O fotógrafo até tentou relevar em um primeiro momento, porém, vendo quanto material bom se perderia, foi obrigado a intervir e conversar com a menina, pedindo mais liberdade e espontaneidade, como se estivesse em uma festa. Conseguiu arrancar algumas feições mais alegres da menina, nada muito chamativo, porém o suficiente para, pelo menos, sair bonita nas fotos.

Terminada a primeira parte da sessão, o fotógrafo tornou a puxar assunto com Vanessa, ressaltando o quão bacana seria se ela se liberasse mais um pouquinho de seus problemas e focasse na felicidade daquele momento, de estar ali. Perguntava-se se isso era possível.

Desde sua última conversa, não puxou assunto ou correu atrás. Infelizmente, Dan pareceu pensar da mesma forma, contribuindo para seu desânimo. Queria tão bem o namorado... amava-o acima de tudo. Mas tudo estava errado. As peças já ficavam menores do tamanho necessário no quebra-cabeças. Os sinais estavam claros até para a mais descoordenada das criaturas. A grande questão era: Seu coração aguentaria o baque?

A distração lhe impediu de ver suas colegas se aproximando, animadas e engajadas com alguma coisa. Assustou-se quando uma delas, usando cabelo em rabo de cavalo, tocou seu ombro. Deu um leve pulo.

— Desculpa. Não queria te assustar — pediu a menina, gentil.

— Capaz! Tava no mundo da lua, foi merecido — tentou brincar.

— Na verdade, Van, viemos só te pedir uma coisa — uma outra garota, negra de cabelos cacheados e volumosos, comentou.

— O que seria?

— É um pedido feito um tanto em cima da hora, mas pensado e refletido há muito tempo... O que acha de ser nossa oradora?

Um gesto tão bonito e significativo como aquele ser passado para suas mãos seria, no mínimo, honroso. Sentiu-se grata e querida pelas colegas.

— Nossa... — as palavras escapavam de sua mente — Tô... Chocada! Tipo... É sério mesmo?!

— Seríssimo, guria! — ria a negra — A gente só tava esperando chegar hoje, por ser um dia feliz, animado e especial para todos nós.

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