Rosa VII

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ESTIMULANTE

Quando se decide encarar o ofício corajoso e valioso de lecionar, imagina-se quantas pessoas, ao longo de uma vasta e sólida carreira, aquele docente irá encontrar. A sala de aula, no fim das contas, é um microcosmo das massas, onde crianças e adolescentes das mais diversas realidades, sexualidades, raças, até mesmo etnias. Tendo isso em mente, já se pode ver os conflitos se formando, culminando em atos violentos muitas vezes.

Em anos exercendo seu ofício como professora de Matemática, Elis, por sorte, só presenciou conflitos verbais. Ainda sim, quando olhava para as figuras de Alisson e Daniel, perguntava-se quais as razões a mantinham firme e forte a cada ano que passava dentro da sala de aula. Poderia se aposentar, tudo estava a seu favor. Precisava mesmo se sujeitar a isso? Quando entrou naquela sala e viu apenas ambos a encarando com cara enjoada, queria pegar o primeiro ônibus para a secretaria de educação do município de Nova Petrópolis e encaminhar seu pedido de aposentadoria. Não os odiava, claro, era profissional nesse sentido. Agora, seria forçar a amizade dizer que estavam entre seus prediletos.

Deu passos lentos até sua mesa, contando tantos carneirinhos quanto sua mente fosse capaz. Encarou bem as nuvens escuras do lado de fora, que faziam questão de mostrar o quão carregadas e dispostas estavam a continuar com o toró por mais um bom tempo. Suspirou, puxou a cadeira e sentou, olhando olho no olho seus dois pupilos daquela manhã.

— Seremos só nós três, pelo visto — comentou, abrindo já seus cadernos de chamada e caderno com anotações.

— Como assim?! — Dan pareceu indignado — Não tem mais ninguém na escola?!

— Desta turma, não. De outras, sim.

— Menos mal — deu de ombros — Era só o que me faltava. Ficar aqui preso a essa incrível aula quase sozinho.

— Falou bem. Quase — foi a vez de Al se manifestar.

— Não tô falando contigo — o menor disse. A réplica veio na hora.

— Mas eu tô.

Elis, vendo o perigo eminente. Tratou de aquietar os dois e lembrá-los de estarem em um ambiente escolar. Seguiram sem se encarar, mas, pelo menos, ficaram quietos, cada qual em seu canto. Não conseguia entender a lógica de duas pessoas que há poucos dias eram melhores amigas e, naquele momento, poderiam se matar se desse oportunidade.

Os rapazes sabiam (ou quase) o porquê de estarem assim, e sabiam também do tamanho daquela bobagem. Porém, eram orgulhosos, turrões demais para admitirem. Al jamais daria o braço a torcer, ainda mais lembrando a cada instante das palavras do amigo para si no dia da festa do "Wunder Bar".

" Não chega perto de mim, seu viado do c*r*lho!"

Ora, pois assim seria. Ficaria quieto, ou pelo menos o tiraria do sério a cada oportunidade. Faria-o se arrepender, tinha certeza disso, e não demoraria tanto quanto podia imaginar...

Dan, apesar da conversa franca com Ian, resistia em ceder. Desconhecia a razão para tal, apenas queria bancar o forte e destemido, como se fazer o oposto o fizesse parecer fraco. Seu coração persistia em ser teimoso.

Elis, no meio disso, apenas buscava a melhor maneira de fazer daquela manhã proveitosa, mesmo sem poder fazer nada (afinal, haviam dois alunos em sala. Nem por milagre conseguiria). Teve uma ideia, até mesmo para ter sua "vingança" acerca da prova. Pegou um giz e começou a escrever algumas coisas no quadro negro. Tratava-se de um exercício sobre equações binominais e trinominais. Os garotos se entreolharam, confusos.

— Vai dar aula de boa? Sem mais ninguém ter chegado? — Alisson questionou.

— Claro, afinal vocês vieram a aula para aprender, não é mesmo? — rebateu a docente, sorrindo, sádica.

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