Lilás VI

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INFLUÊNCIA DE HUMOR

A surpresa de ver o rosto de Gil em sua frente causou em Ian uma série divergente de emoções, indo desde dúvidas quanto a sua presença à alívio por vê-lo em um momento tão delicado. Ainda que por vias tortas, voltar a ter contato com ele dava um frescor a sua vida, já que sempre se deram bem até o fatídico término o qual consideravam tão precoce. Um ombro amigo lhe servia como uma luva.

Deixou o menor entrar sem maiores cerimônias. O rosto dele, porém, tinha impresso o mesmo ponto de interrogação o qual ele próprio teve ao encontrá-lo ali. Sentia ter caído numa espécie de universo paralelo, ou um sonho provocado pelo possível uso de entorpecentes causadores das mais diversas reações. Sentaram frente a frente, um em cada sofá, buscando um no outro respostas para suas perguntas.

— Chegou hoje? — Gil questionou, com as mãos entrelaçadas e os braços entre as pernas.

— É... Precisava espairecer e resolver umas coisas aqui com o Andreas. Ele tá aqui, tu já deve saber.

— Sim. Soube — limitou-se a responder — Ele não comentou que tu viria pra cá.

— Ele não sabia. Cheguei de surpresa — coçou a nuca — Tu... precisava falar com ele alguma coisa? Bom, se era algum recado pra mim—

— Não, não. Era coisa nossa. Nada demais.

Se antes as dúvidas já não eram poucas, o número aumentou com a colocação. Quando recebeu a ligação do primo mais velho, Ian lembrava dos esporos recebidos em virtude do encontro dele com seu ex, sem em momento algum falar a respeito de qualquer assunto entre eles. Como Gil parecia se esquivar de falar, o jeito foi deixá-lo conversar a sós.

— Se tu quiser, posso dar uma saída e vocês conversam. Acho que ele vai mesmo querer ver a fuça de qualquer um, menos a minha.

O maior franziu a sobrancelha.

— Capaz! A casa é de vocês... Mas foi séria assim a coisa?

— Ele não ouve o que eu falo. Parece que é informação demais pro cérebro dele.

— Caso Daniel de novo? — revirou os olhos — Conheço essa lenga lenga desde quando namoravamos.

— Antes fosse...

De novo, Ian contou o acontecido a Diógenes, a briga deles antes dele ir à casa de Ágata pela última vez. Tal qual ocorreu com o primo, Gil trocou de cor escutando aquilo, até sentiu cada célula sua se ouriçar. Sua pele já tão branca ficava sem tom algum. Não foi tarefa fácil falar uma segunda vez a respeito, mas era importante o menor entender o contexto daquela história toda entre eles. Confiava em sua opinião, tendo a convicção de expôr o que achava sem melindres.

Ao chegar na parte a qual envolvia o primo, porém, o espanto deu lugar a uma irritação sublime, vista na expressão seca de um inimigo precisando engolir a presença de outro. Ian, entretanto, seguiu contando sem poupar os detalhes, o que, pelo que podia perceber, em nada estava ajudando.

— Sabe o que me impressiona? Tu realmente acreditar que essa conversa ia acabar bem de alguma forma — confessou Gil — Esse papo teu não tem início, tem um meio bizarro e tô até agora tentando entender o final.

— Quando a gente passa por uma perda tão trágica como essa a vida ganha uma camada a mais. Fica claro que a qualquer instante pode chegar a nossa vez, e precisamos cuidar bem de cada minuto pra não partir em vão como ele.

— Então eu te pergunto: Deu resultado? — o outro baixou os olhos azuis, fitando o sofá. Gil revirou os olhos — Ainda me presto a perguntar o óbvio.

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