Roxo I

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IMPRECISÃO

Passar as tardes na confeitaria dos tios podia ser um serviço extremamente "chato", mas às vezes algumas coisas faziam Daniel trabalhar com uma motivação maior.

Naquela quinta feira, por exemplo, o casal de idosos que ele vira na praça no dia em que reatou com Van apareceu lá.

— Olha se não é o garotinho que vimos aquele dia Antônio! – Exclamou a senhora.

Porém, o senhor olhou bem para a figura de Dan e não pareceu lhe reconhecer. A esposa ficou com um semblante meio entristecido, porém tratou de fazer o pedido.

— Dois cafés e dois pães de queijo filhinho, por favor.

— E-eu preciso ir ao... Ao... – Antônio tentava formar a palavra.

— Ao banheiro querido?

— Isso!

— Tu podes ajudar ele chegar lá queridinho?

— Claro! Por aqui seu Antônio – Dan foi orientando o senhor até o banheiro. Assim que entregou a comanda com o pedido para a tia, ele ouviu.

—Mocinho, por favor! – Era a senhora.

— Tu não esqueceu nada né Daniel? – A tia queria lhe fuzilar com os olhos.

— Não tia! Eu juro! – O rapaz se defendeu.

— Então vai lá ver o que aconteceu.

O rapaz suspirou e foi em direção à mesa onde estava a gentil senhorinha.

— Algo não está do seu agrado senhora? – Perguntou educado.

— Oh não! Está tudo perfeito. Fica tranquilo! – Ela sorriu – Só queria pedir desculpas por meu marido não ter lhe reconhecido.

— Capaz! Faz tempo que nos vimos. É natural que ele não se lembre.

— Em outros casos pode ser, mas não no dele – A senhorinha suspirou – Ele está com o mau de Alzheimer. Está se esquecendo de tudo aos poucos.

— Poxa – Dan passou a mão na nuca. Não sabia o que dizer – Sinto muito.

— Tudo bem – A senhora tornou a sorrir – A gente vai se adaptando as coisas por amor né?

Dan sorriu tímido. Ele entendia bem o que a senhorinha dizia. Mudou alguns de seus conceitos mais íntimos por amor a Vanessa, uma menina que um dia fora um rapaz como ele.

— Eu... Eu entendo. E sim, mudamos muito por amor dona...

— Maria Célia. Me chamo Maria Célia. E imagino que sim. Naquele dia tu estavas indo se acertar com aquela moça tão linda né? Qual o nome dela?

— Vanessa – Dan disse com felicidade – Sim. Eu e ela nos... nos desentendemos.

— E agora estão bem?

— Dentro do possível sim – Garantiu ele.

— Que ótimo! – Exclamou Maria Célia antes de se levantar – Agora com licença. Vou ver como o Antônio está lá. Todo cuidado pode ser pouco.

— Ah claro. Fique à vontade!

E lá se foi à senhorinha de vestido roxo até o banheiro. Daniel aproveitou para retornar ao balcão, onde já estava preparado o lanche do casal de idosos. Mal chegou para pegar à bandeja quando a tia lhe deu um tapa no ombro.

— AI! Isso já tá virando neurose tia! – Exclamou ele.

— Nada de maltratar pessoas de idade! Ficou louco de vez é guri?!

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora