Preto II

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MEDO

No dia em que Alisson conhecera Gil, imaginou que ambos seriam grandes parceiros de trabalho. Imaginou que talvez até tivesse encontrado alguém interessante para conversar e avaliar sua vida de um ponto de vista que não fosse o seu, que via de regra era perdido e confuso. Porém, veio à armação. Até hoje o rapaz se perguntava se Gil realmente só queria provocar o ex, ou deixá-lo a mercê para julgamentos. Dúvidas a parte, aquilo deixou Al desconfiado do rapaz e de seu caráter, ainda mais depois quando para ajudar veio a cena dele com Ian. Desavenças, brigas, discussões, ofensas e humilhações... Tudo isso parecia ter caído por terra naquele momento. Ali estava um Gil completamente exposto, frágil. O garoto já chorava sem parar há pelo menos dez minutos e Al já não tinha mais nem tino pra fazer o que quer que fosse.

— Ele foi o guri mais importante da minha vida – Em determinado momento quando o choro parou, foi que o garoto voltara a falar – Ele me deu tudo de mais lindo no que se trata de sentimentos. Ele me amou de um jeito que... Nossa, nem sei explicar. É como se ele tivesse me levado ao paraíso mesmo.

— Que gay – Al deixou escapar, notando em seguida a idiotice que dissera – Foi mal. Força do hábito.

— Tudo bem. Não to com cabeça pra militância. Só queria entender que p*rra eu tenho na minha cabeça que deixei escapar o melhor guri que tive na vida?

— Velho, de guri eu não entendo, mas sempre perdi minhas namoradas pelo mesmo motivo.

— Qual?

Al suspirou.

— Eu... Não me doava que chegue para dar certo. Eu agia como se fosse uma ficante fixa, não uma namorada. Acabei fazendo várias m*rdas e perdendo minas que além de gostosas eram legais pra c*r*lho.

— E acha que eu não me doei o suficiente também?

— Desculpa te perguntar, mas porque vocês terminaram?

Gil então foi se acalmando, regulando sua respiração até que respondera.

— Eu traí o Ian numa festa de aniversário de um amigo nosso – Relembrava – Ele insistiu muito pra eu ficar em casa com ele e assistir a um filme lá que nem sei qual era, mas eu disse pra ele que eu queria me divertir e que achava estranho ele não querer ir também. Ai ele me respondeu que tava com a sensação de que algo ruim aconteceria e como eu nunca acreditei nessas bobagens eu fui.

— E ai acabou pegando um carinha?

— Eu tava até meio bêbado sabe? Aí surgiu um boy lá que era primo do amigo meu que tava de aniversário e ficou puxando conversa. Ele inventou um papo de que tinha que ir no quarto dele buscar o celular, pois a namorada dele podia mandar mensagem a qualquer minuto dizendo que tava chegando, e que se eu quisesse podia ir junto. Eu fui porque tava bêbado já, se fosse em circunstâncias normais óbvio que eu desconfiaria.

— E ai ele te agarrou?

— Muito. Como não sou de ferro acabei cedendo, mas ficamos nos beijos só. Logo o celular dele vibrou em baixo da gente, ele desbloqueou a tela, deu um sorriso e disse que a mina dele já tinha chegado.

— Se ele era hétero, porque foi ficar contigo?

— Eu falei com meu amigo. Ele disse que esse guri é bi, e que a desculpa dele é que precisa alimentar os dois lados.

— Nossa. Que idiotice.

— É, mas a idiotice não foi só dele. Foi minha também – Gil falava cabisbaixo – Porque eu fui tão fraco? Eu amava o Ian, eu AMO o Ian... Porque eu fui me agarrar com um macho escroto daqueles?

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora