Preto III

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MEDO

Saber da história da própria vida é o sonho de qualquer um que não tenha uma parcela de informações a respeito de si próprio. O problema é que nem sempre saber de sua história pode ser necessariamente bom. Era o caso de Al naquele momento. Ter noção dos fatos que rodearam seu nascimento, não fora tão promissor quanto ele sempre sonhou que seria. Ao contrário, o fato tirou de si às já limitadas esperanças que tinha de um futuro melhor.

Estava deitado em sua cama encarando a foto onde estava seu "pai". Encarava este com um olhar que podia ser compreendido de muitas formas: Medo, decepção, tristeza, estranhamento e decepção eram alguns dos atributos que podia ser usados para descrever tal ato.

— Filho — Marisa começou — Eu só quero que saiba de uma coisa: Independente de tudo, tu ainda é o meu filho amado. Não interessa o que levou ao teu nascimento e em quais circunstâncias ele aconteceu.

Al então levou seus olhos ao rosto da mãe. Era nítido o desconforto que esta sentia por ter de tocar naquele assunto. Seria assim tão ruim? O que de tão grave poderia ter acontecido?

— S-se a senhora não quiser, não precisamos falar sobre – o garoto respondeu quando a mãe o interrompeu.

— Tu tá certo filho. Eu... Não posso te negar o conhecimento da tua história. Teu pai não está aqui por um motivo e tu merece saber o porquê.

Sentiu seu estômago gelar. Agora estava tão próximo de descobrir a verdade, de saber sobre sua origem... Mas o medo lhe causava uma sensação tão estranha que nem mesmo conseguia descrever em palavras. Era como se soubesse que uma bomba estava para estourar em seu colo e não pudesse fazer nada para impedir. Quer dizer, poderia ter feito, o problema é que sua vontade em ter as respostas que tanto procurava o deixaram cego demais para perceber que talvez fosse melhor certas coisas ficarem no passado.

Encarou a foto novamente. Desta vez com um ar de desconfiança no olhar. Passou a observar cada um dos sujeitos presentes nela a fim de descobrir qual deles poderia ser o homem que causou tanto mal a sua adorada mãe. Talvez pela aflição do momento, não encontrava nenhum que fosse parecido consigo. Mordeu o lábio inferior por causa do nervosismo aparente.

— Quem ele é? — perguntou, com a voz rouca. Parecia ter se formado um nó em sua garganta.

— Esse aqui — Marisa então apontou para um homem que estava abraçado a outra moça.

Tratava-se de um sujeito que, a julgar pelo ângulo da foto, era alto. Tinha cabelos negros assim como seus olhos, um porte atlético mostrado sem pudor já que estava sem camisa e usando calção de banho vermelho. Sorria para a foto.

— Sim. Ele era namorado... Da tua tia.

— DA MINHA TIA? — exclamou o garoto — Como assim, mãe?

— Antes que tu venha com sermão, me escuta. Só isso que eu te peço.

Mesmo contra a vontade e bufando por dentro, acenou em sinal positivo para ela com a cabeça.

— Pois bem — Marisa — Como eu te disse, ele era na época um namoradinho da tua tia. Nos divertíamos muito juntos, sabe? Todos nós, aliás. Sempre os quatro, reunidos pra fazer bagunça, coisa de jovem. Ele frequentava lá em casa, assim como o meu namorado da época também. Eram tidos quase como filhos pelos teus avós, afinal, tínhamos um relacionamento estável com ambos.

Al ficou por algum tempo encarando o teto processando a informação.

— E... Quando foi que aconteceu tudo? — questionou, fazendo a mãe suspirar fundo.

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