MELANCÓLICO
Cada minuto que passamos dentro da roda da vida é contabilizado pela precisão de ser único e impossível de se ter de novo. As infinitas máximas sobre como devemos dar valor ao mais simples dos momentos já são batidas. O problema é que, de tão batidas, doem. Sofrer isso na própria carne nunca é uma experiência agradável. O gosto amargo que fica na boca acompanha a vida dos envolvidos para sempre, junto ao eterno pesar de não ter dito tudo quando havia tempo.
Acordar naquela manhã do dia 18 de setembro foi apenas o início de algo o qual gostaria muito saber ser apenas um delírio seu, nascido do uso de alguma substância ilícita. A lembrança do celular tocando com uma Ágata aos prantos do outro lado falando que estava em um hospital após Diógenes ter sofrido um acidente cortou seu coração em mil pedaços. Saber que alguém tão moço deu adeus a este mundo, sem realmente querer fazê-lo, era mais profundo do que triste. Era horrendo.
O tempo em Nova Petrópolis pareceu respeitar o sentimento deles. As nuvens cinzentas cobrindo todo o território da cidade, somada a brisa fraca, mas gélida, mostravam suas condolências a todos os envolvidos na vida do rapaz recém falecido. Ian vestiu a roupa preta arrumada pela tia com uma sensação horrível dentro do peito, algo com o qual não pensava em lidar tão cedo. O terno, sempre com ares de elegância, de repente perdia seu brilho. Uma estrela que se apagava diante do espelho, tal qual seus olhos, sempre um azul vivo como uma lagoa, ali um mar salgado.
Tanto Isabel quanto Bruno ficaram até mais tarde em casa para dar suporte ao sobrinho, ajudando-lhe no necessário. Tomaram café com o rapaz, tentaram conversar e se dispuseram a levá-lo no velório. Daniel a mesma coisa. Tão logo acordou foi procurar o primo para lhe dar um abraço, uma vez que soube tarde da noite por Vanessa, lhe mandando mensagem contando e pedindo que desse suporte ao primo, uma vez que devia estar sofrendo.
Questionando se o mais velho queria que fosse junto, Ian negou, já que ele sequer conhecia Dio. Antes de ir para escola, dá mais um abraço e diz que poderá contar consigo sempre. Emocionado, o maior agradece. Isabel, porém, impediu Dan de ir sozinho, alegando que lhe levará para resolver "aquele assunto" pendente. Coube a Bruno a incumbência de levar o sobrinho ao local indicado. E assim fizeram. Concluído o café da manhã, foram até a igreja dada por endereço via Ágata.
Bruno procurou respeitar o momento de Ian, afinal sabia bem como era bom quando alguém não ficava puxando conversa demais, ou querendo se meter sem necessidade. Não abriu a boca, apenas para perguntar das coordenadas. Mesmo porque, vendo-o daquele jeito, seria difícil manter qualquer tipo de diálogo. O garoto de olhos claros não podia ter ficado mais agradecido. O dia não era de pôr os assuntos em dia. Ao chegarem, Bruno questionou se gostaria que viesse lhe buscar, mas o rapaz negou, alegando pedir um motorista de aplicativo depois. O homem sorrindo, dando um ligeiro abraço no sobrinho, pedindo que tivesse força. Ele agradeceu, descendo do carro e caminhando até a capela onde tudo fora preparado.
Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha à medida em que caminhava até o local. Era a primeira vez depois de alguns anos que precisava encarar algo daquela magnitude. A última, ainda tinha viva na memória, quando se despediu de sua avó. Um momento no qual nem sabia direito o que sentir, tampouco fazer. Agora, passado tanto tempo, a sensação seguia. O pior era saber que, mesmo dolorosa, o ciclo da vida não havia sido alterado. Já ali, Diógenes tinha muito o que viver e descobrir.
Apresentou seus sentimentos aos pais do menino, seguindo pelos parentes próximos. Amigos não cumprimentou, apesar de alguns estarem mais chocados do que alguns parentes presentes que pareciam estar vendo um estranho. Cumpriu a etiqueta, parando frente ao corpo frio do menino sobre o caixão. Parecia dormir o sono dos justos, mergulhado em um descanso tão tenro e sereno que nada mais poderia lhe atingir. Não se viu capaz de segurar algumas das lágrimas escorridas por seu rosto cor de areia molhada. Um aperto enorme lhe tomava fôlego de vê-lo.
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...