Bege II

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FLEXIBILIDADE

Nova Petrópolis: Um pequeno paraíso perdido na Serra Gaúcha. Cidade pequena, impossível alguém não se conhecer, árvores e flores para alegrar os dias tristes e enriquecer os dias felizes. Um lugar onde a urbanização e as raízes coloniais andam juntas em harmonia - Se vê progresso e se vê história. Não só a história contada pelos livros didáticos, pelos moradores de mais idade (Causos, Lendas Urbanas, etc)... A história da gente, que é vivida por todos nós todos os dias. Ela não começa com "Era uma vez..." e termina com um final feliz, mas certamente pode ser tão mágica quanto um conto de fadas.

Podia se considerar que o "conto de fadas" de Ian se iniciou no dia que o primo saíra de Porto Alegre. Um início triste para si. Enfrentou um sentimento tão diferente quando em contraste com sua personalidade, que o assustava: Tristeza. Na medida do possível, a alegria era sua injeção de vontade de viver e naquele momento sentira uma falta absurda disso. O tempo passou, o sentimento foi se mantendo, culminando enfim no dia em que fora visitar Daniel pela primeira vez desde a mudança. Era um dia de calor estrondoso, meados de Dezembro de 2005. Junto de sua família, o segundo mais velho entre os primos fora com a família passar algumas semanas na casa de Dan (Então com seis anos). Seria o primeiro dia de duas semanas que ficaria com o primo.

Jogavam despreocupadamente um jogo de corrida do Playstation 2 de Ian (Então com oito anos). O mais velho, habilidoso, por vezes deixava o menor ganhar. Sabia que Dan era teimoso e egoísta: Odiava perder e dava um show quando acontecia. Nas primeiras vezes, chorava. Com seis anos, se limitava a reclamar. Ambos estavam sem camisa e sentados em um sofá de cor vermelha presente na sala. Os pais preparavam o almoço.

— Tu sabe que eu sou melhor que tu. Confessa – Dan se gabava.

— Claro – Mentia o jovem enquanto sorria. Naquela época, a impressão que passava era que seus olhos azuis eram mais claros que na atualidade, mas não menos belos – Dá pra contar nos dedos quantas vezes eu ganhei de ti.

— O Drê não acredita no que eu falo e me chama de mentiroso. Aquele bobão.

Ian segurou o riso. Uma das coisas que mais o fascinava no menor era o quanto, apesar de reclamar e ser ranzinza, conseguia ser ingênuo e criança. Com tal idade, ele próprio já explorava tudo para poder conhecer sobre tudo – Sua curiosidade não se saciava com meia dúzia de coisas que os pais lhe respondiam. Já Dan só queria brincar. Admirava isso.

— Não liga pra ele não, primo – Abraçou-o –Tu sabe que tu é campeão nato.

— Credo, Ian! – Exclamou – Tu tá mais forte né?

O mais velho sabia que não, porém adorava vê-lo admirado com seus "Pontos fortes".

— Claro que sim! Olha meu muque! – Mostrou seu quase nada de músculo, mas que deixou o primo impressionado.

— Caramba – Comentou – E como conseguiu isso?

— Fácil ué. Só comi muito feijão.

— Feijão? Só isso?

— Feijão com molho de pimenta.

— MOLHO DE PIMENTA?!

— Sim! Como a pimenta é forte, ela deixa o estômago bravo e faz ele mandar mais vitamina pro corpo todo.

— Verdade? – Questionou incrédulo.

— Se aconteceu comigo é porque é verdade né?

Adorava pregar algumas peças no menor quando podia. Isso ajudava a neutralizar seu egocentrismo, deixando uma convivência mais leve e menos centrada nas coisas "fantásticas" que o mais novo podia fazer. Dan o admirava (Como ainda o admira até hoje) e sabia disso. Dos primos o mais próximo sempre foram ambos. Os demais se gostavam entre si (E até mesmo para com eles), mas Daniel e Ian? Eles eram irmãos de mães diferentes. Sempre estiveram juntos nas horas mais improváveis que o destino podia provocar.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora