Era como se eu vivesse um djávu intenso.
Novamente, cá estou eu, tomando uma responsabilidade que, absolutamente, não é minha. Ok, talvez seja só um pouquinho.
Eu tinha o esquecido. Gabriel não era mais uma pessoa presente na minha vida desde a fatídica noite do baile, na qual ele tinha conseguido acabar com quaisquer resquícios de amor próprio que uma Emma versão adolescente teria. Mas, apesar das cicatrizes que permaneceram e de decisões que tomei no calor do momento, eu havia superado o Blake.
Até agora.
E eu me sinto de novo aquela nerdzinha que tem tomar todas as dores do amigo babaca que, mesmo sendo inteligente, escolhe ir para os caminhos mais errados possíveis.
Caminho errado esse, que me trouxe de volta a um dos homens que eu não gostaria de ver nem tão cedo. Até porque, da última vez que me encontrei com o Rodrigues, ele chutou o meu traseiro gordo sem dó e piedade, me lembrando que eu posso ser sim, muito boa, mas ele é dez mil vezes melhor.
Rodei meu nunchaku — uma arma oriental presente em um monte de filmes do Bruce Lee — várias vezes, tentando fazer um showzinho antes de atacar, porém meu adversário só sorriu e fingiu bocejar.
Quando o movi pela última vez, girando meu corpo junto e o lançando contra ele, não escutei impacto ou grito de dor esperado. Sentindo a curiosidade me corroer, virei, vendo Rodrigues parado com os braços cruzados e os bíceps deliciosamente contraídos.
Tudo bem.
Tenho uma coisa séria a confessar.
No meu tempo disfarçada no Ginásio eu posso ter desenvolvido uma espécie de tara pelo monte de músculos que estamos falando. Rodrigues era gentil e gostava da ideia de ter uma "aluna" aplicada e nossas lutas, — as coreografadas, como uma dança — eram sempre um sucesso. Eu gostava da companhia, do sexo selvagem e maluco que fazíamos, até ele descobrir que eu era uma farsa e me bater de verdade, me mandando para uma UTI e blábláblá.
Acho que ele ficou magoado ou algo do tipo.
E, pelo que parece, não perdeu a oportunidade de me dar outra surra.
Por que esse tipo de coisa só acontece comigo?
Tentei outro golpe com a arma, mas ele só desviou e ameaçou dar um soco. Rapidamente, esquivei meu corpo, escorregadia como sabão. Exibi um sorriso vitorioso que logo desapareceu quando ele se aproximou como um touro e me derrubou no chão, imobilizando-me com o peso de todos aqueles músculos, bíceps, tríceps... Hmmmm...
Acho que vou querer ficar aqui por um tempinho.
— A penúltima coreografia... — o timbre grosso e límpido do Rodrigues soou, me fazendo franzir o cenho.
— Perdão? — tentei sair do seu aperto, debatendo as pernas, mas foi impossível.
Sua risada saiu mais pelo nariz, com uma lufada de ar no meu pescoço. As pessoas gritavam o nome dele como um louvor. Que reforço positivo do caralho, não estou ouvindo um único "Emma".
— Vamos fazer a nossa penúltima coreografia, Emm. — disse, assoprando propositalmente na pele sensível a seu merce. É impressão minha ou ele está se aproveitando?
Vasculhei minha mente e lembrei rapidamente.
— A que eu ganho?
— Ela mesmo, agora... Levante!... — fingiu ter sido acertado na virilha e eu me ergui de maneira veloz. Testei, lançando meu pulso contra o maxilar dele que "não" viu e acabou o acertando em cheio. O impulso de sacudir a mão e gritar um "ai" foi enorme, mas me controlei.
Rodrigues cuspiu o sangue e virou pra mim, sorrindo com os dentes vermelhos. Ergui minhas mãos para tentar o unhas e, como o combinado, ele a segurou e eu virei com tudo, girando o braço dele em seguida o máximo que pude, evitando quaisquer movimento que fosse abrupto para não o quebrar, mas o suficiente para fazê-lo gritar de dor e eu enfiar o joelho em sua costela, o derrubando facilmente e montando em suas costas.
As pessoas gritavam, estasiadas e quando eu puxei a faca do estojo abaixo da minha axila, o silêncio se fez presente. Assim que ergui a faca, o dito cujo bateu cinco vezes, me entregando a luta e, automaticamente, tornando-me a vencedora.
Olhei de queixo erguido para o Blake que levantou, assustado.
Já o Paul, me fitava com a desconfiança tomada naqueles olhos claros.
É, acho que alguém descobriu a armação.
— Não deveria me agradecer, agente Karson? — a mão forte de Rodrigues encontrou a base da minha cintura nua e o senti puxando uma das minhas armas. Sorrindo, finquei minhas unhas nas coxas grossas dele, que grunhiu baixo. — Parece que alguém está melhor que nunca. Considere o dinheiro das apostas dessa noite como um pedido de desculpas pela surra que te dei...
Enrugo a testa. Porque todo mundo tem que lembrar disso?
— Você apanhou também. — reclamei.
Ele riu.
— Você saiu bem mais danificada que eu, agent...
Me viro, tapando a boca dele.
— Não me chama de "agente" aqui! — sussurrei e ele ergueu as sobrancelhas, ameaçando lamber minha mão. Rapidamente, a tirei e semicerrei os olhos. — Infantil.
— Você sabe que todo mundo já tem conhecimento da sua verdadeira "profissão", certo?
Meu olhar caiu em um Blake distraído com as investidas do Paul.
— Nem todo mundo. — suspirei.
Rodrigues retirou a mão e se encostou em mim.
Ainda bem que todo mundo já está indo embora.
— Caso novo?
Aquiesci.
— E complicado.
A risada dele foi baixa, mas o bastante para chamar atenção do Gabriel, que fixou o olhar castanho em mim e eu... Bem, eu fixei meu olhar em outro canto mais interessante dele. Seu abdômen desnudo e com aqueles gominhos a mostra.
— Bem, eu tenho que ir...
Me virei, oferecendo um sorriso sincero ao Rodrigues.
— Obrigado por isso... — comecei e ele ergueu a mão.
— Não agradeça, você não está tão em forma assim para lutar como antes... — o seu tom não era de zombaria, era mais uma advertência. — Volte a treinar mais intensamente, agente Karson... — piscou e se foi, me deixando no tatâmi com um corte na boca e o olhar curioso do carinha mais irresponsável do mundo.
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7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter's
ChickLit#3 LUGAR EM AÇÃO (07/04/2019) #5 LUGAR EM AÇÃO (05/04/2019) RENDA-SE AO FOGO DO PRAZER. ANTES, Uma adolescente gorda; Um garoto estúpido; Uma amizade improvável - e talvez por interesse?; Uma decepção imensa e já esperada. A...