Capítulo 59 · Gabriel Blake ·

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        — Gabriel, você consegue me ouvir? 

        — É claro que ele consegue, mas com todo esse estrago deve doer só pensar em mover um único músculo.

        — Keller... 

   As vozes soavam distantes e dizer que até a minha alma doía não era puro exagero. Minhas pernas, estômago, braços, maxilar... Todos latejavam de forma intensa e constante. Por mais que eu quisesse abrir a boca para responder, algo aparentava me impedir. 

   Como cheguei até isso? 

   Simples e objetivo: Um dos prisioneiros descobriu que eu era amiguinho da Emma e resolveu partir pra cima, já que foi ela a responsável por condená-lo diretamente à pena de morte. 

   Só que eu não iria deixá-lo me esmurrar e não revidar. 

   Tudo estava bem e até consegui submetê-lo a mim com alguns chutes.

   Mas como toda alegria dura pouco, os amigos deles chegaram e como podem ver, eu fui encaminhado para a enfermaria. Posso ser muito bom de briga, mas não consigo dar conta de dez caras em uma luta só. Acho que devo dar graças a Deus por ainda ter os meus dentes inteiro — apesar de achar que algumas das minhas costelas deram adeus. 

  Porém, o mais intrigante é como eles sabiam sobre a minha relação com a Karson e, como de forma automática, todos sentiam ódio de mim por causa disso. 

 Era quase como se isso tudo tivesse sido orquestrado. 

  E quer saber? 

  Não duvido nada. 

  Os Reich? 

  Alguém dos Cuervo?

  A própria Emma?

  Seja quem for, devia estar bem irritado comigo, pois não consigo sequer respirar sem sentir várias partes do meu corpo reclamarem em conjunto. 

  Quem diria, menos de uma semana na prisão e quase sou assassinado. Até eu tinha mais fé em mim mesmo, pensava que ia durar pelo menos uns três meses. Entretanto, na devida situação na qual me encontro nesse momento, creio que se eu durar mais umas doze horas, será de bom ganho. 

 Um leve calor sob meus dedos me faz ter o impulso de abrir os olhos, no entanto, a claridade me faz apertá-los, incomodado. 

    — Aperte o meu dedo se conseguir me escutar... — o tom de voz rouco estava suave. Não tentava demonstrar imponência ou qualquer coisa do tipo. Parecia apenas ela. — Por favor, Gabriel, não me faça sentir mais culpada ainda... 

 Mesmo sem abrir os olhos e sentindo minha garganta seca, tento falar algo. 

    — A luz... — consigo falar num sussurro quase inaudível, mas, rapidamente, ela larga minha mão e toda aquela branquidão some. Aliviado, suspiro, sentindo algo na região do meu tórax latejar. — Graças a Deus, mais um minuto com aquela luz branca no meu rosto e eu teria pensado que já estava indo para a cidade dos pés juntos, dar um oizinho para o diabo... 

Emma suspira. 

— Apesar de achar que estou vendo um anjo moreno e que veio para me salvar... É tão contraditório... 

  O cabelo castanho estava preso em um coque mal feito e aparentemente, sem a tão rotineira escova. Algumas mechas levemente cacheadas caíam sob seu rosto, emoldurando-a. A pele livre da maquiagem e com poucos sinais das lutas anteriores. Os olhos levemente felinos me encaravam de maneira fixa e eu também não tinha muita vontade de desviar o olhar. 

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora