Capítulo 71 · Emma Karson ·

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— Eu não acredito que você está negando fogo, Blake! 

Se eu estava me esquivando vergonhosamente do assunto "Keller, Enzi e Reich"? 

Com toda certeza. 

A verdade é que eu não me decidi e nem estou muito afim de fazer isso, admito que passei perto de mandar a Melina deixar meus dois garotos irem sozinhos e ficar aqui, comigo, só para ela não inventar de se apaixonar por eles. Sim, estou sendo estúpida e egoísta. 

— Pelo tempo que passamos juntos posso deduzir que você está querendo me socar e sair correndo daqui, só para não conversar sobre. Já me subornou com sexo e confesso que está sendo difícil de dizer "não" a você. Mas temos que falar sobre isso, Emma — como esse maldito homem ficou tão... Maduro? 

— Você não vai querer falar sobre isso... — aviso de antemão, levantando e procurando algo para comer na cozinha da Melina. Será que, por um milagre, ela teria bolo? Estou com uma vontade... 

Olha, sorvete! 

— Porque? Acha que não posso agir como uma pessoa adulta e lidar com a verdade? — eu estava prestes a pôr uma colherada na boca quando o escuto falar e irrompo em risadas. Irritado, Blake me encara, cruzando os braços. — Do quê está rindo, Karson? 

— Talvez da sua falsa esperança em se tornar um homem compreensivo e maduro — resolvo pegar o pote inteiro de sorvete e o olhar dele me segue, parecia assustado com o tamanho do recipiente. Eu estava com fome! — O que é, Gabriel?! — aponto a colher pra ele, que abre a boca, enrugando a testa, mas fecha em seguida, parecendo repensar. — Ainda bem que ficou calado. 

— Por que o Enzi estava sorrindo? Como você se sentiu ao descobrir que estava grávida de mim? E, pelo amor de Deus, me diz que você esmurrou aquela cara arrogante do Keller! — desenfreia a falar e eu me jogo no sofá, olhando para o teto e perguntando mentalmente a Deus o que eu fiz para merecer o Blake. 

Devo ter sido uma garota bem má, viu. 

— Porque eu devolvi o posto dele de chefe da segurança, já que você subornou o Keller para entregar o dinheiro e a mansão em troca de algumas horas comigo. E, eu já sabia disso desde a primeira visita que fiz a você na prisão, seu lerdo. — resmungo, olhando feio e me agarrando ao pote de sorvete. Acho que um pedaço de pão cairia bem aqui... — Pega um pão pra mim? — peço, pestanejando e tentando ser adorável. 

Ele geme, esfregando o rosto, aparentando estar frustrado. 

Como um louco, ele vem em minha direção, tomando meu pote de sorvete. 

— Blake, devolva esse pote ou, quando você estiver dormindo, vou arrancar o seu pau e costurar na sua testa! — rosno e, horrorizado, ele estende de volta, porém, antes que eu possa pegar, ele o puxa de novo. — Depois não diga que eu não avisei! — cruzo os braços. 

— Emma — respira fundo — Você já sabia disso tudo e ainda sim tomou um porre? 

No dia do porre eu não sabia — meneio a cabeça, fitando ele com total incredulidade — Eu nunca beberia daquele jeito se tivesse certeza. Só vim desconfiar depois da reação do Enzi e Alex. E também porque a falsificação no exame de sangue foi horrível — explico, me endireitando no sofá. — Confesso que fiquei assustada — suspiro — Ainda estou. Todavia, eu tenho que lidar com isso de frente. Eu estava decidida a largar todos vocês e ir viver sozinha. 

— Você ia me deixar longe do meu filho? 

Reviro os olhos com a mania dele de achar que nosso bebê vai ser homem. Venho de uma família que o único menino é o irmão da minha prima Eva. O único. E mais bonito, porém isso não vem ao caso agora.

— Ou filha. — ergo as sobrancelhas para ele. — Mas, sim, eu iria. 

Gabriel prende a respiração, como se não acreditasse. Eu falei que não queria conversar sobre isso. Ele ficaria irritado, magoado e extremamente ressentido. E, por incrível que pareça, eu não quero isso agora. Apenas gostaria de me deitar no sofá e descansar com alguém me fazendo cafuné. 

COMO VOCÊ FARIA ISSO, KARSON? — grita e eu fecho os olhos, só afirmando o ponto que falei acima. — ME AFASTAR DO MEU BEBÊ! NÃO ME DEIXAR AO MENOS SABER? — continua berrando e eu puxo o máximo de ar que consigo. Não posso nem cogitar me estressar. Depois da bebedeira desenfreada, os estresses com o Blake e toda aquela cena no quarto do hospital... Minha gravidez, obviamente, se tornou de risco. Qualquer coisinha e eu perco essa linda criaturinha que está em desenvolvimento no meu ventre. Mas, ele não sabe. — ME RESPONDA! 

— Me dá o pote de sorvete? — peço, meu tom de voz baixo contrastando com a gritaria dele. Estava querendo chorar, eu só queria o pote de sorvete e que ele me entendesse. É tão difícil pedir isso? — Por favor... — meus olhos marejam e o observo entreabrir a boca, perplexo.

Ele estende e, entre soluços, eu como mais uma colher daquela delícia. 

— Emma... 

— A gravidez é de risco, Gabriel. — as lágrimas escorrem pelo meu rosto sem eu ao menos ter controle sobre elas. — Não posso me estressar com você, por mais que me irrite. Então não me peça para te dar uma explicação que vai te machucar, porque eu não quero te magoar, porra! — exclamo e sinto os braços deles me envolverem em um abraço.

Encosto a cabeça no ombro, inspirando seu cheiro.

— Eu também estou assustado, Emma — ele sussurra e escuto um leve tremor na voz dele. — A um mês e meio atrás estávamos selando um contrato que mudaria as nossas vidas, mas eu nunca imaginaria que seria dessa forma. Com todo esse desenrolar. 

Soluço e meus ombros sacolejam levemente.

— Vai tudo ficar bem, bebê — desce as mãos por minhas costas, apertando de forma reconfortante. Era disso que eu precisava. Um abraço. Palavras simples. E um apelido horrível. — E se for uma garota, você prepara...

— O quê? — pergunto, me afastando e fugando um pouco. 

Ele se encosta no sofá, tirando a camiseta de forma desleixada e se livrando do cinto. 

— Prepara o meu enterro. Porque se você sozinha já me dá trabalho... — ele meneia a cabeça, pegando a minha colher, protesto com o olhar e ele rouba uma colherada, lambendo-a de maneira safada. Não disse. Esse é o verdadeiro Gabriel Blake. — Ela vai me fazer ter um infarto. 

Eu ri, pegando meu sorvete de volta e descansando os pés no colo dele, Gabriel deixa uma mão em cima da minha barriga. Queria não achar o gesto bonito e achar o olhar negro que brilhava de forma tão intensa feio e sem graça. Mas tem algo nesse homem que me faz lembrar o garoto que eu conheci quando ainda era uma menininha insegura, o único que, por mais que fosse por interesse, se aproximou de mim e fez amizade. No fundo, o rapaz brincalhão ainda estava ali, do mesmo jeito que a garota doce permanece adormecida dentro de mim. Só que ambos preferem ficar escondidos, no escuros e perdidos no meio da bagunça que nos tornamos.

Mas sem nunca perder a nossa essência. 

— O que você tanto olha? 

Sorrio, pousando minha mão sob a dele. 

— Que não importa o sexo, contando que tenha os seus olhos. 

E que você vai ter que aceitar viver com cinco homens. 

Porque não vou abrir mão de nenhum.

Nem do Alex. 

Todos eles compõe quem eu sou e são as pessoas que me lembram o porquê de estar fazendo o meu trabalho, porque virei agente, porque sou tão confiante e porque sei o que é amor. 

Porém, essa parte eu apenas pensei, resolvendo guardá-la pra mim e expô-la em outra hora. 

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora