Capítulo 50 · Emma Karson ·

4.4K 707 72
                                    


Alguém deveria escrever um ensaio só sobre o quão gélido e, ao mesmo tempo, quente, os olhos de Yuri Reich podem ser. 

Penso isso de modo sincero porque bastou apenas dois minutos em um banco de trás com ele — não do jeito que estão pensando, safadinhas  —, para eu me sentir estupidamente intrigada. E sempre que acabo achando algo interessante, me fodo no final. 

— Isso é um tipo de sequestro ou o quê? — bufei, impaciente. A risadinha do Igor encheu o ambiente fechado do carro e o outro Reich só cruzou os braços por cima do peitoral, me encarando com a sobrancelha erguida. — O que é, Yuri? Não tenho medo de cara feia. 

— Deveria ter. — se inclinou, descansando os braços sob os joelhos e exibindo os bíceps debaixo do terno sob medida — Você mais que ninguém sabe o que nós somos capazes de fazer. — até a voz do homem tinha um "quê" de, "se-você-mexer-comigo-vai-acabar-mortinho-da-silva". E eu não sei porquê essa minha mente doentia não consegue sentir a quantidade de medo adequada para eu me desesperar como uma mulher normal e chorar.

Posso estar sendo coagida a ficar dentro desse carro, meu rastreador pode estar desligado e, mesmo assim, a companhia de dois assassinos/traficantes/dois principais e mais procurados homens que estão no top cinco da Interpol, não me afeta ao ponto de me deixar histérica. 

Até porque, fui eu que causei esse encontro. 

— Sim, eu sei do que são capazes... — comecei, entortando a boca com desgosto. — Só não sei se está falando dos  assassinatos de civis e agentes ou a habilidade primordial que os Reich tem em deixar uma mulher insatisfeita. 

O carro freou e dois pares de olhos me fitaram com ultraje, como se não acreditassem que eu realmente tivesse falado aquilo. 

Fingi uma careta de susto, tapando a boca.

Oh, eu falei algo que os incomodou? — se eu morrer, favor colocar na minha lápide que morri como uma mulher que estava brincando com fogo. Ou melhor, com o Gelo e Gelinho. 

— Para uma Agente mulher você parece não ter o discernimento necessário pra se manter viva. — Igor franziu o cenho para mim, descansando as mãos no volante. — Se você ainda não percebeu, está em um carro com dois assassinos que estão putos por você tê-los enganado. Não tem mais o GPS da agência de merda onde trabalha e, muito menos, está em vantagem. Somos dois contra uma. 

Yuri complementou o discurso do irmão com um sorriso e me limitei a revirar os olhos, sorrindo. E mexendo as mãos que minutos antes estavam nas costas, presas com uma algema convencional. 

— Se eu quisesse sair daqui, já teria feito esse carro capotar com vocês dois dentro. — acenei, balançando meus dedinhos e eles perderem a cor. — Ah, por favor. Não sou qualquer agente. Sou Emma Karson. 

Igor deu partida, virando de costas e tentando esquecer o fato que eu me soltei. Os olhos flamejantes do meu querido Reich mais velho me analisaram de maneira crua e intensa. 

— Na sua ficha mostra que não nasceu no meio... — disse, semicerrando os olhos.

Dei de ombros.

— Não nasci e nem precisei passar por todo aquele treinamento intenso. E, antes que pergunte... — ergui um dedo. —... Também não servi ao exército ou coisa do tipo.  Apenas fui um achado extraordinário para o Serviço Secreto e afins. — pisquei e ele me fitou boquiaberto. 

— Porque nos atraiu até o parque? 

Ri.

— Estou dando-lhes uma chance irrecusável. — levantei uma sobrancelha e os dois irromperam em risadas, o que já era esperado, visando o fato que acham estar no comando de toda essa situação. 

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora