A faísca ou prólogo, seja lá como quiser chamar.

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 11 ANOS ANTES.

— Eu definitivamente não sei como te agradecer...— O rapaz agarrou a prova como se o pedaço de papel fosse o próprio óscar. Parecia uma hipérbole, mas não esperava que, em pleno penúltimo ano do colegial, poderia sair para passear, ignorar as aulas e mesmo assim, ter o caderno em dia e uma prova beirando a nota máxima. 

Mas quando a vida resolve ajudar, ela não dorme em serviço.

— Credo, garoto! — A menina, por sua vez, empurrou o óculos de armação enfeitada, com a face convertida numa careta engraçada. — Já disse que não precisa agradecer! — "Mas pode, se quiser" quis acrescentar, porém se calou. Os pulsos doíam do esforço repetitivo e a cabeça também. Ela não escrevia somente para um, ela não podia mais pensar apenas em si mesma, agora tinha outra vida acadêmica para cuidar.  

Ele suspirou, dando uma risada e sentando no birô desocupado na frente da garota. Ela apenas o encarou, se perguntando mentalmente o porquê de ainda estar o ajudando, ela se cansava e não ganhava nada em troca! Talvez a amizade? Se é que isso pode se chamar de amizade. 

— Se você fosse bonita e gostosa como aquela sua colega eu te agradeceria com beijos,  mas já que não é, fica o meu obrigado... — Diz, dando de ombros e já se levantando, para sair. Estava com vontade de saltitar e esfregar aquela nota na cara dos amigos, mas uma voz o impediu. 

— Gabriel Luca Blake. — A jovem diz e Gabriel da meia volta como se estivesse sido comandado por um controle remoto, rodopiando de um jeito cômico e um pouco ágil demais para o corpo magro suportar.

— O que foi, Emma? — Ela tentou ignorar o tédio na voz dele. Acho que tentar era a palavra certa para esse último da sua vida. Ela tentava emagrecer, tentava conviver com as pessoas, tentava ser boa em tudo que faz e ainda mais tentava tirar notas ótimas por dois. — Aquela caloura gostosinha está me esperando lá do outro lado, eu tenho que ir e mostrar essa prov...

— Vem cá, criatura e faz o favor de largar essa sua maneira baixa de adjetivar as minhas amigas! 

A contra gosto, ele se aproxima. 

Para ser sincero, só era amigo da famosa "sabe tudo" Emma Karson por quatro razões. 

A primeira, ela era inteligente. 

Segunda, ela fazia suas provas, deveres, trabalhos e lições sem nem reclamar ou protelar. 

Terceira, ela andava com algumas das gostosas da sala. 

Quarta e última, sabia conversar e era muito legal. 

E nenhuma dessas razões falava da sua beleza. Ou da falta dela, na visão do rapaz. Ela só era mais uma daquelas nerds e que ainda por cima era gorda, agradecia a Deus toda manhã por ela nunca pedir nada mais... Íntimo em troca. Ficaria traumatizado pelo resto da vida.

Emma tomou a prova da mão de Gabriel, que arregalou os olhos, pensando em um segundo que ela poderia estar tendo um tipo de ataque de ciúmes, ou epifania e rasgando a prova que estava com uma nota tão boa. A garota conseguiu enxergar isso nos olhos castanhos-escuros dele.

 A petulância do jovem a deixava impressionada. 

Ela apenas dobrou o papel e o observou respirar aliviado. Estendeu novamente e ele rapidamente o pegou. Franzindo o cenho de uma forma que Emma considerou até engraçadinha. 

— Antes que pergunte... — Ela se adianta, sorrindo. — Se você mostrar a prova toda, ela provavelmente vai identificar que a caligrafia é feminina, deixe-a ver apenas a nota e se vanglorie a vontade... — Explica, vendo o entendimento arrebatar o rosto do garoto e ele rir, aquiescendo várias vezes. — Ah, quase que eu me esqueço... — Coloca um saquinho com que Gabriel logo identifica ser comida e refrigerante junto com a combinação de pastilhas caras que ele gosta e que, na verdade, foi uma ideia dela. Juntar drops melância com a de sabor cereja. 

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora