Capítulo 86 · Gabriel Blake ·

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— Você disse que ama a Emma? Eu ouvi bem naquela hora?! — depois de quase meia hora de silêncio, a voz do Phill soa no ambiente refrigerado da minha McLaren.

Sorrio largo, pressionando contra o meu joelho o pequeno saco de ervilhas que uma garçonete compadecida com a minha situação me cedeu e giro o volante com mão livre, fitando a estrada com o coração ainda palpitando dos momentos anteriores — e, com toda certeza, o joelho reclamando do chute que levei.

— Sim, eu disse! — exclamo, fazendo uma curva. Estava indo para mansão, resolvi dar um espaço à Emma, deixá-la respirar um pouco. Os últimos dias foram intensos e ainda mais depois da intriga que minha mãe causou e a foda sensacional que ela empatou.

Mas tudo bem, eu tenho paciência.

A mão dele encosta no meu pescoço e eu me viro, lançando um olhar desconfiado.

— Ei cara, você tá bem? — pergunto.

Phillip arregala comicamente os olhos.

— Eu que te faço essa pergunta! — enruga a testa — Passou tanto tempo negando o sentimento que até eu pensei que realmente não sentisse nada...

Pisco.

— Sou um ótimo ator... — gargalho e solto o ar — Mas, por incrível que pareça, eu não sabia o que era estar apaixonado até não conseguir ficar mais de um dia longe daquela maluca... — não era só a gravidez da Emma, era algo a mais, o sorriso, o jeito autêntico... Até porquê, qual é a mulher que chuta o namorado lindo e gostoso por causa de um hambúrguer?

Obviamente, para a minha sorte — ou azar? — a Karson.

— Uma maluca com licença para matar — lembra, me fazendo soltar uma risada — Ela quase atirou em você por causa de comida...

Dou de ombros, quase morrendo de rir ao notar o olhar horrorizado do meu amigo.

— Semana passada, ela tentou me acertar com todas as facas existentes na cozinha, só porquê disse que não compraria pizza de chocolate com catupiry para ela — digo, tranquilamente, porém me lembro que na hora eu só faltava me ajoelhar e pedir a Deus para que aquela vontade insana de comer pizza que ela estava tendo passasse ou, que todas as facas acabassem... E como Deus é pai, não sobraram mais facas e ela se acalmou. Só me dando umas unhadas. — Acredite, é melhor ela ameaçando ou berrando, do quê calada... Ela se ocupa me xingando. — paro no sinal vermelho, fitando a cara de bunda pensativa que o Phill estava fazendo.

— Vocês são os opostos mais parecidos que já conheci... — fala e eu sinto meu cérebro dar um nó com a frase meio filosofada que solta. Quem diria, Phillip Richards filosofando sobre o amor. Alguém bate palmas, por favor?

— Isso foi muito contraditório. Como podemos ser opostos e parecidos ao mesmo tempo? É impossível! — ri, dando partida novamente, já podia ter o vislumbre do enorme portão com o "B" gigante encrustado.

Minha mansão não é exagerada... Só um pouco excêntrica. E pensando em "excêntrico" tenho que lidar com a minha mãe e colocá-la em seu devido lugar.

Phillip suspira.

— Pode ser impossível, mas vocês fizeram acontecer — abana as mãos — O que importa é que vocês se amam e todo esse blábláblá clichê que já sabemos... — revira os olhos e fita a minha perna. — Mas te aconselho a fazer um seguro de vida, sabe... Só por mais seis meses, até ela ter os gêmeos... — cita os dois Blakes que estão vindo e, de modo imediato, tenho vontade de babar, só de pensar em duas crianças minhas e da agente Especial que roubou meu coração.

— Acabaram de organizar as armas? — nem preciso olhar para saber que ele assentiu.

— Os Reich insistiram em terminar o serviço e fizeram a Melina prometer que não iria contar. — comunica com seu característico tom profissional. — Agora é só esperar a linda Blake-Karson nascer para zelá-la veemente. — continua e eu sorrio, atravessando os portões da minha casa.

E do nada, um pequeno questionamento sobre a estadia da minha mãe nas Bahamas me atingiu.

— Phill... — faço uma breve manobra para estacionar o carro na garagem — Quando você foi buscar a minha mãe lá no cativeiro, o que viu? — pergunto, engatando a marcha e me virando para fitar a cara de descrença do Richards.

— Não sabia que um hotel beira-mar e cinco estrelas era cativeiro... — coça nuca e eu enrugo a testa, dando de ombros, vai que ela tinha que ficar presa lá, só a pão e água. — Olha, eu não sei o que seu pai disse que fez com ela, mas a mulher não parecia estar sendo maltratada... Pelo contrário, até reclamou algumas vezes no meio do caminho por deixar o lugar "paradisíaco" dos seus sonhos para voltar à fria e indiferente Washington D.C.  — ergue as sobrancelhas.

A probabilidade do meu pai ter mentido é grande e, pelo que desconfiei, acho que ele nunca seria capaz de machucá-la. O homem que quase morreu para ficar com a prostituta do chefe não a largaria e muito menos a espancaria. No entanto, se isso tudo for mais uma armação daquele ser doente, tenho que bater palmas para ela.

Minha mãe não merece um único Oscar, acho que uns quinze só por "melhor enganação".

— Já está formando as paranoias, não é?

Aquiesço, minha mente estava fervilhando e amarrando várias pontas soltas.

— Só não faça besteiras, lembre-se que a situação dela com a Emma é mais delicada ainda, pois sua querida progenitora não aceita o fato que a mãe dos seus filhos é acima do peso que ela considera "perfeito". Apesar de notar que poderia arrancar o seu coração do peito, se é que tem um, para dá-lo a Emma, sei que a Mia é sua mãe e vai ficar difícil. Vai ficar entre a cruz e a espada. — faz referência e eu reviro os olhos, soltando o ar e tentando não me preocupar tanto com isso.

Remexo os ombros.

Quer saber?  Vamos ver o que vai se desenrolar no decorrer dos meses — digo por fim, acenando de maneira decidida — Não vou agir por impulsos, calcularemos consequências e todas as variáveis possíveis. Como numa boa estratégia de exportação — pisco, ouvindo a risada dele — É cara, mas nesse tempo ficaremos de olho nela, minha mãe não está parecendo uma pessoa que voltou de um quase sequestro de décadas.

— Também acho estranho, Blake — concorda comigo, já se preparando para sair, repito o gesto dele, suspirando — Então é isso? — questiona para ver se é realmente isso que desejo.

Afirmo com convicção.

— Observar e esperar, amigo —  balanço a cabeça — Acho que nada tão grande pode acontecer, já esgotamos a nossa cota.

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora