Capítulo 41 · Gabriel Blake ·

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Uma mão escorregou pelo meu rosto e eu abri os meus olhos, a claridade da janela iluminava o quarto e deixava o cabelo levemente cacheado dela meio dourado, como se Emma tivesse acabado de fazer luzes. 

— Você acordou... — ela sussurrou de modo terno e carinhoso, o que me fez estranhar um pouco. Já que ela foi atender um telefonema ontem e no meio tempo que ela conversava com a mãe, eu acabei dormindo. Talvez por ter levado uma surra e ter dado também, estava entupido analgésicos... E cansado. 

— Ficou me olhando dormir? — perguntei, bocejando e tomando espaço para me espreguiçar. Meus punhos latejavam, mas os cortes no rosto pararam de doer. De relance percebi que o roxo da cara dela estava ainda mais intenso. — Falei algo no meio do sono? 

Ela parou pra pensar e eu fiquei um pouco tenso. 

Vai que pedi ela em casamento enquanto dormia? 

Sabe-se lá o que nosso subconsciente guarda...

— Olha, você pediu uma pizza dizendo que estava com fome, me abraçou como se eu fosse um ursinho de pelúcia e falou que eu era a coisa mais linda que já viu... — riu e eu a fitei intensamente.

— Ainda bem que não falei nenhuma mentira. — sorri, acariciando levemente onde aquele babaca a atingiu. — Desculpa por todo aquele tempo, quando eu te tratava como um lixo, como apenas uma fornecedora de notas boas e dinheiro...

Ela se desviou da minha mão, fechando a cara e se concentrando em outro ponto do quarto.

Soltei o ar.

— Emma não negue isso, por favor. Desde que éramos adolescentes você devia sentir algo por mim. — tentei atrair o olhar dela, mas parecia perdida em pensamentos. — Não era possível que me ajudasse tanto, me desse dinheiro... E aquelas coisas pra o cabelo,  sem querer nada em troca. Mas, mesmo conversando as nossas sacanagens, você nunca chegou para propor algo...

Finalmente, Emma me fitou.

— Não é uma boa ideia lembrar desse tempo, Blake. — se levantou, a camisola rosa bebê dava um ar inocente as curvas dela e a luz do sol ainda a deixava mais incrível. — Você era um adolescente babaca e eu uma menina boba. Os tempos mudaram, não estamos aqui para viver de flashbacks, apenas vamos seguir em frente. Ok? 

Balancei a cabeça.

— Nós temos que falar sobre isso, Emma! — segurei o braço dela antes que pudesse entrar no banheiro. — Você ignora seus sentimentos, os meus... Os de todo mundo!  É por causa disso tudo que passou? Pelo que sinto? Dessa confusão entre os Reich que te meti?

— Não, não, não... — puxou o braço de volta. — Só foi porque estou com saudade da minha família. Faz um tempo que eu não a vejo e eu falei com a minha mãe ontem, o que me fez ficar com ainda mais saudade. — falou mais baixo e eu semicerrei os olhos. 

— Você não está fugindo do assunto, certo? — pergunto, a encarando. 

Emma suspirou, puxando meu braço e sentando na cama. 

— Quer falar sobre o passado, então vamos falar sobre o passado. 

Enruguei a testa.

— Por que fazia tudo aquilo por mim? — perguntei e ela sorriu fraco, me olhando de forma intensa.

— Nem eu mesma sabia, mas no fundo, eu gostava de você. — respondeu, soltando o ar e inclinando um pouco a cabeça. — Acho que eu pressentia que, no futuro, você ia se tornar o meu tipo exato de cara. — riu. — E você? 

Dou de ombros. 

— Eu sempre fui um babaca, não posso mentir te dizendo que sentia algo por você. — ela ergue as sobrancelhas e seguro suas mãos. — Desculpa. Não quis soar frio. Mas você sabe, eu nunca me apaixonei e nem pretendia. Enquanto sua vida era livros, música e estudo, a minha era... Bem, nós sabemos...

Ela riu fraco. 

— Sim, sabemos. — sorriu e apertou minha mão. — Eu tenho uma memória ótima e lembro de quase tudo. Da peça de Literatura que fez eu me aproximar de você... 

— Falando nisso, o papel principal não era daquela ruiva gostosa? — digo, me lembrando daquele ano. — Você cuidava de tudo, sempre fez os melhores trabalhos e escolhia sua equipe a dedo! Mas, lembro que magicamente, passou de narradora pra atriz! — aponto, rindo. 

Ela fez tudo isso pra ficar perto de mim!

— Foi tudo premeditado? 

Karson aperta os lábios, prendendo o sorriso.

— Sim. Eu planejei aquilo. Desde a escolha do conto, até o que eu iria fazer pra atuar com você.

Balancei a cabeça, rindo como um idiota.

Aí, Deus... — ofeguei, ainda imerso nas risadas...

Ela se rende e também ri.

— E o tapa na cara? —  lembra e eu faço careta, lembrando do tapa que era pra ter sido apenas técnico e doeu mais que tudo. 

— Você realmente baixou a "esposa traída" e até esqueceu o texto, improvisou tudo! — as imagens vem com clareza na minha mente, a versão mais nova da Emma, na minha frente esbravejando. — E quanto mais eu ia pra trás, mas você vinha pra perto... Me deu medo! 

— Eu estava canalizando a minha raiva ali... — pensou um pouco e me encarou. — Aquela apresentação foi épica. 

— E dolorosa...

Rimos. 

— Ah e na vez que eu estava assistindo uns slides na aula de Biologia, com o pé na sua cadeira, já que fez questão de se sentar na minha frente só pra irritar... 

Molho os lábios, lembrando.

— E seu pé, subiu, subiu e esbarrou "sem querer" no meu pau. — sorrio malicioso. — Você sempre foi muito safada, dona Emma! Ainda mexeu os dedinhos! — ela riu, piscando pra mim. — Eu fiquei excitado na hora! Era um adolescente entupido de hormônios e você ainda atiçou... Lembra o que eu fiz também? — estalei a língua.

— Quando eu parei e desci o pé, você tirou o sapato, se ajeitou na cadeira e repetiu o meu gesto... — ela fechou os olhos, se deliciando com as lembranças. — Mas o sinal tocou e nós largamos... 

— E você foi embora como um foguete desvairado...  

— Eu fiquei com vergonha! — reclamou, batendo o ombro no meu. 

Suspirei.

— E você realmente fode como escrevia. — tive que admitir. — Seus textos me deixavam duro em segundos... Mesmo quando eu tentava colocar na minha cabeça que você era "gorda, feia"...

Ela sorriu.

— Eu não "era" gorda. Eu sou e você sempre vai sentir tesão por mim, Gabriel. Do mesmo jeito que eu também sinto por você... — colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — É um carma. Eu sonhei com você quase todas as noites, acordava molhada e frustada... Nós temos um laço estúpido e bonito. — deu de ombros, se levantando. — Só cabe a nós dois aproveitarmos o restante desse contrato...

Se dirigiu ao banheiro e eu sorri, encarando aquele rebolado até ela fechar a porta. 

Se era para aproveitar o tempo.

Vamos aproveitar em grande estilo.

7 PRAZERES CAPITAIS - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora