Ainda é sábado a noite, 13 de setembro de 2003. Permanecem na mesma varanda Helena, César e Dona Matilde. As duas parecem em paz após terem tido uma conversa franca, honesta. A senhora sabia desde muito tempo que nada seria forte o bastante para impedir que o filho se relacionasse com Helena mais uma vez, caso ela ainda o quisesse; para Dona Matilde, este retorno era certo, tratava-se apenas de uma questão de tempo. A surpresa, porém, veio de como tudo se encaixou bem, em uma sinfonia perfeita de sentimentos e paz. Por isso, ela não esperava, assim como não esperava ficar envolvida pela trama, pela situação, pelos sentimentos e, lá no fundo, gostar, tornar-se entusiasta deste núcleo familiar que começava a se configurar de maneira tão natural.
Por isso, permanecem os três ali, com ares de rotina, quando no bem da verdade, é a primeira vez na história recente que tem-se essa configuração. Mas é familiar e bom, então eles papeiam por alguns minutos sobre uma infinidade de coisas aleatórias. Dona Matilde segue em uma poltrona a parte na área externa, enquanto o casal está envolto um pelos braços do outro, com Helena aconchegando suas costas no corpo de César.
Helena: – Esse vinhozinho veio a calhar, não é? Está fresco aqui.
César: – Pois vá se acostumado, aqui é sempre frio... Por conta da mata. Morar no meio do mato tem dessas coisas. E isso que estamos quase na primavera, hein? No inverno, então... É um gelo.
Helena: – Ah, mas eu tenho certeza que esse jardim, essa vista... Compensam qualquer coisa. O frio a gente resolve assim: um vinho, uma coberta...
César: – E calor hum...
Helena: – Ah! - Ela o olha assustada e dá um tapa, rindo, em sua perna.
Helena repreende César antes que ele possa terminar a frase que remonta Petrópolis e o início dessa relação tão bonita. Mas Dona Matilde entende que dali, viria uma sacanagem e, por isso e pela reação de Helena, ela se junta aos dois nas risadas. Como é bom, como é bom ver esse clima leve e em paz no coração dele, ela pensa.
César: – Amanhã você vai ter tempo de conhecer melhor. No dia do churrasco você não chegou a ir até a piscina, chegou?
Helena: – Não, meu bem. Estava com... Haha, com pressa para ir à Petrópolis.
César passa a língua pelos lábios - não se sabe se de desejo, se por recordar alguma coisa daquela situação ou se é pelo esforço para conter mais algum outro comentário coberto de malícia. Mas ele umedece os lábios, há uma esfera safada gostosa no ar; Helena ri. Ele continua.
César: – Amanhã a gente dá uma volta, pode ser? Quero te mostrar tudo.
Dona Matilde: – Ah, você vai gostar, eu tenho certeza. A vista de lá agora a noite também é muito bonita, é uma pena que quase nunca ninguém vai lá para baixo. O César, então... Deve fazer anos que não frequenta a outra metade da casa: é da Clínica para o quarto, do quarto para a Clínica.
César: – Quê isso, mãe? Tá tentando fazer a Helena desistir do casamento? - Todos riem, descontraídos. - Mas a senhora tem razão, foi um período... Complicado. Agora eu preciso criar novos hábitos, tô me sentindo estimulado.
Ele olha pra Helena e dá aquela piscadinha sem vergonha de sempre. É um recado, o qual a mãe capta com maestria.
Dona Matilde: – É, eu estou vendo. Um belíssimo estímulo, por sinal. - Troca de sorrisos entre os três. - Bom, vou deixá-los a sós e ver se as crianças precisam de alguma coisa, se ainda estão inteiros naquela cozinha...
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Lacunas e Desfechos.
RomanceEsta estória é inspirada na novela e se desdobra em vários capítulos, com a intenção de complementar o enredo deste casal tão querido - sem que haja, no entanto, modificações na trama original. Sabe aquilo que você sempre quis ver na novela, a ce...