70. [Lacunas] Parte 55

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*Este capítulo está sendo repostado após Lacunas & Desfechos ter sofrido uma exclusão sem precedentes de setenta partes da sua história, quando contava com mais de cem capítulos e 130k de visualizações. A pedido de vocês, L&D continuará - sempre!

Boa leitura. Com carinho,
Lívia.
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A comemoração é pautada pelo toque elegante do Archie Semple e seu clarinete harmonizando um bom blues. O salão mais sofisticado do hotel é o da cobertura. Há um desnível separando a recepção e o salão em si através de uma sequência de uns dez degraus, os quais compõem uma escadaria larga de mármore branco. Toda essa parte de credenciamento, entrevistas, banners e espaços para fotos fica nesse patamar, enquanto a celebração acontece mais abaixo.

Há poucos elementos decorativos, posto que o local por si só já é bem elaborado. O pé direito é alto, há imensas portas-janela de vidro que delimitam a parte interna e o saguão. Em ambos os espaços, luzes mais baixas e aconchegantes iluminam a festa e harmonizam com os jardins naturais. Mesas com toalhas em tom champanhe são dispostas, são poucas e selecionadas para os médicos mais célebres do evento, os quais têm seus nomes marcados. César tem uma mesa, claro. Para os demais, há assentos mais informais, pequenas salas e ilhas com assentos acolchoados, bistrôs... Tudo de uma maneira que reflete sofisticação e aconchego.

Enquanto Helena se distrai ainda na entrada, César está nessa parte de baixo se divertindo em uma conversa aleatória com Otto e Pedro. É quando este, observador, sempre atento ao que acontece ao seu arredor, comenta com os amigos.

Pedro: Não... Não é possível.

César: O que, Pedro? Foi algo que eu disse?

Otto: Eu sei que essa história do meu paciente parece coisa de filme, mas eu juro que é verdade, cara.

Pedro: Não, não estou nem ouvindo o que vocês dois estão falando mais, hahaha. Tenho coisa mais interessante para prestar atenção. A mulher sobre quem eu falei agora há pouco, a que eu vi mais cedo. Acabou de entrar.

Otto: Ah, é? Cadê?

Pedro olha para o horizonte, vidrado. Otto e César tentam acompanhá-lo, procurando para onde ele olha e o que ele vê.

Pedro: Engraçado, eu não achei que ela tivesse algo a ver com isso aqui, porque não a vi em nenhum desses dias.

César: Deve ser convidada de alguém.

Pedro: Pode ser, pode ser.

Otto: Vai nos mostrar ou vai guardar só para você?

Pedro: Hahaha! Deveria, porque você com esse olho azul aí e o César com essa lábia... Mas ela está ali, na recepção.

Ele aponta com o dedo, usando a mesma mão que sustenta um copo de whisky. Os olhos dos dois amigos se dirigem para aquela região tentando entender quem é a dona dos elogios e encantamento de Pedro. O evento tem majoritariamente um público masculino, mas naquela região há algumas mulheres, de tal forma que eles não têm certeza sobre quem ele fala.

César: Qual delas?

Nessa fração de segundo, exatamente depois de perguntar e seguir passando os olhos sobre as mulheres para ver se decifrava sobre quem o amigo falava, é que César reconhece Helena.

Por um momento, ele fica na dúvida, como se não acreditasse no que vê, afinal... Qual seria a probabilidade dela aparecer do nada em São Paulo, justo naquela noite, a última do evento? Helena está de perfil, linda... E ele a flagra bem naquela cena em que ela acaricia uma de suas fotos com afeição, alongando os dedos pela imagem de seu rosto no banner. Ele sorri. Ter as declarações, beijos, desejos e ímpetos de Helena explicitados para ele, com ela em seus braços, ao pé do ouvido, é sempre maravilhoso, mas aquela ocasião... Ser telespectador passivo de uma cena na qual, com gestos, ela se declara de forma velada, sem ser diretamente pra ele, sem a pretensão de causar efeito, quase em sigilo... Ali é como se tudo aquilo que ela sempre disse desde o reencontro se reafirmasse, como se o amor se confirmasse. Ele nunca cansa de ver Helena apaixonada e, por mais que ele estivesse, por segundos, descrente do que vê, confundi-la seria impossível.

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