74. [Lacunas] Parte 59

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*Este capítulo está sendo repostado após Lacunas & Desfechos ter sofrido uma exclusão sem precedentes de setenta partes da sua história, quando contava com mais de cem capítulos e 130k de visualizações. A pedido de vocês, L&D continuará - sempre!

Boa leitura. Com carinho,
Lívia.
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Sexta-feira, 12 de Setembro de 2003.

É a manhã posterior ao último dia de congresso, o dia em que Helena chegou de surpresa para prestigiar o amado. O celular desperta pontualmente as 5h30 e ela logo procura abafar o som do aparelho para não acordar César. O voo dela está agendado para o início dessa manhã e ela sabe que, apesar de não estar tão distante assim do aeroporto, tem pouco tempo. Nesse movimento todo, César sente o corpo dela se retirando da cama e, num ato reflexo, por instinto, sem se quer acordar, os braços dele se enrijecem no entorno do corpo dela, trazendo-a de volta. Helena sente o enrijecer dos músculos apertarem-se contra a sua cintura, os dedos cravarem contra a barriga, o peito sempre convidativo formando um ninho para as duas costas.

Parece um agir aleatório, algo corriqueiro, muitos diriam, mas... Há um significado, ela sabe. Aos César se descortina das poses e medos de tal forma que o homem que hoje se relaciona com Helena, não é nem a sombra daquele a quem ela encontrou pela primeira vez no início do ano. Porém, mesmo mais livre, livre inclusive para declarar-se, declarar-se como ontem, há coisas que ficam no campo interpretativo e não são necessariamente verbalizadas.

É o caso daquele movimento. De alguma forma, é como se o corpo de César não quisesse ver Helena partir de novo, tal como já partiu uma vez. Ela o conhece tão bem que percebe exatamente o que aquilo quer dizer e, segurando o riso, desliza seu corpo de volta pelo lençol de cor clara, se agarrando nele. Por senti-la próxima, ele relaxa e chega inclusive a virar o corpo para o outro lado, dando de costas para Helena enquanto deita-se de lado. Ela percebe que ele está na iminência de acordar, apesar de ainda estar mergulhado no sono e encosta seu corpo por de trás do corpo dele, juntando-os em um abraço. Helena fecha os olhos e fica se ocupando de fazer carinhos no peito de César para que ele volte a dormir de verdade, enquanto se embebeda com o aroma que exala de seu corpo e cabelos.

Helena: Dorme, meu amor.

Há o princípio de um resmungo, como se ele ouvisse e tentasse se comunicar com ela.

Helena: Hu, não. Shhh... Dorme, eu estou aqui.

A voz é rouca e no pé do ouvido. Ali, ela se demora o quanto pode. Nesse meio tempo, Helena ainda beija uma vez ou outra o corpo dele e os beijos acontecem a medida em ela se envolve em algum pensamento. O de agora, por exemplo, fluiu da necessidade dela de amá-lo, de distribuir carinho após recordar-se do discurso dele na noite anterior e como ele o fez pra ela. "Minha mulher". Aquilo ecoa doce, faz o coração dela palpitar forte. Helena chega a se emocionar de novo, dos seus olhos escorrem algumas insistentes e abundantes lágrimas, fazendo com que ela recue com o corpo por receio de que estas o molhem e venham a despertá-lo novamente. César já dorme profundo, pesado e, por isso, ela consegue por fim se retirar sem que ele perceba.

Mas ainda há um afago. A mão se recolhe de maneira demorada, ela puxa o ar com força, como se buscasse registrar todas as notas do aroma que exala dos cabelos de César. Por fim, sua saída é silenciosa, ele não desperta, tal como ela queria.

Helena chega ao Rio no meio da manhã e vai direto para o colégio, como ela havia se programado para fazer. É próximo das 11h00, ela está em sua sala assinando alguns papéis quando Hilda telefona.

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