105. [Lacunas] Parte 90

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Depois de terem acordado embebidos de amor - e de cansaço - naquela manhã em Itatiaia após uma briga homérica, o sábado de César e Helena, como bem vimos, tem sido de ternura, diálogo e realinhamento dos pontos que os levaram a este desgaste e também de alertas e reflexões de possíveis problemas que podem ter no futuro caso não se disponham a estarem mais atento ao compromisso que decidiram assumir, nos termos que prometeram um ao outro ao longo destes últimos meses. Compromisso, por sinal, que como você, cara leitora há de se lembrar, tem data marcada: o sábado seguinte.

Mas neste, longe dos agitos do Rio, eles descansam e se cansam na cama por repetidas vezes. Ou na rede e onde mais a volúpia inesgotável do nosso casal determinar. Pela manhã, tivemos César pulando da cama muito antes de Helena para preparar, com todo o esmero elogiado por ela nas produções de encontros, um café da manhã com direito a beijos de entrada e declarações como prato principal. Almoçaram fora, curtiram um pouquinho o ritmo mais tranquilo da pacata cidade turística dando voltas e mais voltas de carro e percorrendo, assim, as memórias de Helena, tiveram uma importante, franca e emocionante conversa sobre tudo o que aconteceu naqueles últimos dias e terminaram a tarde na famosa rede: frio, aconchego, desejo e paixão se balançaram por longos minutos e terminou com os dois semi nus, esbaldados de prazer, cochilando enquanto o sol, que nem esteve tão aparente assim ao longo do dia frio, terminava de se esconder.

Esse clima de paz, silêncio e um delicioso esgotamento pós transa, é interrompido quando o celular de César, esquecido pelos interiores da casa, toca. Já sabemos que isso os acordou, os retirou da rede e que era alguém da casa dele no outro lado da linha e, por isso ele decide retornar e, Helena, aderindo ao momento de realidade e de fazer contato com o mundo externo a eles dois, anunciou que faria suas ligações também. 

César vai dar seu telefonema na área externa para não atrapalhar Helena, que utiliza o fixo da sala. Nenhum dos dois demora, mas quando ele retorna, já a encontra sentada no sofá. Só o fato dela, mesmo de costas, não esboçar nenhuma recepção, ele já acha estranho - Helena é das festas, dos risos, dos olhares e, ali, ela estava dada ao silêncio, inerte. César se senta no braço do estofado, apoiando uma de suas pernas sobre ele, ficando bem próximo a Helena. Ela permanece quietinha.

César: Conseguiu? - Ele pergunta, investigativo.

Helena: Consegui, consegui. - Uma resposta sem entusiasmo e com um jeito meio irritado, meio desinquieto.

César: E qual é o motivo do bico? - Ele questiona, com um sorriso doce.

Helena: Preocupada, meu bem. O Lucas não está bonzinho, está com diarreia...

César: Coisa de criança, meu bem. Relaxa... - Ele relativiza, tentando prover calma.

Helena: Eu sei! Eu sei. Justamente por isso. O menino nunca fica doente, mas é só passar cinco minutos com o pai, que olha aí... Certamente isso é fruto de todas as regalias que o Theo proporcionou porque com ele, meu bem, o café da manhã é pizza, o almoço é batata frita, sorvete de sobremesa e um chocolatinho de lanche da tarde. Olha...

Ela puxa o fôlego com força, como se precisasse de uma carga extra de ar para acalmar os ânimos porque até ela percebe o que César observou: a impaciência na fala, o atropelo das palavras, a subida de tom. Ainda num plano mais alto que o de Helena, mas ao seu lado, ele vê a cena toda e com calma na voz, sendo exatamente o porto de segurança que ele sempre foi, ele pondera com sensatez...

César: Não vai se estressar por isso, vai? Criança, meu bem. Amanhã ele está novo.

Helena: Eu sei, mas ele estava com uma vozinha tão manhosa...

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