Domingo, 21 de Setembro de 2003.Mais uma vez - pela terceira noite consecutiva na semana, por sinal - Helena e César dormiram juntos no apartamento dela. Estamos a um pouco mais de um mês e meio do tão importante reencontro dos dois em Petrópolis, dois meses do primeiro beijo, quase um mês da festa à fantasia, da viagem para Gramado e toda a rotina que passou a ser estabelecida a partir desses tão importantes momentos unicamente a dois: a frequência dele na casa dela, as visitas dela na casa dele, almoço com os filhos, bandeira branca estiada com Dona Matilde, saidinha de casais e toda a cumplicidade de uma vida inteira também na hora das dores de cabeça, dos problemas.
Colocado assim, em uma linha do tempo, chega ser bonito de ver como eles evoluíram tanto em tão pouco tempo. O César que subiu a serra para reencontrar o amor de sua vida para ter, quem sabe, apenas uma tarde agradável de saudade e prazer, desceu relembrando todos os pontos pelos quais jamais fora capaz de esquecê-la e certo de que não conseguiria deixá-la apenas como um quadro em suas lembranças. César desceu daquele quarto da mansão de Petrópolis sendo, como eu sempre gosto de dizer, o César da Helena, muito diferente daquele que qualquer um estava acostumado a ver; desceu tecendo projeções para o futuro, ele mesmo suscitando o diálogo de como eles fariam para explicar o romance deles a todos os envolvidos... Foi só ter Helena, amar Helena, ouvir a voz dela firme e doce desfiando o passado e diluindo risos em seus ouvidos que ele já não tinha mais forças para negar que, como bem disse a mãe em um dos diálogos: ou era ela, ou não seria mais ninguém.
E por isso, por mais que estejamos falando aí de um espaço de tempo muito curto, um 'gap' que não chega nem a cinquenta dias, é compreensível. É compreensível que a vivência de uma vida toda tenha sido compilada nesses cinquenta dias porque essa certeza de César esteve adormecida a vida toda tanto nele, quanto nela. Vinte e tantos anos atrás, eles já sabiam que aquilo ali era muito único, muito raro, muito bom e que era exatamente do tamanho de toda a felicidade e amor que cabia dentro do peito de cada um, por isso, se escolheram. Sabe-se lá por quais motivos as coisas desandaram, já que sabemos bem que os dois jamais careceram de falta de amor e desejo... Esses términos, que até então pairam sem explicação plausível, sem que a gente consiga compreender ao certo o porquê de, mesmo um sendo o amor da vida do outro, tiveram uma história tão turbulenta, tanto motivos para mágoas e para desligarem-se um do outro.
Mas voltando aos tempos atuais: são cinquenta dias, de fato; pouco, pouquíssimo tempo para se envolver e já ter tanta certeza, tanta ênfase. Mas os cinquenta dias só reativaram os dias de outrora e, talvez por isso, não pareça precipitado; é como se fossem ainda os anos 80, pouco tempo após o terceiro término dos dois. Ou talvez por ter ciência da solidez dos sentimentos e de todo tempo e angústia que passaram estando longe, é que eles tenham tanta, tanta pressa para se recuperarem e terem ainda a chance de viver o máximo que podem do outro, sem desperdiçar se quer mais um dia.
Mas hoje é uma manhã de domingo. Os dias de dormir juntinhos começaram lá na quinta, com o cinema, continuando com a sexta-feira com as crianças e, por fim, o dia de ontem, sábado, data na qual marcaram o dia da cerimônia simbólica de união e que esticaram um pouquinho bebericando drinks e jogando conversa fora no apartamento de Hilda e Leandro. Nessa manhã, o quarto de Helena amanhece parcialmente iluminado por uma feixe de luz morna vindo da janela, dando o tom do dia: céu limpo, clima quente e iluminado no Leblon.
Apesar desse clarão atingir bem em cheio a cama, os dois dormem cansados, repousados. César dorme de lado, virado para o lado de Helena enquanto esta dorme de bruços, desligada do corpo do amado, apesar de estarem próximos. A primeira movimentação na cama vem por parte do médico: ele abre os olhos, se espreguiça, fecha novamente com demora naquele misto de quem flerta com a vontade de continuar dormindo ainda e... Helena também desperta. Talvez o mover dele não tenha sido tão discreto assim ou talvez ela também estivesse acordada, lutando contra a preguiça e só decidiu de fato dar indícios de que não mais dormia quando César se mexeu.
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Lacunas e Desfechos.
RomanceEsta estória é inspirada na novela e se desdobra em vários capítulos, com a intenção de complementar o enredo deste casal tão querido - sem que haja, no entanto, modificações na trama original. Sabe aquilo que você sempre quis ver na novela, a ce...