119. [Lacunas] Parte 100, E

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Helena e César, enfim, se casaram. Se casaram em uma manhã de sábado, na casa que servirá como palco para o terceiro retorno do nosso casal. Eles firmaram este enlace em um dia cercado pelo sol de outubro, havia contornos de primavera no céu do Rio de Janeiro e cores florescendo por toda Gávea. Foi como se houvesse uma celebração do próprio tempo... O tempo, este agente hora amigo, hora algoz e que assistiu o passar dos anos em duas vidas que foram feitas para serem uma só, mas que seguiram caminhos separados. Tudo flui tão... Tão harmônico, tão sem erros, tão ausente de intercorrências de todas as naturezas que poderiam vir a acontecer que, de fato,  parecia coisa de novela.

Um grupo pouco numeroso de pessoas foram testemunha do 'sim', do beijo, dos cumprimentos, dos sorrisos... E poucos convidados, os mais atentos, assistiram quando, furtivamente, eles escaparam escada acima.

Estamos falando do último capítulo da novela, as últimas cenas que vimos, não é? Um passar pouco detalhado de uma cena para outra que deixou a todos nós com um gostinho doce de quero mais... Uma vontade de adentrar os pensamentos, as entrelinhas, o enredo, a história e ver o que foi cochichado no ouvido, a quantas se deu a tão famosa tarde de núpcias... E de repente, já havia um intervalo de tempo e já estávamos vendo fragmentos de meses depois, igualmente escasso dos detalhes.

E é justo por eles, pelos detalhes, que cá estamos. Nos debruçamos sobre a tarde de núpcias, a consumação do casamento e as mil labaredas de prazer que se ascenderam naquela suíte. Ou melhor... No banheiro da suíte. Pensando assim, talvez tenha sido mesmo uma boa ideia que as 'incontáveis e infindáveis' transas de celebração do casamento tenha acontecido em baixo d'água, não é? 

Eles se amaram. Se amaram como verdadeiramente dois amantes, se amaram como se não houvesse outra chance de se degustarem de novo, como se fosse a última e a primeira vez. Vimos Helena tirar a roupa, ser tateada até a última gota pelos dedos de César, testemunhamos ao sentar dela sobre o colo dele, as provocações, as bocas provando das sutilezas das curvas e poros do outro, ouvimos as declarações, as palavras de baixo calão que, na medida certa, só os fazia quer mais... E mais... E mais. Até que, por último, os ânimos pareciam ter sossegado e aí, acompanhamos um pouquinho a calmaria e uma conversa calma entre marido e mulher: repercussões naturais sobre a manhã, sobre os convidados, sobre o casamento como um todo. E é claro... É claro que ela, Helena, não deixaria passar sem um comentário se quer as tais cenas polêmicas que nós assistimos - e morremos de ódio, diga-se de passagem - entre Tereza e César.

Não, vamos conversar... O que é que foi aquilo, afinal? Aquela abordagem sorrateira? Tudo bem, a gente há de convir que César não foi o César interessado que vimos por vezes; está certo que ele também não fez nenhum corte... Talvez devesse, não é? Depois do que a tal cena com Tereza causou - sim, estou me referindo à Itatiaia novamente... Talvez ele devesse cortar na mesma hora, nem dar brecha para um cumprimento cortês. Demissão! Acho que é isso. Queríamos é ver ela na rua, muito, muito longe da Clínica Moretti. Mas aí a gente tem que relembrar que a própria Helena brecou o César de tomar essa decisão. Ou você não se lembra?

Quando eles acalmaram os ânimos e foram reajustar os pontos lá em Itatiaia, conversar para entender o que raios havia acontecido, César chegou a dizer que cuidaria dessa situação, que tiraria a tal moça de sua equipe. Helena discordou, dizendo que o problema não é a Tereza, mas sim... Ele, ele mesmo, o César. E não está errada. Pense comigo: tal como Tereza, quantas mulheres interessadas nos requisitos extra-medicina do doutor, aparecerão? Helena não vai conseguir ter controle sobre elas, possivelmente ela nem esteja por perto quando muitas dessas oportunidades surgirem... Por isso, sim, muito mais importante do que conter a Tereza, era César entender o lugar dele de homem casado e se dar a decência de não fazer aquilo que não gostaria que ela fizesse com ele. Ok, tudo bem... Foi só uma massagem mesmo. Mas como é que ele interpretaria a situação se pegasse outro homem à sós massageando o corpo dela, ainda que despretensiosamente? E eis aqui o X da questão: ter Tereza por perto,  Tereza com suas mil intenções, não seria um grande problema desde que ele soubesse se dar ao respeito e dar respeito a Helena. Helena não faz o gênero insegura, que perde o sono diante de uma ameaça qualquer... Ela sabe bem os laços que os une. Além disso, ela já provou muito tem para o Theo, para o próprio César e os familiares de ambos os lados que, com ela, não há rodeios: uma vez, basta. Ela corta pela raiz. E consegue provar seu ponto como ninguém.

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