Domingo, 14 de Setembro.
Dessa vez, é César quem acorda primeiro – como a maioria das vezes, por sinal. Helena ainda dorme, descansa tão profundamente que nem percebe quando ele se levanta.
Estão ambos na casa de César, após aquela diferente noite de sábado na qual Helena esteve com todo o núcleo familiar pela primeira vez e, de forma inusitada, acabou adormecendo ali mesmo. É a manhã do dia em que, há dias, havia sido programado outro evento de família: o almoço dos dois com seus filhos ali, na mansão Andrade de Melo.
Mas, voltemos: César acorda, Helena ainda dorme. Depois de trocar-se, ele sai na porta do closet e, arrumando a manga de sua blusa, ele se pega olhando para Helena. Ele solta um risinho baixo e morde os próprios lábios - só mesmo César pode contabilizar a quantidade de memórias que veio à sua cabeça vendo aquela cena, o corpo imponente de Helena em pouquíssimos trajes e afundado nas cobertas enquanto ele preparava alguma coisa para os dois. Hoje, o cenário é outro: uma casa de luxo, muitos funcionários para delegar funções... Mas as lembranças que vem são as das muitas manhãs no tal do apartamento em Ipanema, ou no de Copacabana. Ambos muito aquém da vida que têm hoje, mas César, sempre com o mesmo esmero, com o mesmo cuidado, sempre providenciou o café da manhã, em reflexo do que viu o pai repercutir com a mãe a vida toda e que, curiosamente, de forma liturgiosa, ele reproduziu apenas com ela.
Passa-se um pouco das oito horas. Ele desce e, lá embaixo, encontra a mãe já desperta coordenando alguns afazeres da casa. Ele chega para dar o beijo de sempre em Dona Matilde...
César: – Bom dia.
Dona Matilde: – Bom dia, meu filho. Você... Está com uma cara ótima.
César: – Você acha, é?
Dona Matilde: – Até cego está vendo, César.
Ele ergue as sobrancelhas. Sabe bem qual a natureza daquele comentário da mãe.
César: – Uma boa noite de sono faz milagres, mãe.
Dona Matilde: – Nos braços de quem se ama, então...
Ele só sorri enquanto puxa a cadeira da ponta - sempre a cadeira da ponta -, para sentar-se. A mãe senta-se ao lado e investiga.
Dona Matilde: – Vocês continuaram a farra por muito tempo ontem?
César: – Até que não, pouco tempo depois que a senhora subiu, nós nos recolhemos também. Foi o tempo de acabar o filme.
Dona Matilde: – E a Helena?
César: – Ainda está dormindo.
Dona Matilde: – Aqui, naturalmente.
César: – Sim, está no nosso quarto. Tive que levá-la a força pra cima.
Dona Matilde: – Você fez bem em não tê-la deixado ir embora. Imagina, tarde daquele jeito e ela com sono como estava, seria muito perigoso.
César: – Foi exatamente o que eu pensei. A Helena tem passado por muita coisa, mãe. Para ser sincero, por mais coisa do que a maioria das pessoas aguentaria. E ela não se deixa abalar, está sempre assim... Linda. Com esse sorriso no rosto.
A mãe absorve o que ele disse em silêncio. Parece refletir. Na verdade, ela junta essa fala com uma sequência de tantas outras coisas que vem notando ao longo desses meses e cenas colhidas da noite anterior. Por fim, pondera.
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Lacunas e Desfechos.
RomanceEsta estória é inspirada na novela e se desdobra em vários capítulos, com a intenção de complementar o enredo deste casal tão querido - sem que haja, no entanto, modificações na trama original. Sabe aquilo que você sempre quis ver na novela, a ce...