Domingo em Itatiaia. Enfim, domingo em Itatiaia. Você se lembra, certo? Como tudo isso começou? Se lembra de que Helena flagrou César sendo massageado por sua assistente na última quarta-feira em uma cena que, para ela, foi indigesta, cheia de possíveis significados dúbios enquanto para ele, era algo normal, sem intenção alguma que não fosse diluir a tensão da rotina. De qualquer forma, dias difíceis se estenderam: esgotada por estes e tantos outros problemas que vem, à duras penas, sustentando, Helena desmoronou diante da possibilidade de que aquele pedaço bom, o conto de fadas, a única parte estável da sua vida, viesse a ruir também. A sensação era a de que a felicidade estava em suas mãos e, de repente, podia escorregar, se esvair tal como quando a gente tenta prender uma poça de água na palma da mão, sabe? E ela não conseguia ver com clareza as coisas, nem discernir a melhor forma de proceder e, por isso, se exilou na casa de infância das irmãs Moraes em Itatiaia sem aviso prévio, sem aparelho celular e sem contar para ninguém o motivo - apenas Hilda sabia localizar a irmã, mas nem ela tinha conhecimento do que estava acontecendo.Nesse paradeiro, os dois sofreram: ela, primeiro em seu apartamento e depois sozinha na serra, revivia as traições que nem eram de César, que eram de Theo... Mas que doía por todo o conjunto, por todas as maneiras que ela fora traída e descobriu recentemente. E pensar que agora, exatamente agora, depois de tudo, poderia vir uma traição do médico, a angustiou das piores maneiras porque, aí, não seria só pela traição carnal em si, não é? Mas sim por desmoronar todo um ideal de felicidade que ela urgentemente precisava acreditar que ainda teria e que ele, César, fez questão de desenhar, de afirmar, de prometer.
Já César, fosse na mansão ou na clínica, não conseguia entender o porquê das mil recusas às ligações dele. Orgulhoso, deixou de ligar, deixou de procurar... Até saber, na sexta-feira na hora do jantar, pela boca dos filhos, que Helena realmente havia sumido. E aí, bom, você há de se lembrar: ele indo enfurecido à casa dela e descobrindo que Helena não estava... Depois, em uma gafe de Lucas, descobrindo que ela não havia dormido em casa na última noite e, aparentemente, dormiria fora aquela noite também. Remoendo mil fantasmas - desde um novo abandono, uma nova traição com Theo ou quem quer que fosse -, ele foi à casa da única pessoa que ele sabia que saberia de Helena: Hilda. E lá... Lá ele mal conseguia respirar. Diante da negativa da irmã, da continuidade do mistério, de não conseguir enxergar o que poderia estar acontecendo e, principalmente, ao receber da irmã o anel que Helena havia deixado para trás, o anel que simbolizava o compromisso dos dois, César desmoronou de mil maneiras. E se angustiou de mil outras mais, até que, comovido, Leandro entregou a localização de Helena.
A estrada era pequena para tanto medo, tanta dor e tanta ira, assim como, lá em Itatiaia, o pranto no rosto de Helena parecia não cessar. Enquanto ele ia ao encontro dela, dirigindo por horas debaixo de chuva, você sabe, Helena jantava com Otávio. Otávio cortejava Helena. Otávio tentou beijá-la em uma dança... Helena tentou deixar, mas saiu da sua tentativa de vingança corroída pela certeza de que, dessa vez, não adiantava seguir em frente porque o seu corpo não ia aguentar mais uma vez o baque de se abster do amor de César. De novo, não. Seria o que, a quinta vez que ela teria que se acostumar a dormir sem o corpo dele por perto, a amar sem o prazer que sabe que, a vida inteira, só sentiu com ele, a amar... Sem paixão? Porque tem isso, né? Agora que pudemos conhecer um pouco melhor os pormenores da história dos dois, sabemos que, entre envolvimentos, términos, viagens e abandonos, quatro pausas doloridas foram colocadas por Helena em seu romance com César: quando romperam o namoro, quando ela o deixou para viajar e os dois famosos rompimentos depois dele já estar casado com Izabel. Se colocassem um ponto final agora, seria a quinta vez.
Mas ele chegou, ele chegou sexta-feira à noite em Itatiaia. À essa altura, Helena já estava em casa amargando a certeza de que não dava mais para ser feliz sem aquele amor - e ainda bem que ela estava em casa!, porque ele chegou. Chegou sem aviso, chegou aflito, chegou com medo e ira nos olhos, aguçou a arrogância de Helena e aí, meu bem... Ela lavou a alma, desengasgou tudo o que não teve coragem o suficiente de desabar em César nesses meses de reencontro e reconquista. Foi felina, agressiva, combativa, destemida... A ira da mulher em seu mais puro estado. E ele, arrebatado pelas certezas dela, ficou quase que o tempo todo sem reagir, mas também atacou - e atacou errado, não foi? Ele tentou negar que esperou a vida toda por ela, vê se pode?! E ela... Hahaha. Ela usou o melhor dos argumentos: o agarrou com o ímpeto prepotente que ela sabe que tem e o beijou com o beijo mais ardente que poderia dar. Os dois estavam morrendo de saudades um do outro - apesar dos medos - e ali, frente a frente, com a saudade e a briga, o tesão era latente, era quase palpável. Ela esbravejava e ele só sabia devorar a boca dela com os olhos - ela via! Ela percebia. Por isso o agarrou, o beijou, gemeu no beijo, gemeu quando ele achou as pernas dela por debaixo do vestido preto, entre o tecido da fenda... Gemeu quando finalizou o beijo e ele, sedento, ardendo de desejo, a agarrou de volta uma, duas vezes. Ela gemeu quando tentava empurrá-lo e ele, com aquela teimosia deliciosa, a lambia no pescoço.
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Lacunas e Desfechos.
RomanceEsta estória é inspirada na novela e se desdobra em vários capítulos, com a intenção de complementar o enredo deste casal tão querido - sem que haja, no entanto, modificações na trama original. Sabe aquilo que você sempre quis ver na novela, a ce...