82. [Lacunas] Parte 67

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Helena: – Bom dia, Theo.

Theo: – Bom dia. O Lucas... Me falou que vocês vão... Enfim, que vão passar o dia na casa do César.

Helena: – Isso, vamos sim. Estamos de saída, na verdade.

Helena estica a mão para abrir a porta do elevador, Lucas entra e o Theo não consegue não reparar no anel que ela ostenta no dedo. Ele levanta as sobrancelhas e solta um riso pesado, dolorido... Helena olha pra ele com ares de confusão, sem entender.

Theo: – Bonito. Muito bonito o anel.

Helena: – Theo...

Theo: O Lucas... Hum. O Lucas, sempre o Lucas. Ele me falou que vocês estão pensando em casamento, é isso mesmo?

Helena respira e encosta a porta do elevador para privar o filho do diálogo. É a primeira conversa direta que ela tem com o Theo sobre o assunto desde a festa a fantasia e, bom... Há uma certa impaciência por se sentir quase que obrigada a explicar tudo de novo, a dar satisfações. Por isso, a resposta dela é direta.

Helena: – Não, nós não estamos pensando em casamento. Nós estamos marcando o nosso casamento.

Theo: – Assim? De repente?

A impaciência aumenta.

Helena: – Filho. Desce, tá bom? Espera a mamãe lá com o Amadeu que eu já passo para te pegar.

Quando o elevador escapa do campo de visão, ela retoma.

Helena: – Theo, agora não é o momento... Mas não é como se nós estivéssemos começando alguma coisa agora. Não há nada de inédito nisso, é a terceira vez que nós nos... Que nós nos casamos. Não há nada de novo: eu já vivi com ele, por duas vezes. Nós tivemos vidas juntas por muito tempo, em muitas ocasiões. A diferença é que agora nós formalizaremos essa união.

Theo: – Você... Eu posso te fazer uma pergunta?

Helena: – Ah, Theo...

Ela bate com a mão contra a própria perna e não dá nem tempo de prosseguir com o resmungo porque ele emenda logo com o que desejava perguntar.

Theo: – Você pensou nele, Helena? Nesses anos, comigo?

Helena: – Constantemente. É isso que você queria ouvir? - O ar dela é arrogante, a postura é firme. Theo se surpreende, mas ela não recua, prossegue. - Muitas, infinitas vezes. Nem sempre com desejo, muitas vezes foi só como uma curiosidade, como uma lembrança de uma vida que vivi. Nunca tive o ímpeto de procurá-lo – o que eu poderia. Nunca desejei trair você o que eu também poderia, como você mesmo fez. Mas é claro que eu pensei nele, assim como ele seguiu pensando em nós.

Theo: – E quando...

Ela presume a pergunta e, impaciente, nem espera ele completar para dar a resposta.

Helena: – Eu o vi pela primeira vez naquela noite em que saímos para jantar, logo depois do casamento do Diogo. Hum. Olha a ironia, foi você quem me apontou o César, ele estava jantando com o filho.

Theo: – Por isso naquela noite você estava tão irritada.

Helena: – Pois é.

Theo: – E quando foi que?...

Ela esbraveja com o corpo, faz uma meia volta imaginária, evidentemente estressada.

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