19. LACUNAS, parte 004

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*Este capítulo está sendo repostado após Lacunas & Desfechos ter sofrido uma exclusão sem precedentes de setenta partes da sua história, quando contava com mais de cem capítulos e 130k de visualizações. A pedido de vocês, L&D continuará - sempre!

Boa leitura. Com carinho,
Lívia.
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Domingo, 10 de Agosto de 2003.

O dia já amanhece conturbado com o inesperado chamado de Fernanda. É o dia em que ela descobre toda a verdade, exatamente dois dias após o tiroteio, após aquela manhã tão gostosa em que acordou pela primeira vez ao lado de César achando que a sua vida se resolveria.

Tudo o que Helena ouve partindo da boca daquela moça em seu leito de morte, é muito pior do que ela jamais havia ousado imaginar. Helena fica devastada e, ao mesmo tempo, em choque tanto pelas circunstâncias em que descobre, quanto por ainda não conseguir digerir a dimensão da farsa na qual ela foi envolvia. O choque piora, contudo, quando Fernanda vem à óbito momentos depois.

Como lhe é de costume, ela guarda sua dor para cuidar da dor alheia. Helena não consegue ter ódio e nem vaidades: toma Salete pelos braços após vê-la sendo destratada pela avó, mesmo tendo acabado de sofrer a perda da mãe, e a leva para casa.

Helena está atordoada, tanto que houve de Sônia que todo mundo ligou para a sua casa procurando por ela, inclusive do Doutor César e Helena não consegue nem notar, nem reagir, se quer tem forças para retornar - só quer ficar sozinha.

Mais tarde, pela necessidade de tirar toda aquela ira do peito, de desabafar, de passar alguma coisa a limpo, ela ainda arranja forças para confrontar Lorena sobre tudo o que soube... É só no fim da noite que, mais uma vez, a ligação de César vem como um alento.

Helena: Hmmm... Oi, César. Oi, meu amor.

César: Fiquei te esperando hoje.

Helena: – Eu sei, meu bem, eu sei. Me desculpe por faltar com o nosso combinado. Mais uma vez, eu não consegui.

César: Aconteceu alguma coisa, Helena?

Helena: É. Posso dizer que sim. Aconteceram algumas coisas. Parece que esse pesadelo não tem fim, todo dia, todo dia é algo novo que explode. Eu não aguento mais.

César: Agora eu fiquei preocupado. Percebi no seu tom de voz, já disse que você não consegue disfarçar nada pra mim.

Helena: Hum, meu bem. Nem que eu quisesse eu teria forças para disfarçar qualquer coisa essa semana. Eu estou precisando tanto de você...

César: Janta comigo. A gente conversa, se distrai... Posso reservar nosso hotel, o que você me diz? Eu quero ver você.

Helena: Não posso, meu bem. Hoje, especialmente, eu não posso. O Lucas ainda não dormiu, está com uma amiguinha aqui que acabou de perder a mãe... Hoje eu preciso ficar por perto. Amanhã, quem sabe.

César: Tudo bem. - César é compreensivo, mas, mais uma vez, na sua imensa inabilidade de ver Helena sofrendo, ele tenta aliviá-la com seus comentários saudosos, divertidos: - Estou anotando aqui essas suas ausências e vou cobrar, hein... Ah, Helena! Já ia me esquecendo. Você acaba de ganhar um fã.

Helena não entende nada do que ele quer dizer, mas, na verdade, César está se referindo à conversa que teve mais cedo com o chefe, na qual acabou contando a ele sobre a sua atual situação com Helena para, por fim, entrar no problema que teve com Laura.

Helena: – Um fã? Como assim?

César: O Onofre. Hoje eu contei a ele sobre nós. Tudo: passado e presente. Ele estava desconfiado, tenho certeza, quando nos viu conversando ontem.

Helena: César?!?!

Helena se assusta, fica aflita e ele se diverte, rindo.

César: Dei o primeiro passo. Você não disse, quando me ligou pra avisar que estava indo contar tudo para o Theo, que achava que eu não queria nos assumir, que eu não estava pronto?

Ele fala isso em referência a conversa que tiveram por telefone momentos antes de Theo ser baleado, quando Helena disse que estava de saída para contar tudo para o ex-marido e ele tentou contê-la, sem conseguir explicar bem seus motivos devidos à presença da Laura em seu consultório, deixando nela a impressão de que ele estava reconsiderando assumir a relação.

César: Se você quer saber, ele ficou até muito animado. Disse que eu só deixo você se eu for louco. Eu disse, ganhou um fã.

Helena: Haha, o Onofre é uma figura!

César: Mas agora é sério, Helena. Foi inevitável por conta de um problema que eu tive com a Laura. Foi necessário. Depois, com calma, conversamos sobre tudo.

Helena: Problema com a Laura? Agora eu fiquei curiosa...

César: Janta comigo que a curiosidade passa.

Helena: Meu amorzinho... Não me tortura assim. Se eu pudesse, César...

César: Você faria o que, me fala?

Helena: – César... Não me provoca... Logo hoje, que eu queria tanto seu colo.

Helena não pode ver, mas essa retraída em sua voz, esse jeitinho de quem quer carinho deixa César bobo do outro lado. Por isso, a conversa prossegue minutos com flertes, muita descontração e os dois nesse clima apaixonado. César não é nem a sombra do homem arredio que foi para a serra: conversando com ela, ele parece um menino que se apaixonou pela primeira vez. E apesar de todos os problemas que Helena enfrenta, é com ele que ela se abre, se alivia e se aconselha, dando o tom de como sempre funcionou a cumplicidade dos dois enquanto casal quando viveram juntos.

Por fim, desligam nesse clima leve com Helena bem mais relaxada. 

 

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