61. [Lacunas] Parte 46

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Helena: César?

César: Helena? Aconteceu alguma coisa?

Helena: Não, não... Huhum, não, meu bem. É que eu acabei de ver a sua ligação... Com muitas horas de atraso, é verdade.

César: Te liguei um pouco depois de chegar da clínica, tive uma emergência hoje. Minha mãe me avisou que a senhora deu o ar da graça, finalmente... 

Helena: Eu disse pra você que eu teria trabalho, poxa...

César: Eu sei, tô brincando. Me ligou a tarde, o que você queria?

Helena: É que... Você viaja amanhã, hum? Eu... Eu já estou com saudades.

César sorri do outro lado da linha, chega até a passar a língua pelos lábios, achando graça da manha que ela faz para relevar a falta que sentiu dos dois. Ouvir aquilo o deixa envaidecido e ele recebe quase como quem já esperava por essa declaração vinda dela, afinal, eles só deixaram de se ver no final de semana por uma imposição e impossibilidade da própria Helena, mas ele sabia que ela o procuraria... Parece que quanto mais eles ficavam juntos, mais difícil era dar esses hiatos. Desse jeitinho mais convencido, se divertindo, ele provoca.

César:  Saudades, é? Não me diga, dona Helena...

Helena: Muitas, muitas saudades.

César: Sei. Me abandonou o final de semana inteiro, se eu não apareço de penetra naquele almoço de sexta-feira, a essa altura eu já estaria morto de carência.

Helena: Bobo... O que você está fazendo?

César: Eu? Lendo, quase que a senhora não me pega mais acordado...

Helena: Claro. Ah, meu Deus, que cabeça a minha, imagina... Quase onze horas, você ainda teve cirurgia hoje, viaja amanhã... Nem me toquei, meu bem, perdão. Não deveria ter ligado.

César: Para com isso, Helena... Não vai me falar porque me ligou às... - Ele confere o relógio em seu punho. - Às 22h48 de um domingo?

Helena: Hum. 

Ela faz uma pausa, um charminho. Dentro dela, a razão e a vontade duelando, ela até morde um de seus dedos tentando conter, tentando decidir o que fazer. Mas quando é chamada por ele, parece que ela se encoraja de vez.

César: Helena?

Helena: – Vem pra cá.

Ela diz e espera a resposta com um sorriso malicioso nos lábios. Ele recebe o convite e até recua com o rosto, surpreso, erguendo as sobrancelhas.

César: Agora?

Helena: Imediatamente.

César: Dona Helena, Dona Helena... Deixa a porta aberta. Chego em uns vinte minutos.

Helena: Vem com calma, que eu... Eu estou sem pressa alguma.

A risada de Helena é a última coisa que ele escuta antes de desligar e, ao som daquilo, César fica embebido de amor. E de desejo, claro. Só de ouvi-la nas últimas frases, ele reconhece a gana, a ferocidade e todo o pulso daquela mulher, fragmentos de Helena que compõem a lista de razões pelas quais ele nunca conseguiu tirá-la da cabeça. César já estava deitado, pronto para dormir, mas bastou ouvir aquele chamado para despertar, se alinhar e partir ao encontro dela.

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